Leiturinha projeta crescimento e deve atingir R$ 200 milhões em faturamento
PublishNews, Guilherme Sobota, 24/07/2025
Maior clube de assinaturas de livros do país completou 10 anos e vê resultados de estratégias aplicadas nos últimos anos; expansão internacional é o próximo passo

Sede da Leiturinha em Poços de Caldas (MG): linha de montagem de alto nível | © Leiturinha
Sede da Leiturinha em Poços de Caldas (MG): linha de montagem de alto nível | © Leiturinha
Quem chega em Poços de Caldas (MG) pela Avenida João Pinheiro, no centro da cidade mineira de águas termais e sede do Flipoços há 20 anos, passa pela loja e pela fábrica da Leiturinha, hoje o maior clube de assinatura de livros do país – fundada em 2014, a empresa está na sua melhor fase, com 340 mil cadastros ativos registrados até maio de 2025, e uma expectativa de atingir R$ 200 milhões em faturamento neste ano — um salto de 46% em relação a 2024, quando somou R$ 137 milhões.

Uma das razões do crescimento consistente da empresa – que desde 2020 também produz boa parte dos livros entregues nos kits enviados às famílias, que contam ainda com outros objetos, conteúdos digitais e materiais de apoio – passa pelo investimento em mídias digitais.

"Desde o ano passado, implementamos uma estratégia contínua com influenciadores", explica ao PublishNews o sócio-diretor da Leiturinha, Guilherme Martins. "Sempre fizemos isso, mas como não é o nosso core business, não conseguíamos controlar bem o discurso e o gerenciamento, e acabava atingindo números pequenos. Em 2024, pensamos com uma agência uma solução específica para o nosso perfil. O que deu certo: sempre percebi historicamente que havia uma parcela da população que não conhecia o nosso trabalho. A pergunta era: o que não estou fazendo? Havia uma restrição de audiência. Quando passamos a trabalhar com influenciadores, aconteceu algo interessante: eles passaram a fazer as ações e vídeos em situações da vida real, e isso criou muita conexão com o público. Nosso kit não é um presente, ele é pensado como algo complementar à educação, no sentido de trazer o desejo de ler antes da obrigação. Eles captaram bem isso".

As ações, que passaram a incluir reações autênticas de crianças e familiares recebendo e abrindo os kits, com dinâmicas familiares próprias e em diferentes contextos, geraram resultados comerciais e crescimento no número de assinaturas – que atualmente tem uma vida útil de 25 meses, segundo o diretor.

Produção própria de livros

Outra mudança importante implantada pela Leiturinha nos últimos anos foi a produção própria de livros – no início da trajetória, o clube apenas adquiria livros de outras editoras infantojuvenis. Em 2020, passou a editar livros de acordo com as demandas percebidas internamente – em 2025, a produção própria corresponde a cerca de 85% dos livros entregues aos assinantes.

Segundo Martins, alguns fatores deram origem a essa estratégia. "Às vezes, havia uma dificuldade em encontrar um livro com uma temática para uma certa faixa etária, mesmo com nosso time de curadoria com vários profissionais, na análise dos catálogos. Chegou um momento em que vimos a necessidade de criar produtos. Sempre visitamos as feiras internacionais, e uma surpresa agradável foi que autores internacionais conheciam o nosso trabalho, mais do que imaginávamos. Se o autor tem um interesse no nosso trabalho e uma abertura num contrato com uma outra editora, por exemplo, nós avaliamos a situação e editamos um livro daquele autor nós mesmos. Tem também uma parte econômica interessante, porque consigo negociar uma condição muito boa que a cadeia tradicional não consegue garantir. Eu posso garantir que posso imprimir 20 a 50 mil exemplares, o que contribui inclusive com as soluções de gráfica e impressões. Vira um modelo ganha-ganha entre nós e o autor", explica.

Os Originais Leiturinha publicaram 54 novos títulos em 2024, enquanto que no primeiro quadrimestre de 2025 (janeiro a abril), 27 novas obras já foram disponibilizadas, o que sugere um aumento considerável até o fim deste ano, caso o mesmo ritmo seja mantido. Entre autores editados e distribuídos pelo selo, estão nomes como Maria Amália Camargo, Caio Tozzi, Telma Guimarães, Cristino Wapichana, Lavínia Rocha, Gilberto Gil, Daniel Kondo, Roseana Murray, entre outros. Entre os estrangeiros, estão Adèle Tariel, Luke Pearson, Ben Davis, Ged Adamson e Marta Jarque.

Detalhes das capas de alguns Originais Leiturinha | © Leiturinha
Detalhes das capas de alguns Originais Leiturinha | © Leiturinha
Mesmo com essa lógica, o diretor afirma que a ideia é sempre manter parcerias com outras editoras – até porque o Originais Leiturinha é uma editora não tradicional, que não precisa passar necessariamente pelo mercado de distribuição e livrarias. "Não queremos ficar sem livros de editoras parceiras. Temos a preocupação de o cliente ter uma avaliação alta do nosso produto, temos que manter o comparativo de qualidade", afirma.

Em 2020 a Leiturinha também expandiu os negócios internacionalmente, chegando à Europa e aos EUA, onde passou a comercializar obras em língua portuguesa para brasileiros imigrantes que não queriam perder contato com a língua nativa e a cultura brasileira.

"Em 2019, fizemos um produto piloto, com impressão sob demanda em alguns locais, mas como não dominávamos muito bem a mídia de performance lá, começamos a procurar outras soluções. Hoje, pego o kit produzido em Poços, e, com um contrato de cross-border [um acordo legal que rege as relações comerciais entre partes localizadas em diferentes países], esse produto pode ir para vários lugares. Deu certo, gera uma exposição, para ter um apelo, não significa muito para a nossa receita mas está mantido", explica.

A ideia, agora, é expandir para distribuição em outros países, especialmente na América Latina. "Outra coisa é buscar um país ou região que eu possa utilizar nosso trabalho de curadoria já realizado e atender outra audiência. Por exemplo, se tenho um contrato com um autor australiano para traduzir e publicar aqui, nada impede de fazer isso em espanhol para comercializar na América Latina. Consigo produzir no Brasil e despachar para a América Latina, em outra língua. Um estudo de curadoria já está sendo realizado, e por conta da nossa operação atual consigo fazer daqui mesmo alguns testes. A previsão é que em 2026 já coloquemos isso em prática", diz o diretor.

*Correção: uma versão anterior da matéria dizia que os livros produzidos pela Leiturinha correspondiam a 70% dos envios aos assinantes. O número correto é 85%.

[24/07/2025 09:34:34]