
Sob o tema “O ecossistema do livro”, a 33ª Convenção Nacional de Livrarias lotou a sala reservada para sua realização em todas as sessões do dia. Organizada pela Associação Nacional de Livrarias (ANL) no Hotel Lagune, no Rio, o evento tocou novamente no tema da Lei Cortez – sua pauta principal –, procurou ouvir os elos da cadeia, teve falas repetidas, mas também mostrou uma maior urgência do setor em colocar ações e mudanças em prática.
A programação se iniciou com a participação de Nicolas Roche, presidente do France Livre – The French Publishing Network, que deu um panorama histórico sobre a Lei Lang na França, projeto que já completa 45 anos e continua estruturando o mercado editorial do país.
Roche explicou que as primeiras conversas entre editores e livreiros para a construção da Lei ocorreram ainda nos anos 1970 e que não havia uma unanimidade. A união veio após a Fnac iniciar a venda de livros em Paris. A varejista montou uma loja no coração da vida intelectual da cidade oferecendo descontos de 20% na época e, em seis meses, 11 livrarias fecharam as portas.
"Na época, tínhamos um governo de direita que prontamente começou a definir que o livro deveria ser tratado diferente. Esquerda e direita tinham a consciência de que o livro é um bem fundamental”, disse Roche.

“No Brasil, observei uma destruição dessa cadeia do valor. Quando editores e livreiros brigam pelo preço, essa briga é mortífera. Lá a briga é pela oferta, pela linha editorial, pelos eventos, a briga é fora do preço e com isso o mercado conseguiu se desenvolver”, comentou Nicolas.
Dois painéis mais tarde, Luciana Borges, gerente comercial da Companhia das Letras, iniciou sua fala com o mesmo princípio. “Na visão dos editores, a guerra de preços é uma coisa absurda. Porque você lida com outros profissionais que acabam tentando tirar o valor de algo que você construiu. A gente não quer ter que limitar canais, não tenho dúvida de que a Lei vai ser benéfica para todos nós”.
A mesa com Nicolas Roche também contou com a participação virtual da senadora Maria Teresa Leitão de Melo (PT-PE); de Jéferson Assumção, diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do MinC e de Fabiano Piúba, Secretário de Formação, Livro e Leitura do MinC, que mais uma vez sugeriu que as entidades do livro se unam para enviar uma carta ao governo abordando a importância da aprovação da Lei Cortez. “A aprovação da Lei é estratégica para o ecossistema do livro. E o que difere de outros momentos em que a Lei foi debatida? É que hoje percebemos uma coesão entre todos os que estão debatendo o assunto. Essa unidade facilita, de certa forma, a sua aprovação. Porém, não se aprova Lei sem mobilização social e política”, frisou.
Segundo Maria Teresa Leitão, a Lei Cortez agora aguarda para ser colocada na ordem do dia e ser votada no Plenário. "Vai demandar agora forte articulação daqueles que são interessados na lei, eu e vocês".
Discussões x Ações

A importância das livrarias, dificuldade das editoras de posicionar seus livros, a necessidade de mais pontos de vendas e os descontos praticados, no fim das contas, são temas recorrentes.
Em sua fala, depois de ouvir Roberta Machado (Record), Marcos Pereira (Sextante), Luciana Borges (Companhia das Letras) e Alexandre Martins Fontes, presidente da Associação Nacional de Livrarias, Júlio Cruz, da Catavento Distribuidora de Livros, propôs ações concretas.
Com dados, Júlio tentou mobilizar os presentes para que a Lei Cortez seja colocada em prática por, inicialmente, três meses, tendo como auxílio na monitoração o serviço lançado pela Bookinfo – que pesquisa e organiza as informações de descontos nos diferentes players do mercado. O serviço tem alguns objetivos: ajudar a editora a saber onde exatamente estão os livros dela; saber se eles estão realmente cadastrados; e para que a livraria possa ver as margens que estão sendo praticadas e qual livro ela tem condição de dar mais descontos, ou não. O conjunto dessas opções resulta no monitoramento dos princípios da Lei Cortez.
“Acho que estamos saindo do buraco, mais lentamente do que gostaríamos, mas estamos andando. Nós, como indústria, estamos muito mais maduros. Muito mais preparados”, opinou Marcos Pereira, diretor-presidente da Sextante.