Em Garota invisível (Intrínseca, 384 pp, R$ 69,90 - Trad.: Karine Ribeiro), a autora Lisa Jewell destrincha uma subcultura digital que vem ganhando notoriedade nos últimos anos: os incels, como se denominam os homens celibatários que se julgam incapazes de encontrar parceiros românticos ou sexuais, são um dos núcleos da intrigante narrativa criada pela escritora inglesa. A obra expõe o que pode acontecer quando essas pessoas, muitas vezes responsáveis por comentários xenófobos, racistas, misóginos e homofóbicos no ambiente virtual, cruzam o limite e povoam o mundo real. O bairro de Hampstead parece uma vizinhança perfeita para se criar uma família — pelo menos é isso que Cate e Roan acham quando se mudam temporariamente para lá. Mas um aumento nos casos de assédio sexual assombra o local e redobra a atenção dos pais, que têm dois filhos. Com o alerta ligado, eles começam a desconfiar de seus vizinhos. Saffyre é uma jovem que desde sempre teve que lidar com seus traumas e a falta de seus pais. Ela se automutila desde os dez anos, idade em que foi vítima de uma violência e teve sua infância interrompida contra a sua vontade. Para ajudar na sua recuperação, seu tio a incentiva a fazer sessões com um terapeuta — Roan —, e, depois de três anos, ela recebe alta. Mas lidar com seus problemas sozinha não é tarefa fácil e, após começar a espionar o antigo psicólogo, ela desaparece no dia dos namorados sem deixar rastros. O principal suspeito é Owen, um homem de trinta e poucos anos que nunca teve relações sexuais e que está sendo acusado de assédio na escola em que trabalha. Temporariamente afastado de seu posto, ele encontra nos fóruns incel uma válvula de escape. Em um thriller que lança luz sobre os aspectos mais sombrios da mente humana, Lisa Jewell consegue, mais uma vez, escrever uma obra envolvente com desfecho repleto de plot twists.