
Alves está à frente da organização e curadoria da Bienal, que inicialmente tinha como produtoras Bia Reiner e Camille Bittencourt, conhecida pelo trabalho no Festival de Curitiba, de artes cênicas. A saída de Bittencourt da função de coordenadora de produção, ainda em setembro de 2024, levou ao arquivamento do projeto no sistema da Lei de Incentivo à Cultura – que pode ser acompanhado a partir daqui.
O arquivamento, em 20 de fevereiro, não significa o cancelamento da Bienal, mas impede a captação de recursos via Lei Rouanet. “Visto que o projeto não está em fase de adequação à realidade de execução e não há possibilidade de alterações no escopo do projeto neste momento, orientamos que o proponente 'clone' este projeto e encaminhe uma NOVA proposta com os ajustes necessários", lê-se no site do Salic, que permite o acompanhamento de propostas culturais.
Ao PublishNews, Camille Bittencourt disse que foram várias as razões pelas quais decidiu se retirar e fez críticas; entre elas, sobre o não pagamento de valores previamente acordados. "Era um projeto super legal, mas sem salário ou cachês para toda a equipe com quem eu trabalhei”.
Ela afirma ter descoberto, após a sua saída, que seu nome foi usado indevidamente no pedido de captação de recursos (R$ 5,74 milhões) via Lei Rouanet. “Meu nome, dados e currículo foram usados mesmo meses depois de eu ter me retirado da tentativa de realização do evento, sem a minha anuência e sem minha autorização”, diz.
A 1ª Bienal Internacional do Livro do Paraná pretende ser o maior acontecimento do gênero na região, com mais de 300 atrações. No projeto, foi descrito como “o primeiro maior evento do Livro, da Leitura e das Bibliotecas do sul do Brasil”. Ainda de acordo com o documento, será realizada em 10 cidades paranaenses. A ideia é promover, em paralelo, o I Salão Internacional Profissional do Livro, da Leitura, Literatura e das Bibliotecas, reunindo profissionais da produção e comercialização de livros, como editores, bibliotecários, representantes de direitos autorais, livreiros, agentes e autores.
Com o arquivamente, a proponente pode encaminhar uma nova proposta com os ajustes necessários. Ao PN, a organização informou já ter tomado as medidas cabíveis para regularizar a situação. “Erguer um evento como esse leva tempo. Contamos também com o apoio das Secretarias de Cultura, Turismo e Educação, tanto do Estado, quanto do município. Estamos caminhando e lutando diariamente para que, no seu tempo, cada informação seja levada a público, por meio das nossas redes sociais e releases enviados à imprensa", disse Lis Alves, por e-mail.
No começo do ano, antes de o projeto ser arquivado, a produção da Bienal anunciou nova data para o evento: de 10 a 19 de outubro, no Viasoft Experience – um espaço com mais de 11 mil metros quadrados, em Curitiba. Na ocasião, informou que 37 editoras já estavam confirmadas, entre elas Paulus, Vozes, Ciranda Cultural, A Página e Aleph.
Em nota enviada ao PN, o Grupo Editorial Aleph informou que “após uma análise criteriosa de sua programação interna e estratégica”, optou por não participar da Bienal do Livro do Paraná. “A decisão decorre de ajustes operacionais e compromissos previamente agendados, os quais exigem atenção neste período, permitindo que a editora concentre esforços em projetos e iniciativas já em andamento”. A editora ressalta ainda o “desejo de estar sempre próximos do público da região Sul, que tanto prestigia e acompanha os selos do Grupo Aleph”.
Sob a condição de anonimato, representantes de empresas e profissionais do setor que participariam do evento demonstraram descontentamento. “A atual produção da Bienal do Livro do Paraná tem falhado gravemente com expositores, fornecedores e funcionários, acumulando denúncias de falta de pagamento, promessas não cumpridas, cláusulas abusivas”, disse uma fonte. “Para quem trabalha com o mercado editorial, eventos assim são fundamentais para a divulgação de projetos, o fortalecimento de redes e a construção de oportunidades para autores e profissionais. É urgente que medidas sejam tomadas para evitar que a literatura, que já enfrenta tantos desafios no Brasil, sofra com esse tipo de situação. Os expositores que solicitaram distrato contratual precisam reaver os valores gastos a fim de diminuir os prejuízos que esse evento já causou.”
Outra pessoa ouvida pela reportagem ressaltou a falta de planejamento do evento. “Fui convidada para compor a curadoria, com a promessa de pagamento após sua realização. No entanto, em reunião com outros convidados – ambos com experiência em curadoria –, ficou evidente que a proposta não correspondia ao papel correto da função, uma vez que curadores não são responsáveis por oferecer espaço para editoras”, disse. “Além disso, percebi que não havia um planejamento concreto para o evento, nem o conhecimento necessário para a construção da estrutura que uma Bienal pede”.
Profissionais que entraram em contato com o PublishNews preferem não se identificar por ainda estarem no processo de tentar reaver o dinheiro investido no evento.
A produção da Bienal informa deve que iniciar as divulgações oficiais sobre programação e demais detalhes a partir de março.
Atualmente, a FC Comunicação cuida da assessoria do evento e qualquer dúvida pode ser enviada para contato@fccomunicacao.com.br. E informações sobre o evento estão sendo disponibilizadas no Instagram, na conta @bienaldolivroparana.
*(Nota da redação: O texto foi atualizado em 11/03, às 12h01, para inclusão de informações do Salic sobre o arquivamento do projeto).