Mercado Livre terá sua própria loja de livros
PublishNews, Guilherme Sobota, 30/01/2025
Gigante do varejo já opera com editoras e outras empresas do mercado editorial

Mercado Livre vai se tornar player do mercado editorial em 2025 | © Captura de tela / mercadolivre.com.br
Mercado Livre vai se tornar player do mercado editorial em 2025 | © Captura de tela / mercadolivre.com.br
O Mercado Livre – empresa de e-commerce mais popular da América Latina e uma das líderes do segmento também no Brasil – já está operando a sua nova loja de livros, no modelo 1P. Ou seja, nos próximos meses, o país ganha uma nova livraria online que pode conquistar um bom espaço no mercado editorial – não sem enfrentar alguns desafios.

A nova loja já fechou contratos com Metabooks e Bookinfo para gestão de dados e metadados, e as empresas já estão em contato com os seus clientes orientando adaptações à plataforma do Mercado Livre. Os pedidos também já iniciaram.

Por enquanto, o ML fechou contratos com um grupo pequeno entre as maiores editoras do país – e diversos gerentes comerciais ouvidos pelo PublishNews nos últimos dias relatam tentativas de contato com a loja para entrar no negócio.

Além de falar com pelo menos uma dezena de fontes no mercado editorial sobre o assunto, o PN entrou em contato com o Mercado Livre para apurar informações e perguntar sobre os novos desdobramentos. Via assessoria de imprensa, a empresa preferiu não se pronunciar.

Do marketplace à loja própria

Atualmente, o Mercado Livre vende livros no modelo marketplace (3P) – que conta com lojas importantes do setor editorial, como a Livraria Leitura e A Página, além de diversas editoras. No início de janeiro, o jornal O Globo noticiou que a plataforma iria cobrar um “custo fixo” dos vendedores de livros – até então, a categoria era isenta dessa taxa, e incidia sobre ela apenas a chamada “tarifa de venda” por produto comprado. A venda de livros de até R$ 79 passou a ser taxada entre R$ 3 e R$ 4.

A cobrança foi anunciada juntamente com a elevação dos valores de outras categorias. “Com essas mudanças, acreditamos que o Mercado Livre continua focado principalmente em aplicar disciplina de preços e impulsionar uma maior eficiência na gestão de estoque dos vendedores, em vez de promover a monetização de seus serviços de logística. O momento dessas mudanças também é consistente com anos anteriores”, observaram analistas do banco Goldman Sachs em nota enviada a investidores na ocasião.

Agora, o Mercado Livre chega à operação direta no mercado editorial. A principal concorrente, claro, é a Amazon, e embora alguns editores e gerentes comerciais tenham manifestado preocupação sobre uma eventual guerra de preços entre as duas gigantes do varejo, eles também ouviram promessas de que algo parecido não vai ocorrer.

Segundo representantes de grandes editoras do país, que preferiram não se identificar, o Mercado Livre chegou com uma estratégia agressiva na pedida de descontos – em valores que ficavam em torno de 60% (sobre o preço de capa). Após negociações, as empresas se sentiram mais à vontade para fechar os contratos. Isso pode ter sido um fator para a loja ainda não ter sido anunciada oficialmente – o plano da marca era fazer o lançamento em 2024.

A liderança da nova área do Mercado Livre é a executiva Natália Rizzo, que trabalha há três anos na empresa, depois de passagens por Ricardo Eletro, TIM, B2W e outras.

Questões de logística ainda precisam ser melhor discutidas – por ora, a operação entre as editoras e a loja está sendo realizada com “frete dedicado”, ou seja, cada editora precisa enviar um veículo exclusivo para o Mercado Livre, o que encarece o preço final de frete e força os pedidos a terem um volume alto para serem rentáveis. Segundo os relatos ouvidos pelo PN, para performar bem as editoras vão precisar se adequar a uma série de critérios específicos da loja nesse sentido.

“Não acho que vai mudar o mercado, mas ajuda a equacionar a concentração que aconteceu no canal online, depois dos problemas financeiros do Submarino/Americanas e da saída da Magalu da categoria livros”, explica ao PublishNews o diretor comercial e de marketing da Rocco, Bruno Zolotar. “Além disso, acredito que o Mercado Livre possa agregar novos consumidores para livros porque eles chegam a um público muito amplo e todas as classes sociais. A gente precisa lembrar que o Mercado Livre alcança do consumidor que busca de uma televisão ao que quer uma peça de reposição para um fogão e que mora numa cidade pequena onde não há nenhuma livraria. Quem sabe essa pessoa não se interessa por um livro?”

Para ele, a entrada do Mercado Livre mexe mais com as vendas dos canais online do que com o varejo físico. “Sempre que um novo concorrente com escala entra nesse canal, de alguma forma disputa o mesmo consumidor, mas o Mercado Livre tem uma base de consumidores muito ampla, que abrange todas as cidades do país e várias classes sociais, e uma marca com forte apelo popular”, analisa. “Acredito que possa trazer consumidores não habituados a comprar livros para a nossa base de leitores, o que é muito bem-vindo.”

Características e concorrência

Nesse sentido, as duas principais concorrentes da loja de livros do Mercado Livre seriam a Amazon – líder no setor editorial – e as próprias livrarias que já operam dentro do marketplace.

Uma das principais diferenças para a Amazon é que a empresa americana iniciou a sua trajetória como uma loja própria – com compra de fornecedores, gerenciamento de estoques, logística de entrega – e depois se verticalizou para operar também como marketplace. O Mercado Livre faz agora o caminho inverso: com um marketplace totalmente estabelecido e um sistema interno voltado para essa modalidade, pode haver dificuldades na operação específica com o mercado editorial.

No Brasil, o Magazine Luiza fez o mesmo movimento que agora faz o Mercado Livre, em 2019. Quatro anos depois, em 2023, a loja fechou.

Em setembro do ano passado, o Mercado Livre anunciou que iria chegar a 21 centros de distribuição no país até o final de 2025 (eram 10). A empresa não abriu os números do investimento, mas também afirmou que compraria mais duas aeronaves de transporte de mercadorias (para chegar a nove no total).

De acordo com dados da empresa, hoje o Brasil representa cerca de 53% da operação no mundo. Dos 75 mil funcionários na América Latina, 33 mil estão no país. Cerca de 53% das compras feitas no Brasil são entregues aos clientes em até 24 horas. Em 2023, o Mercado Livre transacionou US$ 45 bilhões na América Latina.

[30/01/2025 11:10:00]