Sobre homens monstruosos
PublishNews, Redação, 21/10/2024
'Senhor cão' se constrói em torno de um protagonista condenável, cuja existência se afirma pela régua da opressão

Se a maior parte da prosa de ficção hoje atribui aos personagens nauseantes papéis menores de destinatários de julgamentos – feitos pelos próprios autores que os imaginaram –, Ilha pode ser considerado um escritor dissonante. Em Senhor cão, quem deve julgar é o leitor. E o alvo é o próprio personagem, sem o qual não haveria narrativa. O romance, que marca a estreia do escritor e editor na narrativa longa, terá sessões de lançamento em Porto Alegre e São Paulo. Visceral nos temas e, muitas vezes, na prosódia, Senhor cão (Aboio, 192 pp, R$ 59,90) se constrói em torno de um protagonista condenável, cuja existência se afirma pela régua da opressão. Mas se os homens monstruosos aterrorizam, é porque não cabem em modelos; são intrincados e, inevitavelmente, estão atravessados pela própria história. Senhor cão narra a trajetória de Pedro Póvoa, que se beneficia de sua condição masculina numa sociedade patriarcal para cometer pequenos delitos de comportamento. Premido por uma pressão social cada vez maior acerca de seus atos, muitos dos quais abomináveis, decide migrar para a Portugal onde, julga ele, terá sossego em relação a suas condutas devido à sua dupla nacionalidade.

Tags: Aboio, romance
[21/10/2024 07:00:00]