Seleção de crônicas raras e inéditas de João do Rio
PublishNews, Redação, 22/10/2024
'Gente às Janelas' é uma obra indispensável para quem quer entender o legado de João do Rio e sua relevância

Numa época em que os jornais funcionavam como uma espécie de tribuna de opinião, e suas colunas eram divididas entre diatribes de caráter político e textos rebuscados nascidos da pena de literatos, surgiu a figura de João do Rio. O autor, homenageado de 2024 na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), inovou e usou as páginas dos diários como terreno de experimentação. Misturou apuração jornalística com estilo literário e ajudou a formatar um dos gêneros mais apreciados pelo leitor brasileiro: a crônica. Gente às janelas (Carambaia, 272 pp, R$ 69,90) reúne um panorama variado dessa produção do autor, com textos raros coletados após quase uma década de pesquisa. Entre os 33 selecionados, encontram-se alguns de seus primeiros e pouco conhecidos contos, como Impotência ou Ódio (Páginas de um diário), em que aborda a homossexualidade – tema pelo qual sofreu ataques e preconceito a vida toda. João do Rio, um flâneur, capturou a essência do Rio de Janeiro, frequentando desde os ambientes chiques até os mais sombrios becos e vielas. Observou as curiosidades e desigualdades da sociedade carioca dos anos iniciais da República, como mostra em crônicas como Gente às janelas, Tabuletas, ou As mariposas do luxo. Com uma abordagem inovadora e estilo muito próprio, o cronista levou o leitor brasileiro para um jogo do estreante foot-ball, satirizou a alta-roda que se reunia nos salões fingindo viver na Europa, visitou os afamados terreiros de candomblé ou pontos de fumo de ópio, lugares onde jornalista não costumava pôr o pé.

[22/10/2024 07:00:00]