“Tenho uma gaveta com dezenas de versões. Alguns poemas começaram a ser escritos há bastante tempo, em 2018. Ainda estou processando tudo que aconteceu nos últimos anos, realmente foi muita coisa, inclusive o devir-mãe, que é transformador, violento. A maneira que encontrei para transpor essas experiências foi escrevendo um livro ao longo do tempo e sobre o tempo das coisas: períodos de exceção, guerras, esperas, amores, astros, memória”, avalia a autora.
Com texto de orelha da escritora, ensaísta e acadêmica Heloisa Teixeira e posfácio da poeta e tradutora Prisca Agustoni, vencedora do Prêmio Oceanos 2023, o lançamento de Todo o resto é muito cedo marca um ponto de inflexão na carreira literária da poeta carioca. Em seu terceiro livro (além de duas plaquetes), Luiza faz sua estreia na editora Bazar do Tempo, que neste ano passa a ampliar seu catálogo com apostas em autoras femininas contemporâneas da literatura brasileira. Nessa transição, a poeta traz na bagagem tensão dramática e amplo repertório, com um livro que alterna o ritmo e a cadência dos versos, e se expande em diálogos entre gerações e linguagens artísticas.
“Ela [Luiza] quer reter o tempo mesmo sabendo que o está afastando. E lança mão de uma poesia urgente, que anota, que reescreve, que despista o tempo todo o que é importante e o que não é”, aponta Heloisa Teixeira no texto de orelha.
Entre 2021 e 2024, a poeta viveu duas gestações, teve dois filhos, cursou um mestrado, maturou e reescreveu poemas. Enquanto isso, o mundo lá fora fervia, como placas tectônicas em fricção – pandemia, crise econômica, novos conflitos e guerras. Em meio a tantas transformações subjetivas e incertezas concretas, Luiza reinventou sua escrita, criando poemas em que amores, paixões e incompletudes coabitam com guerras e conflitos contemporâneos.
“O conflito e a guerra, também emergem nos poemas de Luiza, às vezes de forma explícita. Isso a vincula ao seu tempo histórico e às vozes contemporâneas da poesia brasileira, em especial a feminina, que vem costurando, de forma habilidosa, o universo da intimidade e o contexto coletivo, social”, explica Prisca Agustoni.
Luiza flerta com os gêneros literários, transita entre linguagens híbridas, como o ensaio, a prosa poética e as artes visuais, e expande o diálogo entre gerações. Há traços de poetas como Chico Alvim, Ana Cristina César, Paulo Leminski e Nicolas Behr. Além disso, há referências que expandem o território literário, em conversas com Duchamp, Alberto Giacometti, Maria Martins e Agnès Varda, entre outros. Alguns poemas do livro fornecem informações que se complementam, se reescrevem e se contradizem, tremem entre as fronteiras dos gêneros, sem que se possa saber se leu poesia ou um ensaio.
Luiza Mussnich nasceu no Rio de Janeiro, em 1991. É poeta, com dois livros publicados: Lágrimas não caem no espaço (2018) e Tudo coisa da nossa cabeça (2021). Todo o resto é muito cedo é o seu primeiro livro na Bazar do Tempo.