A imagem de um muro intransponível permeia o novo romance da escritora e professora universitária Ana Kiffer. No fim do ano de 1968, em Niterói, Cléa é presa em casa por militares da ditadura vigente. Estão à procura do seu marido, deputado em seu segundo mandato. Cléa tem dois filhos pequenos e está grávida de Ana. A prisão, a tortura e o medo cindem a vida da família e instauram entre todos o silêncio. Décadas depois, a história emerge em um diálogo entre mãe e filha, numa busca dolorosa pela verdade e pela possibilidade de reescrever um novo começo. Nascer de novo, como resposta a um momento histórico em que tudo parecia acabar. Com textos de contracapa de Manuela D’ávila e Julián Fuks, No muro da nossa casa (Bazar do Tempo, 98 pp, R$ 68) traz um diálogo imaginado entre mãe e filha que busca preencher com palavras os silêncios erguidos como muros de concreto. Para além do contexto histórico e político, a obra traz para o cerne da narrativa as subjetividades dos laços que unem mães e filhas, relações sempre marcadas por vidas e experiências pregressas. Nesse sentido, a autora aponta que não precisa de ditadura para haver violências brutais e determinantes na vida e nos corpos femininos.