
“Soube, distante do Brasil, que um amigo, fundamental para a história da Companhia das Letras, faleceu", escreveu Luiz Schwarcz, editor, fundador e CEO da editora. "Hélio de Almeida, um dos grandes designers de livros e revistas, ajudou a definir, através dos tempos, parte importante da imagem da editora. Trabalhou a meu lado, literalmente, na antiga sede da Companhia, num sobrado do Pacaembu. O conheci, se não me falha a mémoria, quando, me achando muito ousado, procurei o famoso artista gráfico — que diagramava e fazia as capas de revista IstoÉ dos áureos tempos — para realizar o design das obras de Rubem Fonseca, recém contratadas por nós. Depois disso desenvolvemos uma parceria e amizade significativas. Hélio, torcedor da Portuguesa, como meu pai, jogava bola comigo toda semana. Era um beque eficaz, mas com toques delicados, como a sua arte. Sinto muito ter estado afastado dele por um bom tempo e saber de sua morte tão precoce. Meu abraço à Laura e a toda família de um ser humano gentil como poucos".
De acordo com a Revista Pesquisa FAPESP – onde Almeida foi diretor de arte entre 1999 e 2006 – ele era paulistano, filho de portugueses. Antes dos trabalhos na imprensa, enveredou pela publicidade e pelas artes plásticas até começar a trabalhar no departamento de arte do jornal Folha de S. Paulo, em 1963. “Apresentado às regras de um jornalismo ágil, encarregou-se de transpô-las para o universo gráfico do jornal”, escreveu o designer gráfico Norberto Gaudêncio Júnior, hoje professor do Mackenzie. O texto é parte do livro Hélio de Almeida: Artista gráfico (Ipsis), lançado em 2008, que reuniu seus trabalhos mais significativos feitos até aquele momento.
Em 1968 foi convidado a integrar a equipe da revista Veja, da editora Abril, onde ficou até 1973. Alguns anos depois fez parte da criação da revista IstoÉ, projeto do qual se orgulhava pela grande liberdade criativa. Em meados dos anos 1980, voltou à editora Abril, e na segunda metade da década foi contratado como diretor de Arte da editora Globo, onde trabalhou com os títulos Globo Rural, Moda Brasil e foi o responsável gráfico dos livros lançados de 1986 a 1989. Paralelamente ao trabalho nas editoras, fez cartazes de peças teatrais como Macunaíma (1978) e Xica da Silva (1988), de numerosas exposições e coletivas de artistas plásticos e criou logos e projetos para instituições e empresas.
A partir de 1989, começou a fazer projetos e capas para a jovem editora Companhia das Letras, fundada por Luiz Schwarcz em 1986. Entre os seus diversos trabalhos marcantes para a editora, estão capas de livros de Ruy Castro, Fernando Morais, Oliver Sacks e muitos outros.
Hélio de Almeida deixa a mulher, a ilustradora de livros infantis e artista plástica Laurabeatriz, e os filhos Maria Rosa, Thereza, Manu Maltez e Joaquim e seis netos, além das irmãs Vera e Marli.