Eu fazia alguns trabalhos como freelancer da editora Abril em 2015 quando anunciaram que a revista Capricho, uma publicação voltada para o público adolescente, deixaria de imprimir a revista em papel e voltaria suas forças para o portal e vídeos. Na comoção dos fãs na caixa de comentários do post, nunca esqueci das palavras que eles usaram para definir sua relação com a revista. “A Capricho era um momento de silêncio que eu tinha” e “vou sentir falta de usar a revista para me desconectar um pouco do celular e apenas ler uma matéria inteira” eram duas das lamentações frequentes.
No Skoob e Goodreads, aplicativos de avaliação de livros, os leitores mais jovens também possuem algumas observações em comum. Livros com menos de 250 páginas são constantemente acusados de serem “muito curtos”, enquanto mesmo os mais longos cometem os pecados de serem “muito corridos em algumas partes” ou “não darem tempo de gostar dos personagens” e por aí vai. A resenha de um dos meus livros, Não me olhe assim, de 111 páginas, tem o comentário: “por ser um livro com poucas páginas, imaginei que teria uma escrita merda”.
Em um mundo analógico, as publicações tinham o objetivo de abrir a janela para o mundo e deixar a onda de conteúdo entrar. Hoje em dia, com a internet, a janela está sempre aberta e o conteúdo está sempre entrando. O leitor jovem que cresceu no meio dessa barulheira anseia por um momento de silêncio, onde ele possa se aprofundar em um único raciocínio de cada vez e refletir sobre si mesmo. Talvez, nossa função como mercado não esteja mais em abrir a janela, mas ajudá-los a fechá-la de vez em quando.
Não me entenda mal. Livros curtos, com frases simples e muitas figuras são essenciais para a captação de novos leitores — eu mesmo tendo a manter o número de páginas dos meus livros sob controle na esperança de que seja a primeira leitura de alguém. Mas, estereotipar o jovem como um peixinho dourado incapaz de prestar atenção em algo ou ter senso crítico é um erro cada vez mais comum que pode nos deixar ainda mais longe do objetivo de, enfim, nos comunicarmos com eles.
* Felipe Sali é autor de livros voltados para adolescentes, como Mais leve que o ar e Segredos escondidos em caixas de sapatos. Editor de conteúdo no Joca, primeiro jornal voltado exclusivamente para crianças e jovens do Brasil.