Marcelo Moutinho lança biografia de Zaquia Jorge no Rio de Janeiro
PublishNews, Redação, 04/04/2024
'Estrela de Madureira: A trajetória da vedete Zaquia Jorge, por quem toda a cidade chorou' (Record) recupera a vida da atriz e empresária do teatro, que morreu aos 33 anos, em 1957, afogada na então inóspita praia da Barra da Tijuca

Capa de 'Estrela de Madureira: A trajetória da vedete Zaquia Jorge, por quem toda a cidade chorou' © Divulgação
Capa de 'Estrela de Madureira: A trajetória da vedete Zaquia Jorge, por quem toda a cidade chorou' © Divulgação
Marcelo Moutinho, vencedor dos prêmios Jabuti 2022 e Clarice Lispector (Fundação Biblioteca Nacional) 2017, tem Zaquia Jorge como personagem principal na sua estreia no gênero das biografias. Estrela de Madureira: A trajetória da vedete Zaquia Jorge, por quem toda a cidade chorou (Record) recupera a vida da atriz e empresária do teatro, que morreu aos 33 anos, em 1957, afogada na então inóspita praia da Barra da Tijuca, causando comoção popular e especulação midiática. O livro será lançado neste sábado (06), a partir das 14h, no Al Farabi (Rua do Mercado, 34 – Rio de Janeiro / RJ). O cantor Pedro Paulo Malta vai apresentar sambas e marchinhas que foram sucesso na época áurea do Teatro de Revista, com participação especial da Velha Guarda do Império Serrano.

Zaquia Jorge foi uma figura emblemática da vida cultural do Rio de Janeiro dos anos 1940 e 1950. Trabalhou na célebre companhia de Walter Pinto, ascendeu no competitivo mundo das vedetes, contracenou com Dercy Gonçalves e Oscarito e fundou seu próprio teatro. Em 2024, a atriz completa 100 anos.

Sua morte trágica inspirou o samba 'Madureira chorou', grande sucesso do Carnaval de 1958. Em 1975, a artista inspiraria o enredo "Zaquia Jorge, a vedete do subúrbio, estrela de Madureira", levado à Avenida pelo Império Serrano. Curiosamente, uma composição derrotada no concurso interno da escola foi gravada por Roberto Ribeiro e acabaria alcançando imensa repercussão popular. Lançada no disco do cantor com o título "Estrela de Madureira", é hoje lembrada nas rodas ao longo do país e se tornou mais conhecida do que o samba com o qual o Império desfilou.

Moutinho reconstitui a vida de uma mulher à frente de seu tempo – que desafiou o estigma de mulher desquitada, abriu mão da guarda do filho e retomou, após a separação, o nome de solteira –, uma atriz incomum e fora dos padrões, que alcançou o estrelato no teatro de revista, atuou no cinema brasileiro emergente e, posteriormente, decidiu ousar como empresária das artes, rompendo as fronteiras da eterna cidade partida.

"Nasci e morei por boa parte da infância em Madureira. Desde pequeno, me intrigava o fato de que, apesar de Zaquia ser uma figura mítica entre os moradores do subúrbio, ter suscitado duas músicas de imenso sucesso e um enredo de escola de samba, sua história é pouquíssimo conhecida. Uma artista cuja morte mereceu destaque nas primeiras páginas dos jornais, cujo funeral contou com a presença de milhares de pessoas, que trabalhou no teatro da revista e nos populares filmes da época da chanchada, e cuja atuação como empresária foi absolutamente pioneira. Além de resgatar uma trajetória tão singular, o livro pretende tirá-la desse lugar de invisibilidade", contextualiza Marcelo Moutinho.

Após ascender profissionalmente durante a efervescência cultural da Praça Tiradentes e participar da emergente cena cultural na Zona Sul carioca, Zaquia optou por fundar o Teatro Madureira. Assim, colocou, pela primeira vez, os holofotes na vida cultural da Zona Norte do Rio de Janeiro. Em seu texto de quarta capa, Ruy Castro felicita a publicação de uma biografia que remete à Zona Norte, um território, ele destaca, quase esquecido no mapeamento da vida artística e cultural carioca. “E ninguém mais equipado do que Marcelo para fazê-lo”, acrescenta.

Há biógrafos que escolhem personagens ilustres da história para a partir de uma trajetória marcante compor o panorama de uma determinada época. Outros buscam resgatar personalidades apagadas da história e, ao resgatar do esquecimento sua biografia, propor novas abordagens do passado. Este último é o caso de Marcelo Moutinho, como sintetiza Luiz Antonio Simas no texto de apresentação do livro:

“Ao reconstruir a trajetória de Zaquia, Moutinho acaba formando um mosaico em que aparecem Madureira, o teatro de revista brasileiro, as sociabilidades suburbanas, a música, o cinema, a cidade e o protagonismo da mulher em uma sociedade e um ambiente em que a misoginia nadava de braçada. Não bastasse isso, o livro retira — é importante frisar — do esquecimento a personagem que, apesar da vida curta, entranhou-se nas memórias do lugar, unindo o rigor histórico, o domínio crítico da bibliografia e a escrita fluente do escritor premiado.”

[04/04/2024 09:00:00]