Criado na década 80, o Quem Ama Não Mata promove, desde então, diversas ações como palestras, debates e passeatas com foco na pauta feminista. A 1ª edição do “Sábados feministas”, em parceria com a AML, vem como mais uma das realizações do movimento, que tem coordenação da jornalista Mirian Chrystus: “A ideia é contribuir com uma reflexão feminista sobre questões culturais ligadas à desigualdadede de gênero expressa na violência contra as mulheres, física ou simbólica”, explica. Até novembro deste ano, o “Sábados feministas” acontece em oito encontros, sempre no segundo sábado de cada mês.
No sábado de abertura (09), a proposta da diretora cênica Julianna Santos é discutir sobre representatividade no mundo da Ópera. “Apesar dos avanços na sociedade, ainda é um meio majoritariamente masculino em todas as suas funções - e é preciso trazer a esse gênero artístico teatral um olhar feminino”, afirma.
Com 20 anos de trajetória, Julianna Santos já dirigiu mais de 100 óperas, entre clássicas e de vanguarda, em todos os grandes espaços teatrais do país. É a partir de sua vivência como diretora cênica de óperas que ela vai falar do lugar das mulheres no mundo artístico: “Vou trazer a especificidade desta representação da mulher, mas, principalmente, o meu olhar feminino nas óperas que já dirigi, suas grandes e marcantes personagens, o contexto original em que tiveram sua recepção”, afirma a diretora.
Entre as personagens lembradas estão "Carmen", de Bizet, que desafiou a vontade passional de um homem, e “Alma”, de obra baseada em "Os condenados", de Osvald de Andrade, lida na Semana de Arte Moderna de São Paulo e adaptada para a ópera por Cláudio Santoro. Também irá se deter em personagens de "Contos de Júlia", baseada em Júlia Lopes de Almeida, escritora do século XIX, uma das primeiras jornalistas a criar um jornal feminista no país, intitulado "A mensageira". A diretora irá enfocar ainda personagens simbolizando a escuridão feminina contra a luz masculina, com menções à "A flauta mágica", de Mozart, e “Rosina”, de "O barbeiro de Sevilha", de Rossini.
E por fim, Julianna Santos pretende estabelecer um diálogo dessas representações femininas com a contemporaneidade, em que a violência continua a ser, na sua opinião, o modo dominante de calar as diferenças, sendo o feminicídio o exemplo mais evidente, como explica: “Vou trazer o olhar de uma mulher do século XXI, ainda com seu medo de sair de casa e se tornar mais uma vítima de violência. Mas também com seu desejo de contribuir para que, um dia, isso não mais aconteça”, contextualiza.
SERVIÇO
- Estreia 'Sábados Feministas', parceria entre AML e QANM
- Data: 9 de março - 9h30,
- Local: Auditório da Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia 1466 – Belo Horizonte / MG)
- Acessível em Libras | Entrada gratuita