
Em nota enviada à reportagem, a Amazon diz que o contrato com a Bookwire está terminando e lamenta "não ter outra escolha a não ser começar a remover o conteúdo de e-books" para cumprir os requisitos contratuais em tempo hábil.
“Durante meses de negociações de contrato, a Bookwire insistiu que a única maneira de continuar dando aos leitores do Kindle acesso aos títulos das editoras que a Bookwire distribui exclusivamente era aceitar um retrocesso nos termos em que as duas empresas operaram com sucesso durante anos", afirma a nota oficial da empresa.
A Bookwire afirmou que o processo já está em fase de decisão. "A Bookwire e a Amazon estão em uma negociação global sobre a extensão da parceria. Já em fase de decisão, ambos os lados estão discutindo a continuidade, levando em conta as condições de estrutura econômica e contratual, de modo que seja viável para ambas as partes", diz uma nota da empresa, assinada pelo diretor da operação brasileira, Marcelo Gioia.
"A Bookwire acredita que esses desafios finais e específicos podem ser resolvidos em curto prazo e reforça a importância de ambos os lados assumirem suas responsabilidades para que o mercado não seja impactado com o desabastecimento", complementou.
Fontes do mercado ouvidas pelo PublishNews afirmaram que o movimento de retirar os livros do Kindle é uma forma de negociação por parte da Amazon, frequentemente acusada de praticar estratégias agressivas em relação a editoras e distribuidoras. A expectativa do mercado é de que a situação se resolva ainda nesta semana, com um acordo entre as empresas e o retorno à normalidade da comercialização de livros digitais.

“A gente tem uma parceria muito boa com a Bookwire no Brasil, isso é o que eu gostaria de reforçar. Tem uma questão negocial em andamento que é global, nem é só no Brasil, relacionada ao final do contrato. Por isso que hoje, infelizmente, não estamos com os e-books disponíveis, mas estamos também muito confiantes de que chegaremos em um caminho comum, acho que a intenção dos dois lados é essa, então rapidamente a gente espera ter um desfecho positivo”, disse Ricardo Perez.
Algumas editoras têm contratos diferentes com a Bookwire ou negociam os livros digitais diretamente com a Amazon. Algumas casas editoriais, como Companhia das Letras, Record e Rocco, por exemplo, continuam com e-books disponíveis na loja.
Repercussão
Nas redes sociais, leitores e profissionais do mercado reclamaram da situação.
Ainda na última sexta-feira (23), o editor e escritor João Varella notou a ausência de um livro seu na loja virtual.
"Ué, cadê o ebook na Amazon? A Bookwire, distribuidora que praticamente tem o monopólio do mercado no Brasil, diz que a Amazon tirou tudo do ar hoje. Há uma treta (~negociação) global entre Amazon e Bookwire sobre o percentual de desconto. O apagão é generalizado", relatou no X.
Ué, cadê o ebook na Amazon? A Bookwire, distribuidora que praticamente tem o monopólio do mercado no Brasil, diz que a Amazon tirou tudo do ar hoje.
Há uma treta (~negociação) global entre Amazon e Bookwire sobre o percentual de desconto.
O apagão é generalizado pic.twitter.com/TiKV7ufONF
— João Varella (@joaovarella) February 23, 2024
Já o leitor Victor Almeida (@aquelegf no X), ironizou: "Enquanto isso também, diversas editoras continuam com seus ebooks indisponíveis na Amazon por causa do acordo com a distribuidora. Hoje um belo dia pra ser leitor de Kindle".
Enquanto isso também, diversas editoras continuam com seus ebooks indisponíveis na Amazon por causa do acordo com a distribuidora. Hoje um belo dia pra ser leitor de Kindle pic.twitter.com/SurvFDciyR
— GF | Victor Almeida (@aquelegf) February 27, 2024
Outro leitor respondeu: "Não pode piratear nem comprar. Amazon sendo mais eficiente que eu em me fazer ler os livros físicos encalhados há 5 anos na minha estante". "Mais prejuízo para as editoras", diz outro comentário.
Leitores também questionaram as editoras sobre a ausência de livros na loja. A Editora Todavia respondeu: "Nossos livros digitais são distribuídos para todas as plataformas de e-book por um parceiro, que está passando por mudanças – e isso afetou a disponibilidade dos e-books de diversas editoras, no mundo inteiro. Estamos em contato com eles e informaremos assim que a distribuição for normalizada. Por ora, as versões digitais de nossos livros seguem à venda em outras plataformas, como Kobo, Apple, Google Livros e Skeelo".
Já a Editora Aleph também lembrou a um leitor que o seu catálogo está disponível no Skeelo.
Consumo de livros digitais no Brasil
Segundo a pesquisa Panorama do Consumo de Livros, divulgada em dezembro por CBL e Nielsen, 46% dos consumidores brasileiros de livros digitais fizeram sua compra mais recente na Amazon. Outras empresas bem colocadas são Google (25%), Skeelo (8,9%) e Apple (5,9%). De acordo com a pesquisa, 50% dos leitores usaram o celular para ler, e 19% utilizaram um leitor eletrônico (e-reader).
