Há três anos, o PN procura os CEOs e representantes das top 15 editoras da Lista dos Mais Vendidos do ano anterior para saber suas opiniões, previsões e se há alguma tendência que poderá ganhar força nos próximos meses. Nesta edição, foram ouvidas as editoras: Gente, Alta Books, Grupo Companhia das Letras, Sextante, Citadel Grupo Editorial, Grupo Editorial Record, Literare Books, Intrínseca, Planeta, HarperCollins, Panini, Rocco, Ciranda Cultural, Faro Editorial e Globo Livros.
Se em 2023 os especialistas ouvidos citaram o preço das matérias-primas, incertezas no plano econômico; fizeram previsões sobre gêneros literários, autores nacionais e sobre o crescimento da comunidade de leitores do TikTok, para 2024 o cenário mudou um pouco.
Veja as previsões para 2024 no mercado editorial brasileiro:
Rosely Boschini – Gente2024 será um ano de flexibilização para atender as demandas dos leitores. No cenário dinâmico da década atual, a inovação emerge como a pauta central que impulsiona a evolução de diversas indústrias, e no mundo editorial principalmente. À medida que avançamos para 2024, a editora reafirma seu compromisso com a inovação, especialmente ao integrar uma abordagem interativa.
A Editora Gente reconhece que a inovação vai além da simples publicação de livros: trata-se de redefinir os padrões do setor. A aposta da editora em negócios colaborativos reflete essa visão através de parcerias estratégicas com autores, livreiros e outros profissionais do ramo, buscando criar uma rede de colaboração que não apenas atenda, mas ultrapasse as expectativas dos leitores. Essa abordagem é essencial para responder de maneira ágil e eficaz às demandas do público leitor, proporcionando experiências de leitura mais ricas e envolventes.
O projeto de educação para autores, cada vez mais expandido pela Editora Gente, é uma manifestação tangível desse compromisso com a inovação. Ao oferecer oportunidades educacionais de alta qualidade, a editora não apenas aprimora as habilidades literárias de seus autores, mas também os capacita para produzir conteúdos que ressoem com as preocupações e interesses do público. Isso resulta em obras mais relevantes e impactantes que atendem às expectativas destes leitores.
A resposta às demandas dos consumidores não se limita apenas ao conteúdo literário. A Editora Gente está investindo em tecnologias emergentes para proporcionar experiências de leitura mais interativas e personalizadas. Plataformas digitais, gamificação e outras inovações tecnológicas estão sendo incorporadas para criar uma interação mais dinâmica entre os leitores e as obras publicadas.
A valorização da diversidade e inclusão, também fazem parte desse cenário, sempre colocando o ser humano no centro de toda e qualquer ação estratégica da Editora Gente.
J.A.Ruggeri – Alta BooksAssim como 2023, acredito que o ano que se inicia deve ser de muitos desafios não tanto pela questão sistêmica da indústria, onde os vilões já são conhecidos, mas sim em virtude de fatores conjunturais alheios aos negócios, como política e economia.
Apesar das vozes otimistas, o cenário econômico tem três desafios hercúleos: mitigar o risco fiscal e reequilibrar as contas públicas, provisionar recursos para investimentos produtivos e equacionar o endividamento das famílias, que segue em níveis preocupantes.
Na esfera política, este é um ano de eleições municipais que, somado ao já instável ambiente político atual, segue gerando incertezas.
Quando se analisam as questões políticas e econômicas atuais, portanto, percebe-se que o setor cultural tende a sofrer ainda mais, o que se torna um desafio enorme para a já fragilizada indústria.
O impacto da tecnologia no negócio é o maior objeto de discussão e especulação há um bom tempo, e o uso de inteligência artificial deve seguir ganhando as manchetes.
Podemos nos questionar, por exemplo, qual o papel da automação nos negócios editoriais ou ainda debater se a tokenização e o blockchain (recursos descentralizados) irão transformar a área de direitos autorais. São muitas as análises.
Com as inovações disruptivas ganhando corpo, a exemplo do ChatGPT, à medida que as discussões avançam, os negócios editoriais seguem se reinventando e recalibrando a forma de fazer as coisas.
Um exemplo simples são as operações editoriais do dia a dia, como a criação de textos de orelha, releases, textos promocionais e de marketing. Ferramentas de IA generativas têm executado essas tarefas de maneira satisfatória. Em perspectiva, podemos ampliar o uso para diversas frentes, desde a avaliação de conteúdo até chegar à análise de métricas de mercado, nicho e público-alvo.
Ainda nesse escopo, podemos citar como tendência a atomização da Gestão 4.0 no mundo editorial, ou seja, o alinhamento dos negócios com as melhores práticas ESG, a atenção à privacidade e o cuidado com a cibersegurança. Em boa medida, deve haver também a aceleração do que chamo de ‘joint ventures editoriais’, onde empresas compartilham riscos, retornos e governança seja para sobreviver seja para catapultar oportunidades em um mercado econômico deprimido, tecnologicamente defasado e estruturalmente desafiador.
Camila Berto (editora executiva) – Companhia das LetrasO ano passado se mostrou bastante desafiador para o varejo de livros, com queda em volume e em faturamento segundo a Nielsen, e a contínua alta dos custos dos insumos de produção. Temos a difícil tarefa de reverter essa situação, mas estou otimista porque 2023 também mostrou como a cultura do livro permanece forte, com ampla oferta de títulos, produzidos por editoras de diversos portes, e uma intensa programação de eventos em todo o país. Acredito que veremos cada vez mais feiras e festivais literários locais, sobretudo para além do eixo Sul-Sudeste, o que deve movimentar ainda mais a produção nacional e favorecer o contato entre autores e leitores.
Sobre tendências: O backlist deve continuar representando uma parcela significativa do faturamento das editoras, e é possível que títulos mais antigos ganhem projeção inesperada, impulsionados por redes como TikTok. Na não ficção, me parece que estamos caminhando para livros que tratem de questões menos momentâneas (talvez pelo atual cenário político no Brasil, menos focado nas eleições presidenciais) e mais amplas, que se debruçam sobre as grandes questões que marcam a sociedade brasileira. A ficção e a poesia nacional também devem continuar em alta, seguindo a excelente toada dos últimos anos. E, no universo comercial e YA, as romantasias e os sports romance parecem despontar como tendências.
Em relação às apostas, o compromisso da Companhia continua sendo o de oferecer um catálogo plural, diverso e democrático, que contribua para o pensamento crítico brasileiro e que traga o melhor da literatura para os leitores, com histórias para todas as idades que fomentem a cultura do livro no país e o prazer de ler. Nesses primeiros meses, destacaria Faca, em que Salman Rushdie reflete sobre a tentativa de assassinato que sofreu em 2022, e Os náufragos do Wager, de David Grann, a história surpreendente de um naufrágio no século XVIII e que se tornou um fenômeno editorial nos Estados Unidos, além de uma extensa campanha em torno dos 60 anos do golpe militar no Brasil. Mas os leitores podem esperar grandes projetos – tanto de ficção como de não ficção – que serão anunciados ao longo do ano.
Marcos da Veiga Pereira – SextanteEm 2024, a Sextante passa a apostar em livros de ficção e não ficção infantis. Nossa ideia é começar a formar um catálogo nesta área. Entre as temáticas, histórias ilustradas, títulos de educação emocional, de aprendizado, para colorir e também educativos (dois novos projetos em parceria com o Manual do Mundo). Também vamos investir em mais títulos voltados ao universo feminino que tratam sobre a igualdade, a inclusão, o aborto e a maternidade.
Na Arqueiro, estamos otimistas com a sequência de dois grandes autores da casa: Freida McFadden com O segredo da empregada e A.J. Finn com a continuação do thriller A mulher da janela. Sempre de olho no que vem aquecendo o mercado internacional, contratamos para este ano um novo gênero da ficção: a romantasia."
André Fonseca – Citadel
Mesmo com todos os desafios que o ano de 2023 trouxe consigo, a Citadel seguiu com o seu padrão de crescimento nos últimos anos. Para 2024 pontuo algumas possíveis previsões:
Ter informações precisas sobre venda e posicionamento não é mais um diferencial, é uma exigência. Por isso, a utilização dos metadados se mostra como o grande indicador para tomadas de decisão editoriais e comerciais;
Entender o poder do nicho também é fundamental. Em 2023 novamente livros de diferentes nichos viraram grandes best-sellers, sejam eles nos segmentos juvenis, religiosos ou de desenvolvimento pessoal. Trazer o sucesso de um nicho para o grande público é um dos grandes méritos de qualquer editor;
A Inteligência Artificial ainda vai dar o que falar, mas é de extrema importância que os editores e o mercado como um todo saibam como usar as capacidades dessas ferramentas para o bem do mercado e não o contrário;
Por fim, continuo acreditando na eficiência título a título. Ser assertivo naquilo que é publicado é o caminho para o crescimento orgânico. Com uma grade de lançamentos muito forte, a Citadel consolidará de vez o seu espaço entre as grandes editoras do país em 2024. Com novos selos e novas linhas editoriais, desbravaremos novos públicos, mas sem perder a assertividade para crescer nosso catálogo de maneira orgânica.
Sônia Machado Jardim – RecordApós a pandemia, a gente percebeu um crescimento do interesse nos livros de ficção. Antes a gente tinha um mercado mais aquecido na área de autoajuda. Curiosamente, o segmento do drama foi bem. O que pode ser uma novidade este ano é o audiobook, há uma grande expectativa nessa curva de crescimento com a entrada da Audible no mercado brasileiro. Acho que há um grande potencial. A população não-leitora brasileira é gigantesca mas todo mundo gosta de uma boa história, não só na área de ficção. Em não-ficção, crescimento profissional, desenvolvimento pessoal, a gente tem uma possibilidade de verificar o ingresso de uma legião de não-leitores consumindo conteúdo. E no final das contas, nós somos geradores de conteúdo.
Especificamente no caso da Record, nós temos grandes livros para 2024, e acho que o grande lançamento, talvez da década, é o livro inédito do Gabriel García Márquez, Em agosto nos vemos, que chega agora em março. O livro vai surpreender os leitores, é Gabo na sua melhor forma, e ele vai estar renascendo, revivendo, para chegar às mãos dos leitores. É uma preciosidade. No YA também tem muita novidade, um dos destaques é o livro novo da rainha da fantasia, Sarah J. Maas, Casa de chama e sombra, que sai no fim deste mês pela Galera. É um ano que promete, com muito lançamento forte que vai dar motivo para o leitor ir a uma livraria.
Maurício Sita – Literare BooksEstá cada vez mais difícil fazer previsões macroeconômicas mesmo particularizando para o micro-segmento de negócios das editoras, mas o otimismo sempre nos impulsionou, e, se nem tudo não está como esperamos, costumamos trabalhar em dobro para atingirmos os resultados que desejamos. Isto não é apenas um jogo de palavras, na verdade é uma parte das nossas estratégias de negócios.
Exemplifico informando que em outubro de 2023 plantamos em Dubai a semente de um projeto editorial e em novembro deste ano lançaremos naquele país o primeiro livro em que exaltamos que Lugar de mulher é no topo do mundo.
Em novembro de 2023 lançamos quatro livros no Japão com a presença dos autores que realizaram palestras e sessões de autógrafos. Isso se repetirá neste ano. Retomando o tema das previsões, acho que após a turbulência no varejo de livros nos últimos anos com a quebra em definitivo de grandes redes, a percepção é de que o mercado se estabilizou e está em expansão. O crescimento da rede Leitura é a grande notícia a ser comemorada. Outras redes menores também estão estáveis e com tendência a crescerem.
Seria quase dispensável dizer, principalmente para os leitores do PN, o quanto as editoras necessitam de um varejo forte e pujante.
A realização da Bienal do Livro em São Paulo também estimula o mercado, não apenas pelo evento em si, mas pelo fato do livro virar a bola da vez na imprensa e na mente das pessoas.
Acredito também que os “tiktokers”, “influencers” e “booktubers” ajudarão cada vez mais a estimular a leitura e a criar novos leitores.
Por tudo isso apostamos que nosso mercado continuará surpreendedo!
Sobre tendências: Acho que os livros de ficção continuarão bem, por serem fonte de prazer e válvula de escape. Livros que ajudem pessoas a encararem suas inquietudes ou solucionarem problemas, ou aprenderem coisas específicas como finanças pessoais, vender melhor, vencer na vida, melhorar a qualidade de vida etc. ou seja, autoajuda, continuarão com espaço garantido.
Temas atuais como ESG, racismo, diversidade e feminismo terão um campo fértil.
Aqui na Literare Books International temos um catálogo bem variado, assim como nossos selos Literare Kids e Literare Edu, mas continuaremos a tratar de parentalidade, autismo, TDAH e livros focados no empoderamento feminino, empreendedorismo, gestão, inteligência artificial, entre outros.
Rebeca Bolite (editora executiva) – IntrínsecaEstamos otimistas com o mercado editorial em 2024. Os livros de não ficção voltaram a ocupar um importante espaço nas listas de mais vendidos, e a ficção, que veio crescendo nos últimos anos, não recuou. Houve também um importante retorno das livrarias físicas ao dia a dia do leitor e pudemos ver mais um ano da consolidação do e-commerce.
Sobre tendências: Na não ficção, acreditamos que os livros voltados para o bem-estar físico e mental estão em alta. Em janeiro publicamos pela primeira vez no Brasil um clássico do gênero, Como ser adulto nos relacionamentos, de David Richo, e já está em pré-venda Construa a vida que você quer, de Arthur C. Brooks, professor de Harvard, especialista em felicidade, em parceria com Oprah Winfrey. Na ficção, os livros com histórias inspiradoras com mensagens que trazem conforto e bem-estar são forte tendência. Um bom exemplo é o livro de estreia de Meg Shaffer, O jogo dos desejos, também em pré-venda.
Felipe Brandão (diretor editorial) – PlanetaApós um ano de mudanças, desafios e aprendizados, estamos esperançosos para 2024, com uma projeção de crescimento. Ampliamos nossa linha infantojuvenil e de não ficção nacional, assim como maior investimento na ficção. Sempre pensando em como estreitar ainda mais nossas relações com os leitores. Como tendência, destaco o crescimento dos livros middle grade, autoajuda especializada, com temática abrangente e capaz de atingir públicos mais gerais, romantasy e healing fiction. Seguimos acreditando nos livros, e isso é o que nos motiva desde sempre, com boas histórias e excelentes resultados.
Leonora Monnerat (diretora executiva) – HarperCollinsDepois de quase 6 anos de mudanças profundas no mercado, em que passamos por recuperações judiciais de grandes redes, aumento de custos e até uma pandemia, finalmente o mercado editorial deverá, assim esperamos, ter um ano um pouco mais estável em 2024. Acreditamos que o cenário será favorável para o crescimento do número das livrarias físicas no Brasil e que o canal online deverá manter a sua relevância atual. O preço continuará sendo um desafio para o mercado editorial, por também ser um fator determinante para a decisão de compra, segundo o Panorama de Consumo de Livros CBL/Nielsen. A entrada de um relevante player para comercialização do nosso conteúdo no formato áudio deverá movimentar o ano. A competição pela atenção do consumidor continuará acirrada e as editoras terão cada vez mais um papel importante na interação e na comunicação com as comunidades de leitores.
Sobre tendências: O que estamos vendo para o ano de 2024 é um fortalecimento dos livros infantis, principalmente dos clássicos e de grandes marcas. Quando olhamos para a parte de não ficção, a tendência que chama atenção é a de livros de desenvolvimento pessoal com base científica e que também abordam o tema da saúde mental. Como parte do forte crescimento de livros religiosos que vimos em 2023, podemos falar que 2024 poderá ser o ano da ficção cristã e a continuidade dos devocionais. O fenômeno do TikTok deve continuar ditando algumas tendências de ficção comercial, sendo um destaque a romantasia, por exemplo.
Martina Limoni (diretora de marketing) – PaniniO mercado está crescendo e a demanda por títulos em quadrinhos está cada vez maior. A Panini espera ampliar ainda mais o alcance da distribuição em todo o Brasil, seja em escolas, bancas ou livrarias. Já no caso dos quadrinhos asiáticos como um todo (capitaneados pelos japoneses, mas seguidos em bom ritmo pelas produções da Coreia do Sul) vêm em viés de alta no ocidente. Em 2024 devemos ver uma manutenção desse cenário, com tendência de expansão. A demanda por novas obras segue grande, impulsionada pela visibilidade das mídias de apoio, como as adaptações em animação, série e games, além dos diversos eventos ligados ao setor espalhados pelo país.
O leitor brasileiro nunca teve tantas opções de leitura do mercado asiático como em 2023, e 2024 tem toda a condição de superar esses números. Destacamos a chegada de uma obra com grande base de fãs, Solo Leveling, que nos próximos meses estará disponível tanto em quadrinho, como em livro, pela Panini. A obra chega acompanhada do recém lançamento da adaptação em animação, bastante antecipada. Outra coisa é que muitas escolas têm abordado a Panini para pedir quadrinhos que possam ser inseridos em assinaturas educacionais.
Paulo Rocco – RoccoÉ sempre difícil fazer uma previsão, dou como exemplo o que aconteceu recentemente com a Saraiva, Cultura e Americanas, no entanto estou otimista com relação ao mercado editorial em 2024, a pujança pode ser sentida nas duas bienais do livro passadas, em São Paulo e no Rio de Janeiro, com recordes de presenças e vendas. Creio que estamos tendo um interesse cada vez maior pelo livro, principalmente o impresso, com as livrarias movimentadas e com a ampliação do número delas.
Sobre tendências: Tem sido um fator bastante animador o público infantojuvenil, que cresceu bastante, temos mais editoras e essa diversidade é muito importante para o mercado, acompanhada por novas livrarias.
Marcel Cleante – Ciranda CulturalAs previsões são otimistas, tivemos um crescimento significativo em 2023 e pretendemos crescer mais em 2024.
Temos notado a cada dia o maior interesse das pessoas por livros, com isso, estamos diversificando o catálogo e os canais de distribuição, para conseguir atender a esse "novo” público.
Além da grande retomada das livrarias, que fortalece o mercado e impacta diretamente o público leitor.
Encontrar o leitor certo, no lugar certo, com o livro certo é a nossa aposta.
Sobre tendências: Acredito que a lista dos mais vendidos do PublishNews responde bem a essa pergunta. Notamos que livros como devocionais e de desenvolvimento pessoal, os que abordam diversidade e inclusão, além dos com perfil jovem adulto têm se mantido entre os mais procurados.
Não temos uma aposta única, acreditamos que a formação do catálogo diversificado é o melhor caminho para o crescimento almejado.
Pedro Almeida – Faro EditorialAcredito que em 2024 o mercado voltará a crescer de forma consistente, após ter feito uma série de ajustes importantes em 2023. Cresceremos organicamente, com a abertura de mais livrarias e pontos de vendas. Também noto o mercado elevando os investimentos em aquisição de títulos, contratação de autores, aumento do número de lançamentos e apostas editoriais. Em virtude desse movimento, poderemos ver em breve as listas de mais vendidos apresentando uma quantidade maior de novidades.
No campo institucional, vejo uma disposição maior de investimentos nas áreas culturais, que em algum momento devem resultar em expansão mercadológica. E também grande possibilidade de termos os preços de venda dos livros mais equilibrados entre livrarias físicas e .com, deixando toda cadeia mais justa e impulsionando o varejo, seja através de lei, pelas editoras ou por autorregulamentação do mercado, que já concluiu que da forma como está, não estimularemos as livrarias a seguirem apresentando novos livros a mais leitores.
Sobre tendências: Vejo os leitores e o mercado ávidos por novidades, algo que dê uma remexida e uma agitada nas histórias e temas, o que deixa bastante espaço para experimentação e testes, com boas chances de surgirem novos fenômenos nacionais e internacionais.
A ficção comercial vai continuar em alta, em todas as suas vertentes: inspiracionais, reflexivas, fantasia, romântica, comédias, bem como a ficção científica especulativa e o romantasy.
Também acredito que o interesse pelos livros de auto-ajuda, com destaque para os devocionais, continuará a crescer, bem como os livros práticos sobre como lidar com desafios do dia a dia, pessoais e profissionais.
Para 2024 temos apostas que se concentrarão especialmente em ficção juvenil e adulta, em diversos gêneros.
Amanda Orlando (Globo Livros) e Paula Drummond (selo Alt) – Globo LivrosCom o retorno dos grandes eventos em seus formatos pré-pandemia, Amanda Orlando, editora da Globo Livros, acredita que o mercado terá uma grande Bienal do Livro em São Paulo, com potencial para quebrar todos os recordes. “Também veremos o fortalecimento de feiras e festas literárias fora do eixo Rio-São Paulo, em especial no Nordeste, um grande mercado leitor que segue em ascensão. Paula Drummond, editora da Alt - selo para o público jovem -, complementa ressaltando a força dos eventos e dos clubes de leitura para o desenvolvimento de uma comunidade leitora ainda mais integrada em 2024.
Na literatura adulta, Amanda Orlando aposta no crescimento das vozes femininas nacionais nos mais diversos gêneros, com destaque para a Flip do ano passado que foi um excelente termômetro dessa tendência, revelando uma participação massiva de escritoras representantes das mais variadas vertentes literárias. Paula Drummond reforça esse maior destaque das mulheres no mercado deste ano e percebe uma literatura nacional mais aquecida, com mais autores queer, negros e indígenas.
Amanda ressalta ainda que a fantasia e o terror vão seguir quebrando as barreiras de nicho e conquistando o grande público. Nossa aposta na Globo Livros no gênero é Bunny, da Mona Awad, lançamento do primeiro semestre, um dark academy com altas doses de terror, que une essas duas tendências. “Além disso, estamos com uma geração de quadrinistas e ilustradores muito boa, o que pode aquecer esse mercado. O aspecto visual dos livros também terá atenção especial em 2024, com foco em edições especiais e projetos gráficos únicos – uma demanda que os leitores têm, especialmente por causa das redes sociais. O desafio é atender o desejo do público com um preço possível de ser praticado”.
Na não ficção, o segmento de autoajuda e negócios continuará forte, com destaque para os títulos de soft business, que transitam entre os dois gêneros. “Vejo um crescente interesse dos leitores por grandes reportagens sobre a América Latina em geral e o Brasil em especial, que investigam o nosso passado e o presente e convidam a reflexões sobre a sociedade que queremos no futuro. Nossas principais apostas nesses nichos são América Latina Lado B, do jornalista Ariel Palacios, e o novo livro de Ana Paula Araújo, Agressão, que investiga como o descaso da nossa sociedade em relação à violência contra a mulher gera milhares de vítimas todos os anos”, comenta Amanda.