CEOs das líderes do Ranking Anual do PN dizem o que esperam para 2023
PublishNews, Talita Facchini, 12/01/2023
Representantes das maiores editoras brasileiras falam de suas expectativas, apostas e tendências para o que pode se destacar no novo ano

Pensando em descobrir o que os nomes à frente das principais editoras do país esperam para 2023, o PublishNews perguntou aos CEOs das primeiras colocadas no Ranking Anual de 2022 suas previsões para o novo ano e, do ponto de vista editorial, se eles enxergam alguma tendência que poderá ganhar força nos próximos meses.

As respostas se dividiram entre uma expecativa de estabilidade após dois anos conturbados, tanto para o varejo de livros quanto para as compras governamentais; dúvidas e reclamações sobre o preço das matérias-primas envolvidas no negócio do livro; boas perspectivas em relação ao diálogo com o setor político, mas incertezas no plano econômico; a previsão de que gêneros como o Young Adult vão se manter em alta, também pela grande circulação que o estilo garante na comunidade de leitores do TikoTok, a #BookTok; e apostas firmes em autores nacionais.

Em janeiro de 2022, o PublishNews fez essa mesma pergunta aos CEOs ou representantes das editoras que ocupavam as 15 primeiras posições do Ranking Anual de 2021 do PN. As respostas viraram matéria em nosso site. Agora, repetimos o formato.

Executivos de 16 empresas (no 14º lugar, estão três editoras empatadas) foram convidados a participar. As editoras foram as seguintes: Gente, Grupo Companhia das Letras, Sextante, Grupo Editorial Alta Books, Grupo Editorial Record, Literare Books, Panini, Citadel Grupo Editorial, Intrínseca, Planeta, HarperCollins Brasil, Santillana, Buzz, Ediouro, Globo e Vozes.

Veja as previsões para 2023 no mercado editorial brasileiro:

  • Rosely Boschini – Editora Gente

"A previsão que eu vejo para 2023 no setor editorial é que a retomada do Ministério da Cultura e também da área de educação será muito importante para nós do mercado editorial e a sociedade como um todo.

E isso me enche de alegria, ao saber que a cultura voltará a ter uma posição independente, uma posição de destaque dentro do governo. Porque, as esferas maiores tendo essa clareza em relação a cultura e sua importância, transmitirá para nós, do mercado, e a sociedade em geral.

Além disso, voltar a ver a cultura como algo importante, é essencial para as nossas raízes e para a nossa história.

É com a retomada de políticas públicas como essa, que se incentiva a livre leitura dentro da área de educação, principalmente no cenário nacional, fazendo com que o livro volte a ter uma posição de destaque. Esse é meu panorama para o cenário político brasileiro.

E, dentro do mercado editorial, para a Editora Gente, eu sempre gosto de ressaltar que acredito muito nos livros de autores nacionais e estamos cada vez mais apostando neles, porque realmente estão fazendo a diferença para as nossas empresas e para as nossas instituições. Afinal, muitos deles já são consultores e empresários que estão num ponto de maturidade muito forte e bastante atuantes no setor industrial, corporativo e produtivo".

  • Otávio Marques da Costa – Grupo Companhia das Letras

"2021 foi absolutamente atípico para o mercado editorial, não só o brasileiro, mas o global. As restrições geradas pela pandemia impulsionaram as vendas de livros. Mais que isso, em alguns locais ocasionaram mudanças estruturais no varejo; houve uma aceleração da migração, já antes em curso, para o on-line. Ambientes digitais de circulação de ideias sobre livros e leitura também cresceram, amadureceram. O leitorado se fortaleceu. Tudo isso para dizer que o ano que viesse depois deste seria desafiante, como foi 2022 em muitos mercados, notadamente o norte-americano. Por aqui é possível dizer que houve uma estabilização ou ligeiro crescimento em relação aos patamares de 2021, o que é uma excelente notícia, e que nos dá muita esperança para 2023.

Este que se inicia é um ano em que se abrem novos horizontes políticos mas em que tensões permanecem, como mostram acontecimentos recentes. Pensar o Brasil e suas muitas questões não resolvidas – a ascensão efetiva de minorias ou maiorias minorizadas, o patrimonialismo, os destinos da direita radicalizada, a economia e dilemas orçamentários, a busca por redução da desigualdade – seguirá em pauta, o que possivelmente – espera-se – terá impacto na oferta editorial.

Ainda, o cenário vibrante para a ficção nacional veio para ficar; temos hoje muitos bons autores e autoras e uma comunidade consolidada de leitores para esses livros. Noto ainda um ambiente muito favorável para as publicações infantis, YA e juvenis – aqui basta frequentar uma bienal do livro para averiguar a força e o tamanho dessa comunidade de leitores. De resto, nossa aposta é a de sempre. Seguir respeitando o leitor, buscar qualidade onde ela esteja, sem preconceitos".

  • Marcos da Veiga Pereira - Sextante

"Em 2023, a Sextante segue apostando em contratações importantes na área de saúde e bem estar, com autores que são referência em temas como saúde mental e comportamento, além de títulos relevantes em desenvolvimento pessoal e negócios. Entre os destaques, temos o megaseller Nada pode me ferir, de David Goggins, inicialmente autopublicado nos Estados Unidos e previsto para chegar às livrarias brasileiras em abril, e Como fazer amigos e influenciar pessoas, clássico de Dale Carnegie, que ganha uma edição comemorativa atualizada e com capa dura no mês de março.

Já a Arqueiro, vem com um dos lançamentos mundiais em ficção mais aguardados para o primeiro semestre: Atlas: A história de Pa Salt, o último livro da série As sete irmãs, de Lucinda Riley, autora irlandesa que faleceu em 2021, mas deixou um roteiro sobre o final da trama escrito em colaboração com seu filho, Harry Whittaker".

  • J.A. Ruggeri – Alta Books

"Talvez a palavra não seja previsão, mas constatação. Os maiores desafios deste ano encontram similaridades naqueles de 2022, criando cenários desafiadores aos editores. A disrupção das cadeias globais de suprimentos e a economia doméstica fragilizada seguem no centro das atenções.

Com a economia deprimida e o poder de compra defasado, é desafiador recompor margens e equilibrar custos. Do mesmo modo, papel escasso e inflacionado segue trazendo desafios estratégicos enormes aos editores, assim como o dólar valorizado gera impactos negativos aos negócios, à medida que o mercado editorial é, por si só, dolarizado (insumos, adiantamentos em escala, que são endividamentos, entre outros).

Não obstante, persistem para os editores brasileiros os riscos domésticos ligados às questões fiscais, que criam um ambiente socioeconômico frágil. As pessoas estão endividadas, portanto deixam de consumir bens culturais; juros básicos altos desestimulam os investimentos produtivos do setor e encarecem o crédito. A parte boa é que as políticas públicas voltados para a cultura e educação voltaram à mesa de discussão, o que pode trazer ganhos para o setor no médio prazo.

Do ponto de vista editorial, são muitas as tendências, mas acredito que as mais representativas são: Inteligência Artificial (IA), requalificação dos metadados, economia da atenção, agregadores de conteúdo sumarizados, audiobooks, a força das comunidades, booktoks e olhar revisitado para os fundamentos da indústria.

Em 2023, nossos esforços se voltam para a atomização das marcas Alta Geek e Alta Novel, assim como para a pavimentação de novas frentes, como governo e clássicos. A área de ficção também será foco, onde graphic novel, alta literatura e textos experimentais andarão lado a lado na construção de um catálogo de referência. Aquisições e fusões são sempre oportunidades que seguimos avaliando, desde que preencham os requisitos básicos de relevância de conteúdo, aderência de catálogo e criação de valor presente e futuro".

  • Sonia Machado Jardim – Grupo Editorial Record

"Tudo depende da economia. A previsão de crescimento para o PIB em 2023 está menor do que o ocorrido em 2022, o que levaria a supor que pode acontecer um impacto na venda de livros. Mas ainda acredito que o livro é uma opção de lazer mais barata que outras, com o benefício adicional de que pode ser compartilhada por várias pessoas. A pandemia trouxe a redescoberta do prazer da leitura, por isso acredito que teremos um 2023 similar a este ano de 2022.

A ficção está em alta neste momento. Olhando os mais vendidos de 2022 dá para ver essa tendência, que acredito vá continuar em 2023. Principalmente livros voltados para o público YA, se beneficiando da divulgação nas diversas redes sociais.

Lançamentos da Holly Black e Victoria Schwab, autoras muito apreciadas pelo público jovem, prometem. Teremos livro novo da Isabel Allende e também lançamentos fortes de não ficção, como o do Michael Sandel. Vai ser um ano com lançamentos fortes de grandes nomes!"

  • Mauricio Sita – Literare Books

"Estamos prevendo uma estabilidade. Aparentemente as turbulências se acalmaram no varejo de livros. Os últimos anos foram marcados pela instabilidade das grandes redes de livrarias, já que duas das maiores entraram em recuperação judicial e fecharam dezenas de lojas, incluindo algumas megastores. Acreditamos na estabilidade, pois, para a felicidade das editoras, algumas redes de livrarias se expandiram e novas livrarias têm sido abertas por todo o país. É muito bom ver empresários apostando e investindo no varejo de livros.

Aqui na Literare Books International decidimos apostar nas nossas estratégias, independentemente do comportamento do mercado. Esse nosso foco permitiu que passássemos o ano todo com vários livros nas listas dos mais vendidos. Publicamos mais de 200 títulos no ano passado, apesar da pandemia e de outras crises.

Nosso novo selo Literare Kids receberá uma atenção especial. Vamos criar um selo para abrigar os livros que publicamos na área médica e da saúde física e mental como um todo.

Somos a editora que publica o maior número de títulos sobre Autismo e Parentalidade. Esses dois temas continuarão no nosso radar e todo esforço será colocado para o incremento das vendas dos títulos recentemente publicados.

Continuaremos a estimular as vendas do livros digitais em todas as livrarias virtuais e nas mais diversas plataformas. Esses mercados deverão crescer mais, uma vez que não sofrem a pressão do aumento do custo do papel de impressão, que acaba redundando no encarecimento dos livros impressos".

  • Leonardo Raveggi – Panini

"Visto que houve muitas mudanças e variações nos preços de matéria-prima no mercado brasileiro e mundial, é difícil realizar previsões, e será preciso acompanhar os próximos meses para poder entender como serão os comportamentos daqui para a frente. No caso da Panini, em um cenário pós-Mundial, apostamos em um plano editorial amplo, que atenda a todos os públicos, faixa etárias e culturas.

Presenciamos diferentes públicos retomarem seus contatos e acentuarem suas compras no ponto de venda no ano de 2022, despertando interesse para além do álbum da Copa do Mundo, mas também levando as demais categorias para dentro de suas casas. Agora, o desafio é manter esse hábito e variedade para que esses novos players se sintam imersos no universo da marca.

Os mangás têm apresentado crescimento exponencial nos últimos anos e esta tendência deve se acentuar ao longo de 2023. Nós, da Panini, apostamos nos diferentes universos que exploram o formato. Recentemente, anunciamos e lançamos algumas destas novidades, como: DC com Batmangá, Turma da Mônica com o Geração 12, além do anúncio de Star Wars e Lady Bug na CCXP Marvel, que também estão no calendário de 2023.

Outra aposta em publicações são os quadrinhos de super-heróis norte-americanos, que seguiremos em duas frentes de formatos: com os conhecidos heróis, como os Omnibus que funcionam muito bem para o mercado colecionável brasileiro, e também com os novos personagens para diferentes preços e públicos".

  • Marcial Conte Jr. – Citadel

"Projetamos um ano de grande crescimento para a Citadel. Novas possiblidades, novas linhas, novos autores. Muita coisa boa chegando. O mercado mudou, se reestabeleceu pós pandemia e deve se fortalecer cada vez mais. O livro voltará a ser um objeto de desejo, recebendo assim o seu devido valor.

As redes sociais continuam sendo um balizador para as vendas: TikTokers, Instagram, influenciadores etc. Esse é o caminho para direcionar o público para as vendas. Por enquanto, esse o reflexo tem sido maior nas linhas de ficção, como já apontamos no ano passado, mas a tendência é que isso se expanda para as outras linhas editoriais também".

  • Intrínseca – Até o fechamento da edição, não tinha enviado as respostas

  • Felipe Brandão – Planeta

"Os últimos anos foram repletos de mudanças, desafios e aprendizados, e seguimos otimistas para 2023. Este ano, a Planeta completa 20 anos, e estamos preparando uma série de projetos especiais, eventos comemorativos e novidades editoriais. Acredito que teremos um bom ano, com foco em novas linhas, com livros fortes e sempre pertinentes, pensando em estreitar nossos laços com os leitores.

Como tendência, destaco o crescimento dos livros para públicos mais jovens, middle grade e young adult, e o fortalecimento da ficção nacional. Acreditamos nos livros, e isso é o que nos move e motiva, trazendo boas histórias e os melhores resultados".

  • Leonora Monerat – HarperCollins

"Acredito que o movimento de leitura de jovens que estão no TikTok vai continuar com força total, livros YA vão se manter em alta assim como todo o universo que pode comunicar com esse leitor. A busca por entendimento e fé num momento conturbado como o que vivemos deve seguir. As pessoas também estarão interessadas história e política, leituras que expliquem o mundo, até por conta dos últimos movimentos que temos visto no país.

O grande nó da nossa indústria continuará sendo o custo da matéria prima e talvez a gente continue a ver movimentos de publicações em direções opostas: de um lado quem paga mais para ter uma edição luxuosa em sua casa e de outro pessoas que estão em busca de edições mais econômicas".

  • Santillana – Até o fechamento da edição, não tinha enviado as respostas

  • Anderson Cavalcante – Buzz

"Este ano será de muito crescimento e de leitores mais exigentes, resultado do grau de consciência das pessoas após as adversidades enfrentadas nos últimos anos somada à necessidade de crescimento individual.

Acredito que os temas relacionados à cultura coreana vão ganhar ainda mais espaço e livros com essa pegada vão obter posição de destaque nas listas de mais vendidos, além de liderança feminina e temas relacionados à desigualdade social e tecnologia. Falando em tecnologia, a criação e o consumo do conteúdo #BookTok do TikTok com certeza irá crescer ainda mais neste ano com grandes chances de se tornar mais um canal de distribuição e vendas.

Na Buzz, temos uma aposta que será uma lançamento mundial que vamos poder divulgar em breve".

  • Ediouro – Até o fechamento da edição, não tinha enviado as respostas.
  • Globo – Até o fechamento da edição, não tinha enviado as respostas.
  • Vozes – Até o fechamento da edição, não tinha enviado as respostas.
[12/01/2023 10:00:00]