Escritora Mariana Torres lança novo romance sobre maternidade real na Livraria Mandarina
PublishNews, Redação, 30/11/2023
Lançado na Flip, ‘Depois que a vida chegou’ é o segundo livro da paulistana. Por meio de cartas ao filho, a protagonista destaca os desafios de diferentes papéis de uma mãe; evento de lançamento ocorre nesta quinta (30)

O romance epistolar Depois que a vida chegou (Caravana Editorial), da paulistana Mariana Torres, narra as dores de uma mulher que passa a questionar seu lugar no mundo quando atravessada pela maternidade. O livro será lançado em São Paulo, nesta quinta-feira (30), na Livraria Mandarina (Rua Ferreira de Araújo, 373 – São Paulo / SP), a partir das 18h. A obra apresenta diversas situações em que à personagem é exigida maior atenção ao cuidado, como a preparação de malas para uma viagem.

Mãe de dois filhos – o primeiro, para quem as cartas são destinadas, e o segundo, que nasce quando o mais velho ainda é um bebê –, a protagonista não nomeada desta história reconstrói os acontecimentos de uma família, questionando também seus papéis como mulher, esposa, mãe e filha. Em aparente conformidade com a rotina, ao longo das páginas as cartas transbordam desabafos sobre o cansaço materno, carga mental feminina e incompletude frente ao trabalho invisível. O tema vai ao encontro de discussões atuais, como a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, que propôs a discussão de “desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.

A obra apresenta diversas situações em que à personagem é exigida maior atenção ao cuidado, como a preparação de malas para uma viagem. Mesmo que o pai das crianças se prontificasse para a tarefa, a mãe é culpada pela falta das fraldas: “Sou a responsável final pelas tarefas domésticas. A chefe dessa empresa prestadora de serviços não remunerados”, diz trecho do livro. Principalmente no início dos relatos, há momentos sutis em que, no diálogo parental, as vontades do pai são mais acatadas e ouvidas, inclusive pela rede de apoio que os circunda, trazendo à mãe um sentimento de isolamento. Mas também, sobretudo, um deslocamento de si mesma. “Seu pai (...) trabalha duro a semana inteira para não pensar durante o fim de semana. Para apenas ser. O ser que há tanto deixei de ser”, a protagonista afirma, em outro trecho.

Durante a leitura, também é possível notar o deslocamento gradual do centro da narrativa: da criança para quem os relatos são dirigidos, o leitor volta o olhar para a mãe, fragilizada pelas relações construídas e desconstruídas pela maternidade. A autora define seu estilo de escrita como cru e objetivo e conta que o livro começou de maneira despretensiosa. “Todo dia escrevia um pouquinho no Word, entre os momentos de amamentação do meu segundo filho. Quando me dei conta, tinha escrito bastante. Enviei para meu irmão, que disse que tinha feito um livro. Foi chocante”, relembra Torres. A autora conta ainda que a obra passou por leitora crítica da escritora e editora do Selo Auroras, Dani Costa Russo, antes de seguir para a Caravana. “Depois de apenas 30 dias recebi a resposta de que tinha sido aprovada. Meu texto seguiu, então, para preparação com a editora”, comemora.

A depressão pós-parto e demais questões de saúde mental, como conversas na terapia e aproximações com a morte são temas trabalhados. A autora conta que parte do processo criativo surgiu durante uma oficina de escrita com a escritora Aline Bei, focada no desenvolvimento de projetos mais longos, como romances. “Em um de nossos encontros, desabafei sobre a minha incapacidade de criar um projeto. Falei sobre o fato de ninguém entender os meus sentimentos, nem mesmo meu marido e minha mãe”, conta. O grupo, incluindo a professora da oficina, a acolheu e a estimulou. “A Aline disse: ‘escreva sobre esse sentimento, você pode se fazer entender pelas palavras escritas’. Meu livro foi construído a partir desse exercício, de escrever esses trechos bagunçados”.

Vivendo em estado de angústia e ausência física e emocional, a protagonista de “Depois que a vida chegou” representa a experiência de muitas mulheres que, mesmo rodeadas por parentes e amigos, carecem de “um entorno com menos certezas e mais abraços”. Da mesma forma, fazem parte da história diálogos sobre a finitude, nas lembranças de momentos com o filho. “Queria poder te dizer já naquela hora que dá pra ter ausência enquanto se respira. Ausência de si. Do outro. E que a morte pode não ser tão ruim assim. Bonita até?”, aponta um dos trechos do romance.

A personagem repensa a maternidade a partir da infância, com uma tentativa de esmiuçar a própria criação. Assim, relembra a relação com a mãe – que seria “inerente” capacitada para a tarefa do cuidado e, portanto, responsável por todas as funções – e o pai que, como afirma a personagem, aparece como “um enfeite pontual, a prova de que se abster é garantia de plenitude, de parentalidade sem crise, de amor jamais contestado”. Outra característica do romance é a consciência de privilégios sociais vividos pela protagonista. Além de gênero, apontamentos sobre classe e raça fazem parte da história, como quando a protagonista a princípio resiste à contratação de profissionais e depois assinala as diferenças entre ela e a funcionária que passa a trabalhar em sua casa. “Quando acordava do meu pouco descanso, ela já estava na porta. Tive vergonha. Raiva dos outros e de mim”.

[30/11/2023 09:00:00]