A obra de Machado de Assis, como já ocorreu em outras ocasiões desde sua morte há mais de 100 anos, ganha agora novos contornos e novas leituras com duas iniciativas: a coleção Todos os livros de Machado de Assis, projeto inédito realizado pela editora Todavia e pelo Itaú Cultural, e a Ocupação Machado de Assis, que abre neste sábado (18), às 11h, na sede do Itaú Cultural (Av. Paulista, 149 – São Paulo / SP).

Todos os livros é uma caixa que reúne toda a produção em livro que Machado publicou durante sua vida. Começa em 1861, com a peça de teatro Desencantos, e vai até o Memorial de Aires (1908), em 25 volumes – o trabalho demandou uma equipe de 20 pessoas, lideradas pelo professor do Departamento de Literatura Brasileira da USP, Hélio de Seixas Guimarães, em cerca de quatro anos de desenvolvimento.

A ideia surgiu quando o professor organizou uma exposição de primeiras edições dos livros de Machado na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, em 2018. Ao organizar os livros em ordem cronológica para a mostra, o pesquisador começou a se questionar sobre o próprio percurso de Machado.

“Ele não abandona poesia e teatro, as portas de entrada dele na literatura”, explica, em uma conversa por telefone com o PublishNews. “Já avançado nos anos 1870, ele vai ser reconhecido como prosador, contista e romancista. O que me pareceu muito interessante é que mesmo na sua fase mais conhecida, dos grandes romances, os gêneros estão entrelaçados na sua produção editorial. Machado foi muito cioso dos próprios livros, sabemos como ele acompanhou as edições, participou dos processos”.

A partir daquela exposição, o editor Flavio Moura, da Todavia, começou a ventilar a possibilidade de publicar obras de Machado. Hélio considerou que uma “obra completa” seria virtualmente impossível, mas uma edição dos livros que o escritor trabalhou em vida – isso sim, seria factível e de grande proveito, tanto editorial como para novas leituras acadêmicas dessa trajetória tão festejada.

Edição

A caixa então trabalha a partir dos textos da última edição em vida de cada livro, as quais o próprio Machado teve a chance de supervisionar. Um grande auxílio no processo foram os documentos e publicações da Comissão Machado de Assis, instituída em 1958 pelo governo federal e da qual participaram nomes como Antonio Houaiss, Lúcia Miguel Pereira, Augusto Meyer, Eugênio Gomes e outros. A Comissão chegou a lançar algumas edições críticas dos livros, e há uma documentação extra que foi utilizada agora por Hélio e sua equipe para a nova edição – especialmente para a apresentação de cada livro, escritas pelo professor.

Uma ferramenta desenvolvida pela Academia Brasileira de Letras também foi de grande valia no trabalho editorial: o Índice do Vocabulário de Machado de Assis, um apanhado completo das obras em prosa e em poesia de Machado.

Algumas decisões editoriais importantes e não tão simples foram tomadas pelo caminho. Por exemplo, o autor repete alguns textos em edições posteriores. Os livros de poemas, como Crisálidas (1864), reaparecem em Poesias completas (1901). “É o mesmo livro, tem uma estrutura semelhante, mas ele exclui poemas e faz modificações entre um e outro. Isso permite ver de uma forma muito concreta o que é o Crisálidas de 64, e o que é o outro, em 1901. Tomamos esses casos como livros autonômos”, explica Hélio.

Todos os 26 volumes – um volume extra com a produção de Machado como funcionário público é incluído na coleção – têm a ortografia atualizada, com indicação, nos aparatos críticos, das variantes ainda admitidas na língua e registradas no "Vocabulário ortográfico da língua portuguesa" (exemplos: cousas, prescrutador, tacto, subtil). Além disso, a pontuação do escritor foi respeitada, mesmo quando soa estranha para o leitor de hoje, segundo a editora.

O projeto gráfico parte da pesquisa e do estudo tipográfico dos originais de Machado. Uma nova família tipográfica foi desenvolvida para os livros, que têm cores diferentes de acordo com os gêneros literários em questão (romances, contos, poesia, teatro). O projeto gráfico da coleção tem a assinatura de Daniel Trench.

Pesquisador experiente da obra de Machado, Hélio explica que tudo foi pensado em conjunto. “Nesses quatro anos, um tempo relativamente curto, definimos trilhos para ter um tratamento comum em todos os livros, e para formar um conjunto. Foi um mergulho no texto, de ler e reler várias vezes, que possibilitou perceber nuances de textos, temas, assuntos, tipos de personagem. Como ele vai adquirindo experiência, vai se tornando mais denso. Dá para ver a obra se formar diante dos seus olhos”, conclui.

Ocupação

Já a Ocupação Machado de Assis – que abre neste sábado (18), no Itaú Cultural – abriga cerca de 100 peças, entre originais, livros do escritor, primeiras edições, reproduções, fotos, recortes de jornal, objetos pessoais e outros itens, reunidos de diferentes acervos. Com concepção e realização do Itaú Cultural e curadoria da Gerência de Curadorias e Programação Artística da instituição, a mostra tem consultoria dos professores e pesquisadores Hélio Seixas Guimarães, Henrique Marques Samyn e Luciana Antonini Schoeps. O projeto expográfico é da arquiteta Francine Moura.

Há também vídeos com leituras dramáticas de contos e poemas, depoimentos de estudiosos de sua obra e publicações em jornais, material inédito produzido para a ocasião. Este material também estará disponível no site da Ocupação, que também entra no ar neste sábado.

Todos os livros de Machado de Assis

TIRAGEM 500 exemplares

FORMATO 41 × 20 × 13 cm

PESO 7,250 kg

PREÇO R$ 1.599,90

ISBN 978-65-5692-488-5

Ocupação Machado de Assis

Itaú Cultural. Avenida Paulista, 149 – próximo à estação Brigadeiro do metrô / Piso térreo

De 18 de novembro de 2023, 11h, a 4 de fevereiro de 2024

Terça-feira a sábado, das 11h às 20h;

domingos e feriados, das 11h às 19h.

Acesso para pessoas com deficiência física

Entrada gratuita