O romance Blackouts (Farrar, Straus and Giroux), de Justin Torres, venceu na categoria ficção, The rediscovery of America: Native peoples and the unmaking of U.S. history (Yale University Press), de Ned Blackhawk, foi escolhido em não ficção. O livro A first time for everything (First Second), de Dan Santat, levou a categoria literatura para jovens, e from incorporated territory (åmot) (Omnidawn Publishing), de Craig Santos Perez, venceu em poesia. Os vencedores levam para casa US$ 10 mil.
A cerimônia contou com a presença de Oprah Winfrey e outras personalidades de TV e do cinema, e teve homenagens para a poeta Rita Dove e para o livreiro Paul Yamazaki, da livraria City Lights, em São Francisco.
Os indicados na categoria ficção ocuparam o palco para ler uma nota sobre a situação na Faixa de Gaza. Lido pela escritora Aaliyah Bilal, o comunicado condenava o "contínuo bombardeio em Gaza", antissemitismo, sentimentos anti-Palestina e a islamofobia, e pedia por um cessar-fogo humanitário. Os autores receberam aplausos de pé após a manifestação. Pelo menos um patrocinador do prêmio, Zibby Media, retirou seu apoio, antes da cerimônia, com preocupações de que a manifestação poderia ser antissemita ou anti-Israel, de acordo com a agência de notícias AP.
Stênio Gardel
"O que está acontecendo agora?", brincou Stênio ao subir no palco, antes de agradecer. "Eu dedico esse prêmio à minha mãe, Irene. Ela não está mais entre nós, mas ela sempre acreditou em mim e eu não estaria aqui se não fosse por ela". Ele agradeceu ainda sua família, a equipe da Companhia das Letras e da Agência Riff, e à tradutora, Bruna Dantas Lobato, que estava a seu lado no palco, bem como à New Vessel Press.
"Ao crescer como um garoto gay no interior do nordeste do Brasil, era impossível pensar ou sonhar em tamanha honra. Mas ao estar aqui nesta noite, como um homem gay, recebendo este prêmio por um romance sobre a história da jornada de outro homem gay rumo à autoaceitação, eu gostaria dizer a todos que já se sentiram em desacordo consigo mesmos, que o seu coração e o seu desejo são verdadeiros, e você merece, como qualquer outra pessoa, ter uma vida completa e alcançar os seus sonhos", disse, emocionado – e fazendo emocionar.
A tradutora, brasileira que hoje vive em St. Louis, agradeceu à editora New Vessel Press por colocar o seu nome na capa do livro, e mencionou a hashtag #namethetranslator. "Não somos fadas misteriosas trabalhando no escuro", disse.
"É tão raro ver o Brasil que eu conheço nos livros, e é ainda mais raro um livro como esse receber esse tipo de honraria, e estou tão agradecida. Obrigado por lerem traduções, por reconhecerem o trabalho de tradutores, por reconhecerem nossa arte no nosso canto da América. Um viva para ler o mundo com empatia e curiosidade", celebrou.
Veja o momento em que o prêmio é anunciado para Stênio e Bruna:
Em seu romance de estreia, Gardel conta a história de Raimundo, que aos 71 anos aprende a ler e a escrever para poder ler uma carta de seu amigo e amante de infância, Cícero. "Com uma narrativa sensível e magnética, o escritor cearense leva os leitores pelo passado de Raimundo, permeado de conflitos familiares e da dor do ocultamento de sua sexualidade, mas também das novas relações que estabeleceu depois de fugir de casa e cair na estrada, ressignificando seu destino mais de uma vez", segundo a sinopse da Companhia das Letras.
De acordo com o júri do prêmio, o romance de Stênio – que já foi finalista do Prêmio Jabuti 2022 e outras distinções – é uma exploração do desejo queer, da violência e da vergonha, e do poder transformador da palavra escrita.
A categoria de tradução do National Book Awards foi retomada em 2018, depois de uma primeiro jornada entre 1967 e 1983. Nessa primeira versão, foram premiadas traduções de autores como Julio Cortazar, Italo Calvino, Paul Valery e Cesar Vallejo. Em 2022, quem venceu foi a escritora argentina Samanta Schweblin.