Os desafios do mercado de audiolivros em países pequenos
PublishNews, Talita Facchini, 23/10/2023
Assunto foi discutido em painel do Publishing Perspectives Forum trazendo as visões da Hungria, Eslovênia e Portugal

Há alguns anos os audiolivros recebem uma atenção especial na Feira do Livro de Frankfurt. Com um pavilhão inteiro focado na palavra falada – audiolivros, podcasts, softwares e serviços de áudio – o segmento também ganhou mais uma vez destaque na programação.

O Publishing Perspectives Forum, por exemplo, dedicou a tarde de quinta (18) para falar sobre a evolução do mercado de áudio, o aumento das vendas e do público e como anda o segmento em mercados menores.

O último tema, especificamente, foi discutido entre Bence Sárkozy, CEO da empresa húngara Libri Publishing House; Alma Čaušević Klemenčič, CEO da eslovena Beletrina Academic Press; e Pedro Sobral, CEO do Grupo LeYa, de Portugal, com moderação de Nathan Hull, Chief Strategy Officer da Beat Technology.

Tocando no assunto da inteligência artificial, Bence destacou que sua empresa está focada em dar espaço para atores e atrizes locais e que têm experiência na dublagem de filmes. “Trabalhamos com eles e queremos dar-lhes um bom emprego. Temos apenas 60 títulos até agora, mas tentamos encontrar as melhores vozes porque acredito que um importante fator para o marketing é a voz, quem está lendo, quem está por trás do livro e por que”, disse.

O preço para produção de audiolivros é um problema enfrentado por muitos, inclusive aqui no Brasil. Há quem siga pelo caminho da coprodução e outros, como Pedro Sobral, que para diminuir custos, decidiu investir na IA em títulos específicos. “Prefiro arriscar com IA em alguns títulos e ter aquele ganho de curto prazo, do que passar pelo processo inteiro de produção”. Por outro lado, o Grupo construiu uma rede de estúdios ao seu redor para poder trabalhar mais rapidamente com autores nacionais. “Somos um país muito pequeno e não podemos nos dar ao luxo de experimentar modelos diferentes ao mesmo tempo e ver qual será o melhor”.

O modelo de assinatura também fez parte da conversa. “Ainda podemos ver o modelo de assinatura como uma grande interrogação, isto é, se é economicamente sustentável, se dá para atingir o volume que é lucrativo para o editor e lucrativo para o autor. E pelo menos em Portugal ainda não atingimos o nível em que podemos dizer, ‘isto é bom, isto é mau’”, comentou Sobral.

Ele ainda explicou uma particularidade do mercado de língua portuguesa em relação aos direitos digitais. “Se as editoras portuguesas não focarem nos direitos digitais, o que acontece é que temos editoras brasileiras que não têm os direitos em português para o Folio, mas compram os direitos digitais da língua portuguesa. Isso se tornou bastante frequente de acontecer nos últimos dois anos: você está vendendo o Folio e o áudio vêm de uma editora brasileira. Somos pequenos, mas estamos em um enorme mercado natural, o de ‘língua portuguesa de Portugal’ e o da ‘língua portuguesa brasileira’. Então, por exemplo, a Leya comprou direitos digitais que não serão produzidos apenas para fechar a porta para as editoras brasileiras e ter a capacidade de controlar todo o marketing, promoção e venda”, contou.

“Só para completar, não importa se você é grande ou pequeno, você deve seguir os mesmos passos. Tem que construir uma infraestrutura - o que é muito importante -, tem que trazer o conteúdo e, talvez a parte mais importante seja educar. E isso leva tempo, cerca de dois a três anos”, disse Alma Klemenčič. Segundo ela, é importante educar o consumidor, os editores, o governo e o sistema em si. “E embora estejamos em um país menor, é uma questão de saber se é viável ou não para você”, concluiu.

“Como editor de um país pequeno, o meu foco principal é pensar em como meu autor pode expandir com o que escreve, da mesma forma que o autor europeu consegue. E este é o meu objetivo principal, é nisso que me concentro”, disse Bence.

Audible

Após o painel sobre audiolivros em países menores, Matthew Gain, vice-presidente e diretor-geral para a Europa da Audible, fez uma apresentação com dados de uma pesquisa realizada com a Kantar para investigar os hábitos de leitura da população.

Em dados gerais, a Audible é a maior fornecedora de áudio do mundo, estando presente em 180 países, oferecendo 47 idiomas e com 850 mil títulos disponíveis. Além disso, teve mais de 4 bilhões de horas de conteúdo em áudio consumidos em 2022 e registrou um aumento de 25% no consumo de áudio em relação ao ano anterior.

Dos respondentes da pesquisa, 47% disseram ter ouvido conteúdo em áudio no último ano. Entre os americanos, 58% responderam ter ouvido conteúdo em áudio, enquanto Espanha 56%, Reino Unido 53% e Brasil 60%.

Além disso, podcasts são o formato mais popular entre as pessoas - depois de música, representando 36% das respostas. Audiolivros aparecem com 24% e áudio dramas com 14%.

Sobre onde ouvem: 67% responderam que escutam conteúdo em áudio em casa e 43% no carro.

Entre os gêneros mais populares: 47% mistério e thrillers, 43% comédia, 40% ficção científica e fantasia, 36% saúde e bem-estar e 30% romance.

Outro dado interessante apresentado por Matthew é que as séries são muito importantes. Para comprovar, ele deu o exemplo do que fizeram com Harry Potter. Ao oferecer os dois primeiros livros da série no modelo gratuito para os ouvintes, perceberam que a busca pelos outros audiolivros da série que estavam no formato pago cresceram 62% nos dez meses seguintes. [o mesmo assunto foi abordado no artigo 'O poder das séries' escrito por Hull].

Ele também compartilhou que lançar simultaneamente as obras em diferentes formatos pode aumentar as vendas em até 3 vezes.

Sobre o Brasil, Gain disse que os números estão indo muito bem até agora, porém não apresentou dados.

Tags: audiolivros
[23/10/2023 09:00:00]