Contos do surrealismo latino-americano
PublishNews, Redação, 17/10/2023
O projeto gráfico de 'Rosa Mística' foi inspirado nas estereoscopias eróticas que se difundiram na segunda metade do século XIX

Animais, folhas, flores, pedras preciosas, fluidos incontroláveis. O universo erótico de Marosa di Giorgio (1932-2004) é personalíssimo e espantoso em sua exploração dos mistérios do corpo. Considerada uma das raras vozes surrealistas da literatura latino-americana, a escritora uruguaia desenvolve narrativas em que o absurdo se apresenta em imagem alucinatórias, vivenciadas sem espanto pelos personagens. Seus contos agora são reunidos em Rosa mística (Carambaia, 265 pp, R$ 86,90 – Trad.: Josely Vianna Baptista), com curadoria da crítica e professora de literatura Eliane Robert Moraes, autora também do posfácio. A edição traz, ainda, um ensaio da jornalista uruguaia Gabriela Aguerre. Moraes observa que, em Di Giorgio, “o realismo da narração contrasta com a irrealidade das cenas narradas”, o que torna ainda mais radical a experiência do leitor. Nos contos da autora, uma mulher copula com um furão; outra bota ovos; um olho nasce nas costas de uma terceira; outra ainda, muito jovem e recém-iniciada na vida sexual, se autofecunda e acredita que está se tornando Deus. As surpresas se sucedem em quarenta histórias breves, sob o nome Lumínile (luminosidade, em romeno), mais a narrativa extensa que dá título à coletânea, última obra publicada pela escritora, em 2003. As heroínas de Di Giorgio são inevitavelmente mulheres, amiúde em seus momentos de desvirginização ou casamento. São tão importantes seus atos quanto as formas que brotam de seus corpos em mutações espontâneas.

[17/10/2023 02:00:00]