Exposição 'Araetá: A literatura dos povos originários' traça panorama sobre a produção literária de autores indígenas
PublishNews, Redação, 13/09/2023
Mostra ocupa diferentes espaços do Sesc Ipiranga, dá visibilidade a cosmovisões de mais de 50 povos e presta tributo a Davi Kopenawa

Exposição Araetá © Mayara Maluceli
Exposição Araetá © Mayara Maluceli
Aberta ao público no Sesc Ipiranga (Rua Bom Pastor, 822 – São Paulo / SP), a exposição Araetá – A Literatura dos Povos Originários é um expressivo recorte da produção literária de autoria indígena por meio de publicações de escritores e escritoras que representam mais de 50 povos de diferentes regiões. Com visitação até 17 de março de 2024, a mostra ainda reúne ilustrações, fotografias, artesanias e objetos artísticos, além de apresentar mais de 334 títulos publicados por 105 editoras do país.

Realizada pelo Sesc São Paulo, o Instituto Cultural Vale e o Ministério da Cultura, a exposição foi idealizada por Selma Caetano, curadora e produtora executiva do Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa –, que divide o projeto curatorial da mostra com o pedagogo, teatrólogo e poeta Ademario Ribeiro Payayá, o ambientalista e escritor Kaká Werá Jekupé, o fotógrafo Richard Werá Mirim e a documentarista Cristina Flória.

“O acervo apresentado na exposição é composto por cantos, contos, mitos, narrativas, poesias, ensaios, romances e títulos relacionados à criação do mundo, à ancestralidade, à vivência dessa ancestralidade no presente, ao bem viver e ao papel dos anciãos nas comunidades indígenas. Há, também, a presença de livros com uma forte carga política vinculados ao ativismo e à militância com os quais os indígenas têm superado e resistido, há séculos, à invisibilidade”, explica Selma.

Fenômeno que experimenta um crescente interesse do público leitor, a edição de livros com autoria indígena tem como uma das pioneiras a escritora Eliane Potiguara, que deu início a sua produção nos anos 1970, quando imprimia textos mimeografados em um formato designado por ela como “poema-poster”.

Pedagoga, Eliane é um dos destaques da mostra, que também exalta as importantes colaborações de lideranças como Ailton Krenak, autor de uma série de livros que registram reflexões filosóficas e um ativismo ambiental que se contrapõe ao modo de vida ocidental, e Daniel Munduruku, escritor com mais de 60 livros publicados, que colabora como consultor literário da exposição.

Araetá – A Literatura dos Povos Originários também presta tributo ao escritor e xamã Davi Kopenawa, dedicando ao líder Yanomami o espaço intitulado Casa dos Saberes, que, com curadoria de Kaká Werá Jecupé, foca a experiência sensorial e estética da arte que inspira a literatura produzida por diversos povos indígenas no Brasil.

A Casa dos Saberes é, também, um lugar onde o elo entre a tradição oral e a arte literária fica evidente por meio dos saberes ancestrais transmitidos por xamãs e pajés. O espaço reúne objetos e peças que dimensionam a inventiva artesania dos povos originários, como as cestarias dos Mehinaku e Kalapalo, do Xingu, e as cestarias e esteiras dos Baniwa, dos Baré e Ticuna, oriundos da Amazônia.

“Nesse momento em que a humanidade enfrenta o desafio de transformar o modo como se relaciona com a natureza, as visões de mundo e modo de ser dos povos originários – transmitidos há séculos por meio da literatura oral e agora acessíveis. em centenas de livros de autoria indígena disponíveis na Casa dos Saberes – oferecem ao público uma possibilidade de reflexão sobre o futuro da humanidade”, defende Kaká Werá Jacupé, ambientalista, escritor e curador do espaço.

O projeto expográfico da mostra também se desdobra por espaços temáticos, apresentados pelo escritor, professor e artista plástico Ariabo Kezo, do povo Balatiponé: Amazonas, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e Pantanal. A exposição ainda oferece ao público a Biblioteca Araetá, um trabalho em progresso de pesquisa e catalogação, que disponibiliza para leitura o acervo contemplado nos espaços expositivos. Araetá destaca, igualmente, a expressividade de artistas indígenas que produzem ilustrações para livros, como Uziel Guainê, professor e escultor Maraguá que apresenta dois painéis especialmente criados para a Casa dos Saberes.

A produção fotográfica, com curadoria de Cristina Flória e Richard Werá Mirim, destaca trabalhos de 14 fotógrafos, de 12 diferentes povos, dedicados a retratar suas culturas e evidenciar as nuances e singularidades de cada grupo, desempenhando um papel importante na valorização da diversidade cultural, conscientização e se constitui em uma ferramenta de autodeterminação e quebra de estereótipos geralmente associados às culturas indígenas

A mostra reúne 38 imagens dos seguintes fotógrafos e fotógrafas: Amanda Pankará, André Guajajara, Cristian Arapiun, Edgar Kanaykõ Xakriabá, Isabella Kariri, Kaiti Topramre, Kamikia Kisedje, Kronün Kaingang, Mre Gavião, Priscila Tapajowara, Palamido, Richard Werá Mirim, Scott Hill e Vherá Xunú. Em conjunto, o intuito é, por das imagens selecionadas, salvaguardar sua herança, assegurando, assim, sua transmissão para as gerações futuras.

A exposição contempla um programa educativo que objetiva o atendimento de escolas das redes públicas e privadas, tanto de bairros próximos aos Sesc Ipiranga quanto de outras localidades. Araetá – A Literatura dos Povos Originários é uma experiência singular de interação com as escritas, oralidades, cosmovisões, pertencimentos étnicos, ancestralidades, geografias e temáticas de diversidade manifestadas por escritoras e escritores que propiciam um rico diálogo intercultural, como reitera o curador Ademario Ribeiro Payayá, que explica a gênese do nome da exposição.

“Ara e etá são termos da língua Tupi. Ara é o dia, o que está no alto, o fruto, o mundo. Etá é o plural dessa língua. Araetá, assim, nos remete aos frutos, aos dias, aos mundos da literatura dos povos originários que, nessa exposição, são percorríveis através das histórias criadas por 114 autores. Como numa espécie de Caminho de Peabiru – antiga rota que conectava diferentes povos indígenas do continente Sul-Americano –, Araetá traça um percurso que abrange a diversidade étnica, geográfica e temática de escritoras e escritores indígenas. Nas bordas desse percurso há o convite para um diálogo intercultural”, conclui Ademario.

[13/09/2023 09:30:00]