Editoras aproveitaram a Bienal do Livro Rio e lançaram novos selos para jovens leitores
PublishNews, Guilherme Sobota, 12/09/2023
Ediouro, Todavia e Morro Branco apresentaram suas novas empreitadas e afirmam já terem colhido resultados positivos

Editoras aproveitaram a Bienal para lançar novos selos voltados a jovens leitores
Editoras aproveitaram a Bienal para lançar novos selos voltados a jovens leitores
Editoras aproveitaram a Bienal do Livro Rio – que terminou no último domingo (10) em clima de celebração de resultados históricos – para lançar novos selos voltados ao público jovem e infantojuvenil. Foi o caso do Grupo Ediouro (com o novo selo Livros da Alice), da Todavia (com o novo Baião) e da Morro Branco (Morrinho). Mesmo com poucos dias em atividade, as três editoras afirmam que a recepção dos leitores, tanto na Bienal quanto na web, já aponta indícios positivos do trabalho.

A Ediouro chamou a editora e consultora editorial Mariana Rolier para liderar a nova empreitada, voltada para o público jovem adulto (Young Adult). O primeiro livro dá diversas amostras do que o novo selo pretende fazer em termos de posicionamento de mercado. As músicas que você nunca ouviu, de Becky Jerams e Ellie Wyatt, vem com um QR code, que leva o leitor para um álbum (real) com 14 músicas, também escritas e compostas pelas autoras. Na ficção, as canções são creditadas às personagens principais do livro, Meg e Alana. O álbum está disponível nas plataformas digitais.

“Foi cerca de um ano de trabalho para entender a nova geração, o novo público. Obviamente, cada geração tem uma peculiaridade. A gente percebeu duas coisas particulares: primeira, uma capacidade de conectar outras formas de cultura naquela história/universo. A leitura sempre foi um ato solitário, e a gente vinha perdendo um pouco de espaço, a concorrência não era mais com outras editoras, mas sim com o tempo livre. Essa nova geração, que agora consome YA, tem característica de integração de várias culturas. Aqui, temos a música do livro, que vai virar filme, que vira uma playlist. O leitor acaba consumindo tudo que gira em torno daquela história. Foi um ponto chave para desenvolver o catálogo a partir disso. Como inserir ou trabalhar um livro que pudesse se expandir em outras formas de mídia”, explica a editora – ela também é Publishing Manager da Storytel, na Holanda, onde vive.

Integrar esses elementos é uma das missões do selo. “Mas claro que tudo depende do público leitor e de boas histórias. Estudamos bastante para lançar esse selo. Cada livro tem um significado, uma projeção, mas é um selo de entretenimento. Queremos preencher o horário do tempo livre”, afirma.

O Livros da Alice já tem, segundo a editora, uma linha editorial estabelecida, com livros com referências pop, de cinema, música e RPG. Cínthia Zagatto é a primeira autora nacional confirmada no elenco.

Baião

Já o Baião, da Todavia, também estreou na Bienal e, segundo a editora Mell Brites, à frente do selo, tanto o pré-lançamento quanto a presença na Bienal foram muito positivos. “Só tenho ouvido coisas legais, pessoas animadas, contentes com novo selo. A Todavia é muito querida no mercado, foi uma notícia que deixou as pessoas entusiasmadas. É um universo muito importante de formação de leitores. Para continuar tendo público leitor, precisamos formar uma nova geração”, diz ao PublishNews.

Com o novo selo, a Todavia entra de vez no mercado de literatura para crianças. Os primeiros lançamentos, já disponíveis, são Um senhor notável, da Prêmio Nobel Olga Tokarczuk e a ilustradora polonesa Joanna Concejo, A menina dos cabelos d'água, de Sidnei Nogueira e Luciana Itanifè, e Boa noite, Bo, das norueguesas Kjersti Annesdatter Skomsvold e Mari Kanstad Johnsen.

“Uma das premissas para pensar o selo foi justamente tentar responder: o que é a infância para a editora? O que significa dentro desse ambiente que a Todavia criou? Os catálogos de alguma forma estarão conectados. O livro da Olga é um exemplo disso, pode ser lido tanto por crianças quanto por adultos”, explica Mell Brites. “Tem uma vontade de também traduzir o DNA da Todavia, honrar essa identidade, dentro desse novo selo. Isso tem a ver com a forma de se comunicar, com trazer novas vozes para o catálogo, na maneira como se tratam os assuntos. Essa sempre foi uma base de pensamento”.

Outra ideia do selo é conversar com “as infâncias” com generosidade.”Ou seja, de alguma forma buscar falar com o público de uma maneira que não seja infantilizada ou condescendente, mas poder discutir os assuntos que estão circundando as literaturas para infâncias”, diz a editora. Entre eles, ela cita autodescoberta, ancestralidade e uso da própria imagem nas redes sociais, temas abordados pela leva inicial de livros.

Morrinho

O publisher da editora Morro Branco, Victor Gomes, explica que novo selo – Morrinho – é mais uma faceta da casa, seguindo a mesma linha e filosofia, mas voltada para um público mais jovem.

“Utilizamos a estrutura de um gênero ou de determinada faixa etária para trabalhar questões que julgamos pertinentes”, explica. “Assim, trabalhamos por exemplo questões de preconceito e diferenças dentro de uma estrutura fantástica nos livros da N.K Jemisin, com elementos de ficção científica nos livros de Octavia Butler, e agora para uma nova geração com O dia em que você começa, da Jacqueline Woodson. Cada um com suas nuances e peculiaridades, mas todos dentro de um mesmo ideal”.

Além dos dois primeiros lançamentos da Bienal (O dia em que você começa, de Jacqueline Woodson, e Logo você vai dormir também, de Lisa Aisato e Haddy Njie) – afeitos a crianças mais novas – dois premiados lançamentos chegam para a faixa middle grade a tempo do Dia das Crianças. As novas publicações da Morrinho serão A ciência das coisas frágeis, de Tae Keller, vencedora da prestigiosa medalha Newberry de literatura infantil (premiação centenária da American Library Association), e Julia e o tubarão, de Kiran Milwood Hargrave, vencedora de prêmios infantis do British Book Awards e Waterstones Book Awards.

“De formas diferentes, ambos trabalham a questão da depressão, uma das temáticas mais relevantes da atualidade”, diz o editor. “Se para os próprios adultos é tão difícil entender todas as questões atinentes a essa doença moderna, que dirá às crianças, então buscamos trabalhar isso de uma forma única e sensível”.

[12/09/2023 09:40:00]