Autobiografia singular
PublishNews, Redação, 09/05/2023
Hilton Als trata de estética, gênero, sexualidade e negritude, e exibe uma capacidade analítica aguda ao refletir sobre a trajetória de artistas como Michael Jackson e Eminem

Provocativa talvez seja a definição mais justa para a escrita de Hilton Als, crítico da revista The New Yorker que escreve sobre teatro, cinema, música, artes visuais e comportamento há mais de trinta anos. E não apenas quando ele trata de temas em si polêmicos como aids e pornografia, mas principalmente quando os assuntos são amor, amizade e morte. Garotas brancas (Fósforo, 360 pp, R$ 99,90 – Trad.: Marilene Felinto) é seu primeiro livro com ensaios inéditos, boa parte deles perfis de personagens centrais da cultura pop do século 20 misturados à própria vida do autor. O livro, porém, começa com um longo texto autobiográfico, que inaugura um estilo singular. Somos capturados pela história de seu longo e idiossincrático romance com um homem mais velho, que se confunde com referências culturais as quais marcaram toda uma geração. Transitando entre os fatos, Als trata de estética, gênero, sexualidade e negritude, e exibe uma capacidade analítica aguda ao refletir sobre a trajetória de artistas como Michael Jackson, Eminem, Truman Capote, Richard Pryor, Louise Brooks, Flannery O’Connor, e também sobre figuras menos conhecidas, mas igualmente brilhantes, como Louise Little, mãe de Malcolm X, e o editor de moda da revista Vogue norte-americana, Andre Leon Talley. Talvez, por seu autor ser atacado com palavras como “você é muito gordo, você é preto demais, um horror, um horror!”, ou acusado de ser sensível demais para o mundo em que nasceu, Garotas brancas seja uma expressão brilhante do multifacetado início do século 21.

[09/05/2023 07:00:00]