
Após citar alguns exemplos de palavras definidas no dicionário de forma diferente dos seus usos correntes – como "matriarcado", que aparece como "costume tribal africano" –, ela disse: "a língua portuguesa para ser nossa precisa de um tratamento, de uma limpeza, de uma descolonização", de acordo com o jornal português Diário de Notícias.
Vinda "de lugar nenhum", onde "aprendeu a escrever na areia do chão" e usou "o primeiro par de sapatos com 10 anos", a escritora disse estar "muito feliz" por receber o Prêmio Camões, "um prémio tão importante, exatamente no Dia Mundial da Língua Portuguesa".
"Para quem vem do chão, estar aqui diante do Governo português, do Governo brasileiro, do corpo diplomático e de várias personalidades é algo que me comove profundamente. Caminhei sem saber para onde ia, mas cheguei a algum lugar, que é este prémio", disse, antes de agradecer aos seus leitores, "em Moçambique e em todos os países que falam português".
Paulina Chiziane foi a primeira mulher africana a vencer o prêmio. Na época do anúncio, o júri destacou a vasta produção e a boa recepção crítica da sua obra, bem como seu reconhecimento acadêmico e institucional. A importância que Chiziane dá em seus livros aos problemas da mulher moçambicana e africana e seu trabalho de aproximação aos jovens também foram lembrados pelos jurados.
Paulina é hoje uma das vozes da ficção africana mais conhecida internacionalmente. Por aqui, a Dublinense lançou em 2018 O alegre canto da perdiz, que aborda a situação precária das negras em Moçambique, e a Companhia das Letras lançou nos últimos anos uma nova edição de Niketche: Uma história de poligamia, que conta a história de uma mulher que decide procurar as outras mulheres de seu marido, depois de descobrir que elas existem, e de Balada de amor ao vento. O próximo livro a chegar às livrarias é Ventos do apocalipse, também pela Companhia das Letras.