Baú do tesouro, lunetas, mapas e navios. Esses elementos estão presentes em um certo tipo de narrativa de aventura bem conhecida: as histórias de piratas. Em geral, os piratas são representados como figuras estereotipadas e malvadas, no entanto, a narrativa de Vânia Alsalek coloca a figura de seu Pirata medonho (Gaivota, 36 pp, R$ 68) justamente em um lugar humanizado, que chora escondido, pois não se sente amado por ninguém. Sua maldade decorre de suas inseguranças. Com essa premissa, a autora cria, em versos, uma narrativa potente. A aventura contra o monstro marinho é também o agente transformador do pirata, uma vez que é a partir desse acontecimento que ele passa a se aceitar, a sentir-se uma pessoa bonita e capaz de fazer boas ações. A história é uma alegoria fantasiosa que fala sobre a importância da construção e do resgate da autoestima e autoconfiança nas pessoas. Com ilustrações da dupla de artistas Toco-Oco, ela ganha ainda mais profundidade: pirata e monstro marinho possuem a mesma feição, de forma que o leitor acompanha, na realidade, um embate interno do personagem principal.