Entre a ganância e a indignação
PublishNews, Redação, 13/02/2023
Publicado originalmente em 1935, 'Calunga' é, em grande medida, fruto do assombro de Jorge de Lima diante do sofrimento humano

Lula Bernardo regressa ao interior de Alagoas na intenção de reencontrar sua família e trazer as boas-novas da modernidade à terra natal. Influenciado por tudo o que leu e viu na cidade grande, pretende salvar os habitantes da ilha de Santa Luzia de uma vida miserável e repleta de doenças. Mas suas ideias encontram um ferrenho opositor: o coronel Totô de Canindé, personagem que encarna o latifúndio, a incivilidade e, principalmente, a violência. Nas falas de Totô podemos identificar os códigos de segregação racial e social que, até hoje, dizem muito sobre o nosso país. Jorge de Lima, ao contrário de tantos gigantes da nossa literatura que fundaram suas obras na paisagem seca e flagelada do Nordeste — como Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Graciliano Ramos —, ambientou seu Calunga (Alfaguara, 152 pp, R$ 64,90 – Trad.: Claufe Rodrigues) na terra ensopada dos mangues, em meio a chuvas torrenciais, no lamaçal açoitado pelo vento e o frio úmido. Uma região devastada pelo descaso e pela ganância, com consequências terríveis para aqueles que tiram da lama o seu sustento. Publicado originalmente em 1935, Calunga é, em grande medida, fruto do assombro do autor diante do sofrimento humano, que conheceu muito de perto nas inúmeras viagens que fez pelo interior alagoano como médico.

[13/02/2023 07:00:00]