10 livros para conhecer a literatura de autores indígenas
PublishNews, Beatriz Sgrignelli, 07/02/2023
PublishNews reuniu 10 obras para começar a ler autores indígenas e (re)conhecer a real origem do Brasil

Narradas pelas vozes de uma sociedade ocidental branca, a história e a cultura do Brasil costumam deixar de lado histórias periféricas; mesmo que, na verdade, as perspectivas sejam inúmeras. A literatura tem o poder de mostrar tais narrativas e ensinar que uma mesma história pode ser contada de formas distintas.

O povo indígena é e sempre foi fonte imensa de produção de cultura. Desde o princípio da vida, os diferentes costumes praticados mostram a quantidade de formas de que cada grupo lida com o mundo a sua volta. Muitas vezes, ignora-se, tanto no ensino e livros didáticos, como na literatura, o que esses povos entendem por passado, presente e futuro.

Pensando nisso, o PublishNews reuniu aqui 10 obras para começar a ler autores indígenas e (re)conhecer a real origem do Brasil.

1. O banquete dos deuses: conversa sobre a origem da cultura brasileira, de Daniel Munduruku – publicado pela Global Editora

Este livro reúne uma série de artigos escritos pelo autor em que ele, como educador, exprime sua principal preocupação: a necessidade de uma educação libertadora, que eduque para a vida e valorize a cultura indígena, sem deformá-la. A cultura indígena é intrínseca à sociedade brasileira, é da qual descendemos e que faz parte do nosso cotidiano, pois todos nós somos o alimento do banquete dos deuses.

2. Eu sou macuxi e outras histórias, de Julie Dorrico – publicado pela Editora Caos e Letras

A autora por ela mesma: "Nasci nas terras da cachoeira pequena, mais conhecida como Guajará-Mirim. Mas foi às margens do Rio Madeira que eu cresci ouvindo minha mãe contar as memórias da família, dessas gentes que viviam lá quando acaba o Rio Amazonas. Um dia atravessamos esse rio gigante e fomos conhecer nossos parentes em Boa Vista, em Bonfim (RR) e em Lethen (Guiana). Essa travessia, feita ainda na infância, foi, por meio da minha bisavó, o meu encontro com Makunaima e com as histórias macuxi. Escrevo esse livro, objeto usado por não indígenas para contar por muitos séculos nossas histórias, para ocupar esse lugar de autoria, tão caro aos sujeitos indígenas. Também sou doutoranda em Teoria da Literatura no Programa de Pós-Graduação em Letras da PUCRS.

3. Coração na aldeia, pés no mundo, de Auritha Tabajara – publicado pela Uk'a Editorial

Em seu primeiro livro, a cordelista Auritha Tabajara se utiliza da força da palavra para ganhar o mundo. Em sua jornada a força da mulher nordestina, indígena, sonhadora e guerreira se encontram com a sutileza poética, característica da autora. Ilustrado com xilogravuras de Regina Drozina, esta obra chega ao público em formato de cordel, sendo Auritha a primeira mulher indígena a publicar livros em cordel no Brasil. A autora faz um retrato de si como mulher indígena, apresenta a sua jornada nas grandes cidades e a busca pelo reconhecimento como mulher, sua luta contra a violência e o entendimento como LGBTQIA+.

4. O amanhã não está à venda, de Aílton Krenak – publicado pela Companhia das Letras

Há vários séculos que os povos indígenas do Brasil enfrentam bravamente ameaças que podem levá-los à aniquilação total e, diante de condições extremamente adversas, reinventam seu cotidiano e suas comunidades. Quando a pandemia da Covid-19 obriga o mundo a reconsiderar seu estilo de vida, o pensamento de Ailton Krenak, um dos autores indígenas mais conhecidos da atualidade, questiona a ideia de "volta à normalidade", uma "normalidade" em que a humanidade quer se divorciar da natureza, devastar o planeta e cavar um fosso gigantesco de desigualdade entre povos e sociedades. Depois da terrível experiência pela qual o mundo está passando, será preciso trabalhar para que haja mudanças profundas e significativas no modo como vivemos.

5. Um estranho espadarte na aldeia, de Edson Kayapó – publicado pela Editora Primata

“Um estranho espadarte na aldeia” é uma escrita que permite o encontro de diferentes culturas, com estranhamentos e atos de solidariedades de ambos os lados. A narrativa versa sobre a saga de um homem de origem italiana que fugiu de um presídio instalado no coração da densa floresta amazônica, alcançando uma aldeia do povo Karipuna, situada às margens do rio Curipi, um belíssimo cenário que faz lembrar as narrativas bíblicas que descrevem o jardim do Éden. Baseado em pesquisas etnográficas e em narrativas historiográficas, o texto converge histórias do cotidiano do presídio de Clevelândia do Norte – criado pelo governo republicano brasileiro na década de 1920, visando combater as forças políticas oposicionistas – com as tradições indígenas dos arredores, no município do Oiapoque – estado do Amapá, na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa. O presidiário fugitivo, de formação anarquista e eurocentrada, se envolverá com os habitantes daquela aldeia, onde se surpreenderá com os novos modos de vida e se apaixonará pelos rituais daquele povo. A trama, repleta de cenas cosmológicas, leva o leitor a refletir sobre o reencantamento da vida, sobre a importância da diversidade cultural e das culturas indígenas, bem como sobre temas ambientais, etnicidade e relações interétnicas.

6. O lugar do saber ancestral, de Marcia Wayna Kambeba – publicado pela Uk'a Editorial

Fonte: Editora Jandaíra
Fonte: Editora Jandaíra
Marcia Wayna Kambeba é daquelas lideranças que fazem tremer o chão. Com olhar firme, posicionamentos claros e uma postura determinada na música e na escrita leva adiante a luta dos povos indígenas do Brasil. Os Kambebas (também conhecidos como Omáguas) habitam, geralmente, a região da Amazônia brasileira e peruana. Em meados do século XVIII, sofrendo fortes repressões das frentes contra indígenas que avançavam pela Amazônia, deixaram de identificar-se como indígenas Kambebas em razão de um processo de branqueamento sociocultural ou de aglutinação e miscigenação a outras etnias majoritárias. A partir da década de 1980, com a organização do movimento indígena, retomaram seu processo de autoidentificação, organizando suas demandas por terras e reconhecimento étnico. É nesse contexto e nas habilidades de Márcia que se inscreve O lugar do saber ancestral, obra composta por uma poesia fluida, dinâmica e prazerosa para todos. Aqui, leitoras e leitores são convidados a uma viagem ao universo amazônico, diretamente ao coração daquele lugar que representa o foco de toda educação, toda a vida, toda a aprendizagem dos indígenas: a comunidade.

7. Olho d’água: o caminho dos sonhos, de Roni Wasiry Guará – publicado pela Autêntica Editora

A obra Olho d’água: o caminho dos sonhos, de Roni Wasiry Guará –, do povo indígena Maraguá, do Baixo Amazonas, é a vencedora do 8º Concurso Tamoios de Textos de Escritores Indígenas. O livro nos fala sobre esperanças, desapontamentos e desejos e o contato com o não-indígena em uma linguagem poética, além de ser uma reflexão sobre liberdade e responsabilidades perante o planeta.

8. O pássaro encantando, de Eliane Potiguara – publicado pela Jujuba

Os avós são figuras muito importante para os povos indígenas. Trazem os costumes, as memórias e os ensinamentos para a vida. Neste livro, Eliane Potiguara nos conta sobre a relação com esta figura poderosa e mágica, a avó, que traz as histórias vivas dentro de si. Aline Abreu, com suas ilustrações, nos carrega para esse tempo de magia.

9. O filho da ditadura, de Cacique Juvenal Payayá – disponível em e-book

O leitor encontrará neste livro, entre outras histórias, a de uma geração de jovens cujo fator comum é serem filhos de militares com mães fora do casamento, algumas delas prisioneiras do regime militar. Um dos militares infratores ao ser nomeado Ministro da Guerra do Brasil, rendeu-se pela pressão da chamada linha dura impondo normas para que todos os infratores prouvessem sustento para seus filhos bastardos. Com este intuito foi criado um fundo de pensão com contribuição dos pais e doações de amigos empresas interesseiras. Crescidos os "Filhos da Ditadura", por não terem a paternidade reconhecida e sem o convívio das mães, perambulavam pelo mundo por conta do fundo de pensão, uns na miséria outro verdadeiros nababos. Além deste foco o livro investe na exposição dos ativistas silenciosos, homens e mulheres anônimas que a história oculta, seja pela ótica da direita seja pela ótica das esquerdas. Juvenal Teodoro Payayá, é indígena e, influenciado pela resistência, nos anos sessenta, tornou-se ativista político; professor, formado em Ciências Econômicas, é um dos anônimos que viveu o calor da hora.

10. A terra dos mil povos: História Indígena do Brasil Contada por um índio, de Kaká Werá Jecupé – publicado pela Editora Peirópolis

Registro fotográfico Eduardo Fujise e Gideoni Junior/Itaú Cultural
Registro fotográfico Eduardo Fujise e Gideoni Junior/Itaú Cultural
O Brasil é a terra dos mil povos, o seio que abrigou os filhos de muitas terras estrangeiras e que alimentou, com amor de mãe genuína, os milhares de povos indígenas que aqui habitavam há cerca de 15 mil anos. Quem eram e o que pensavam os primeiros habitantes desta terra? Antropólogos se debruçaram sobre essa questão e deixaram contribuições definitivas para a compreensão desse capítulo da nossa história. A maioria das nações indígenas, no entanto, permaneceu calada, sofrendo passivamente as influências da civilização do homem branco, que chegou tão perto e, no entanto, optou por manter-se distante, atirando no esquecimento toda a riqueza da tradição, do pensamento e da espiritualidade indígenas. Um novo olhar foi inaugurado às vésperas do aniversário de quinhentos anos do descobrimento do Brasil, e este livro, que nos revela o caráter absolutamente universal dessas tradições, foi um de seus precursores.

[07/02/2023 08:00:00]