Que história é essa: Fernando Almeida
PublishNews, Talita Facchini, 23/12/2022
Livreiro passou por diversas livrarias em diferentes cidades do país e criou laços no mercado editorial; ele está com um financiamento coletivo aberto para bancar um tratamento de saúde

A história de Fernando Almeida no mundo dos livros começou em 1992. Recém-chegado a São Paulo, depois de um tempo em Londres, ele precisava arrumar um emprego e não sabia exatamente com o quê. Um anúncio no jornal o levou até uma vaga na Livraria Cidade Jardim, onde inclusive conheceu sua esposa Marisa. Trinta anos e pelo menos uma dezena de livrarias pelo país depois, Fernando voltou ao Sergipe e retomou um negócio antigo, sua banca de jornal, onde também introduziu a venda de livros.

Mesmo com um olhar otimista sobre a vida (e sobre o mercado editorial, sobre o qual fala com entusiasmo), Fernando enfrenta dificuldades no âmbito pessoal. Em outubro de 2021, ele recebeu o diagnóstico de um câncer e desde então tem vivido uma rotina intensa de exames e tratamentos. O apoio não só de familiares mas também dos amigos do mercado editorial tem feito a diferença. “Eu esperava empatia das pessoas, mas não esperava um retorno tão fantástico, de tanta gente que eu nem tinha mais contato, mas que me trouxeram ajuda e mensagens de suporte e apoio. Uma coisa que eu jamais podia imaginar”, conta ao PublishNews.

Almeida destaca ainda que todo o apoio recebido o faz lembrar com carinho de histórias de vida e trabalho.

Para ajudar no seu tratamento e nos custos que sua nova rotina exige, Fernando abriu uma Vaquinha on-line. A arrecadação começou no início de dezembro e segue ativa.

A vida e obra de um livreiro

Fernando se define como um “rato de livrarias e bibliotecas”. Sua jornada pelos livros o levou, depois de um ano na Cidade Jardim, para a LaSelva do Morumbi e, depois de três promoções, em 1994, foi transferido para a loja do aeroporto de Congonhas. “Era uma loja enorme e naquela época talvez fosse a única livraria 24h de São Paulo”, diz, recordando ainda que a unidade era a maior vendedora da revista Veja na época.

Em 1997, Silvana Sarti – sua primeira gerente na LaSelva – o chamou para uma vaga na Livraria Cultura. “Puxa, a Cultura!”, pensou. “Naquela época a Cultura era o máximo que um profissional do livro podia alcançar. Os vendedores da loja eram de outro planeta”, brinca. A partir daí, no período de expansão da rede da família Herz, foram vários anos de aprendizado.

A reforma da loja do Conjunto Nacional e a montagem da unidade do shopping Villa-Lobos foram apenas alguns dos projetos nos quais Fernando esteve envolvido. Em 2004, com a abertura da loja de Recife, ele pediu para ser transferido por conta de um desejo antigo de morar no Nordeste. O pedido não foi aceito de imediato e a mudança só veio mesmo em 2007. Lá, Fernando lembra que foi para ensinar, mas acabou aprendendo muito mais. “Cassio Renovato, Bruno Mendes, Tiago Muller... tinha uma galera muito boa por lá”.

“Tive a felicidade de dividir o posto de atendimento como livreiro com o Almeida, sempre amável e atencioso com todos. Sempre foi o nome de destaque e referência para os livreiros e particularmente para mim”, conta Bruno Mendes, hoje sócio do PublishNews, devolvendo o elogio.

Mesmo com bons colegas, Fernando optou por mais uma mudança e foi para a unidade da Cultura de Salvador. “Uma loja espetacular”, lembra. Após anos intensos na unidade, em 2011 a Livraria Cultura iniciou um processo de transformação. “O processo de compra foi centralizado, coisa que antes era feito por cada loja – e, particularmente, acho que esse era um grande diferencial da Cultura – houve também mudanças no RH e notamos que algo iria acontecer”, recorda. E, de fato, aconteceu. Fernando foi demitido em 2012.

Nesse meio tempo, ele voltou para Sergipe e criou sua banca de jornal, “um negócio modesto” no qual começou a introduzir livros. A banca fica em Simão Dias, município de Sergipe, na Praça Barão de Santa Rosa.

Já em 2013, por questões familiares, retornou para São Paulo sozinho e no mesmo ano foi convidado a fazer parte da Blooks Livraria, que estava prestes a abrir sua unidade do Shopping Frei Caneca. “Uma loja icônica, quem não conheceu, perdeu”, conta.

Elisa Ventura, à frente da livraria, conta o que foi um prazer ter o Fernando trabalhando na Blooks. “Ele foi muito importante nessa fase inicial da livraria em São Paulo. Com seu refinamento me ajudou muito no conceito da loja do Frei Caneca”, relembra.

Almeida ficou na Blooks até 2016 e desde então não trabalhou mais profissionalmente no mercado livreiro. De volta ao Sergipe, ele retomou a banca, trazendo ainda mais livros para o espaço. “É uma coisa curiosa. Em uma cidade pequena, a maioria das pessoas diz que é bobagem vender livro. Ninguém compra, ninguém lê. Mas no dia a dia vemos que não é assim. Tem muita gente interessada, comprando e lendo, mesmo em uma cidadezinha no interior do Sergipe. Isso é animador”, comenta.

Hoje, observando o mercado editorial de longe, Fernando destaca duas coisas: o movimento de abertura das livrarias de rua – “Acho que isso é um grande acontecimento. Eu mesmo tenho uma super vontade de abrir uma livraria de rua também”, confessa – e a digitalização cada vez maior do setor.

Que história é essa: a nova seção do PublishNews

O mercado editorial brasileiro não é dos maiores do mundo, isso nós já sabemos. Os profissionais envolvidos na área também sabem que em pouco tempo trabalhando com livros, já é possível conhecer boa parte dos outros envolvidos no setor, nos mais diversos segmentos.

É uma rede que se forma: um vai ajudando o outro, abrindo portas, ensinando o que sabe e passando para frente antigas e novas ideias e maneiras de trabalhar.

Mas a vida – e o mercado de trabalho – mudam todos os dias. Foi pensando em relembrar quem já fez muito pelo setor e hoje precisa de qualquer tipo de ajuda que o PublishNews criou o projeto Que história é essa. “Não dá para ficar alheio. Precisamos não só cuidar melhor dos nossos profissionais dentro do nosso segmento, mas também precisamos fazer com que essas histórias não sejam esquecidas”, explica Bruno Mendes, sócio do PN e idealizador do projeto.

“A ideia nada mais é do que uma iniciativa para resgatar e ajudar essas pessoas que precisam de suporte. Acredito que seja uma tentativa para tentar fazer com que o mercado enxergue esses profissionais, para que a gente melhore as condições de estabilidade dentro do nosso campo e também, mas não menos importante, para resgatar as histórias dessas pessoas”, finaliza.

A primeira pessoa retratada pela nova seção é Fernando Almeida, livreiro conhecido no setor e que já passou por diversas livrarias e estados do Brasil. Acompanhar sua história é conhecer também um pouco da história do mercado editorial brasileiro das últimas décadas.

[23/12/2022 10:00:00]