Crítica social, referências a ancestralidade africana, pesquisa história, ironia, insurgência poética e um cuidado com o enriquecimento humano dos seus personagens marcam a prosa da escritora carioca Eliana Alves Cruz em A vestida (Malê, 116 pp, R$ 46). A obra, que é a terceira da autora publicada pela Malê, tinge um painel do Brasil de ontem e de hoje, do país que não se move em questões da vivência negra, centrais para a maioria de sua população. Ao desenhar essa paisagem, Eliana constrói contos que trazem temas como antirracismo, feminismo e problemas sociais do país. “Acho que estes temas sempre estarão presentes no que escrevo, ainda que de forma indireta, por dois motivos. Primeiro, porque estão na minha trajetória de mulher negra no Brasil, que nasceu na segunda metade do século 20 e está vivendo sua vida adulta no século 21. Não há como despir o meu pertencimento quando escrevo. Segundo, porque são assuntos que tocam profundamente a minha coletividade, ou seja, meus filhos estão profundamente mergulhados neles, meus netos estarão... O Brasil passou mais tempo na escravização que fora dela e precisará, no meu entender, de mais que o dobro desta quantidade de anos para se livrar das sequelas provocadas pela tragédia que foi o comércio transatlântico de almas", diz a autora.