Considerada a primeira romancista negra do Brasil, a escolha de Maria Firmina faz parte do tema central da festa literária deste ano, que procurará “ver o invisível” e dar voz ao que está nas margens. A ideia do trio curador – formado por Milena Britto, Fernanda Bastos e Pedro Meira Monteiro – é justamente trazer autores de diferentes lugares e gêneros para expandir as vozes e os temas abordados no evento. “Pensamos em dar o recado do que essa Flip quer representar, já a partir da homenagem, e trazer para o centro uma autora que foi ignorada por muito tempo e que tem sido trazida à tona e trabalhada, sobretudo, por pesquisadoras mulheres”, explicou Fernanda durante a coletiva de imprensa realizada na manhã desta terça.
“Era muito importante para nós que essa fosse uma Flip que falasse sobre arte, de literatura e do presente, mas que também trouxesse uma reflexão sobre o passado”, acrescentou Milena, justificando também a escolha de Maria Firmina. “Trazemos uma autora que enfrentou os absurdos da sua época acionando todos os lugares e potências da literatura e trazendo a proposta de fazer entender que existe uma sociedade se formando e que é preciso também, de alguma forma, distorcer o nosso olhar”.
A programação, com 17 mesas divulgadas até agora e participação de nomes importantes como a francesa Annie Ernaux, o chileno Benjamín Labatut, a cubana Teresa Cárdenas, Ana Flávia Magalhães Pinto, Fernanda Miranda, Lilia Schwarcz, Lenora de Barros, Ricardo Aleixo, Patricia Lino, Amara Moira, Ricardo Lísias, Veronica Stigger, entre outros, foi pensada com o objetivo de conversar com tudo o que Maria Firmina representa. “A ausência e invisibilidade dela é muito gritante e devolve um espelho retorcido para o Brasil. É com essa distorção que quisemos mexer quando montamos a programação dessa edição”, explicou Pedro Maia.
Pela primeira vez, a Flip também irá celebrar um artista em destaque, e a escolhida foi a fotógrafa e ativista suíça Claudia Andujar. “O trabalho da Claudia é um tributo à sensibilidade diante daqueles que estão à margem. A arte fotográfica dela é também muito narrativa e fala sobre a construção do outro. A fotografia dela é o próprio exercício de ensinar a ver o invisível”, contou Pedro. A homenagem à fotógrafa está marcada para o dia 25 de novembro, às 20h30.
Educativo Flip
Além disso, a Flip realiza em breve uma nova edição do Percurso Formativo Sementes, focado na formação de quem forma leitores. A novidade é que a organização da Flip irá contratar pessoas que participarem desse percurso para se justar à equipe do evento.
Orçamento e ingressos
Mauro lembrou também que o próprio Educativo Flip ainda está pendente de apoios e patrocínios. "A grande questão é que o Educativo não acontece somente nos cinco dias de evento, são ações permanentes e grandes que precisam de apoio e incentivo o ano inteiro".
Os ingressos desta edição de 2022 serão vendidos a R$ 120 (R$ 60 meia entrada). Munhoz destacou que, apesar dos ingressos representarem de 5% a 6% para a realização da Flip, em um momento que a captação de recursos está ainda mais complicada, ela se torna mais importante. "Ao longo dos anos, fomos criando a experiência de que quem quer estar no Auditório sabe que, quando esta comprando o ingresso, está fazendo uma doação, e passa a ser um colaborador do evento", frisou.
Casas parceiras
Sem divulgar nomes ou números, a organização do evento garantiu que a Flip deste ano terá, novamente, diversas casas parceiras para complementar a experiência do visitante. A expectativa é que mais perto do evento a lista com as casas parceiras seja divulgada.
Sobre Maria Firmina dos Reis
Embora não haja certeza sobre a data, o mais provável é que Maria Firmina dos Reis tenha nascido em 1822. Escritora e educadora, em 1859 lançou Úrsula, romance que inaugura, no Brasil, com genialidade, a linhagem da literatura abolicionista e que, após anos de apagamento, vem paulatinamente ganhando mais atenção, dentro e fora do Brasil. O ineditismo e a valentia do texto de Maria Firmina dos Reis são significativos para entender como ela ao mesmo tempo leu o seu momento histórico e soube fabular a partir dele.
Professora de primeiras letras em Guimarães, no Maranhão, sua obra prolífica se construiu praticamente em paralelo à literatura majoritariamente masculina e branca dos círculos literários brasileiros. Somente na década de 1970 Maria Firmina emerge como voz dissonante, resultado de leituras contra-hegemônicas de pesquisadores e pesquisadoras. A homenagem a ela se dá tanto pela qualidade de sua produção em diversos gêneros, como pelo fato de que por bastante tempo ela ficou à margem da história canônica da literatura brasileira.
Confira a programação divulgada até agora
Quarta-feira (23)
19h - Mesa 1: Pátrios lares
Homenagem: Maria Firmina dos Reis
Ana Flávia Magalhães Pinto (DF) - Unicamp, Selo Negro Edições,
Fernanda Miranda (BA) - Malê
Midria (SP) - Jandaíra
Quinta-feira (24)
10h30 - Mesa 2: Minha liberdade
Homenagem + Independência (Maria Firmina dos Reis)
Lilia Schwarcz (SP) - Companhia das Letras, Cobogó
Eduardo de Assis Duarte (MG) - Editora Malê, Pallas, UFMG
12h - Mesa 3: O brando leque do gentil palmar
Teresa Cárdenas (Cuba) - Pallas, Figura de Linguagem
Cida Pedrosa (PE) - CEPE, Companhia das Letras
19h - Mesa 4: O corpo de imagens
Lenora de Barros (SP) - Cobogó, Automática
Ricardo Aleixo (MG) - Todavia, Impressões de Minas, Peirópolis
Patricia Lino (Portugal) - Macondo, Relicário, Gralha Edições
20h30 - Mesa 5: A festa das irmãs perigosas
Camila Sosa Villada (Argentina) - Planeta
Luciany Aparecida (BA) - Fósforo/Luna Park, Paralelo13s
Sexta-feira (25)
10h30 - Mesa 6: Ainda longos combates
Allan da Rosa (SP) - Nós, Global, Veneta
Eduardo Sterzi (RS) - 7Letras, Lumme, Todavia
12h - Mesa 7: Risco e transformação
Cecilia Pavón (Argentina) - Jabuticaba
Fabiane Langona (RS) - Mórula, UgraPress, Folha de S.Paulo
15h30 - Mesa 8: O que deixaram para adiante
Ladee Hubbard (EUA) - Paralelo13s
Geovani Martins (RJ) - Companhia das Letras
17h - Mesa 9: E se eu fosse
Amara Moira (SP) - Hoo, Editora Incompleta
Ricardo Lísias (SP) - Companhia/Alfaguara, Lote 42, Record, E-galáxia
19h - Mesa 10: Do mal que tu me deste...
Benjamin Labatut (Chile) - Todavia
Luiz Mauricio Azevedo (RS) - Figura de Linguagem, Sulina
20h30 - Mesa 11 Livre e infinito
Mesa com Artista em Destaque: Claudia Andujar
Neste ano particular, o coletivo curatorial e a direção artística da Flip trazem também uma inovação: a celebração da trajetória artística de uma personalidade viva. A obra de Claudia Andujar ecoa um gesto central da literatura: abrir uma entrada sensível ao lugar e ao olhar do outro, sem jamais substituí-los ou rasurá-los. Sua fotografia é uma narrativa do encontro, porque reorganiza a forma de acercar-se, deixando que um poder invisível se manifeste na existência mútua de quem observa e quem é observado.
Nay Jinknss (PA)
Sábado (26)
10h30 - Mesa 12: Mesa Zé Kleber
[tbc]
12h - Mesa 13: A literatura em que habito
Bessora (Bélgica) - Relicário
Carol Bensimon (RS) - Companhia, Dublinense
Prisca Augustoni (MG) - Nankin, Quelônio, Mazza, Luna Park/fósforo
15h30 - Mesa 14: Diamante Rubro
Annie Ernaux (França) - Fósforo
Veronica Stigger (RS) - Todavia, Cultura e Barbárie, Ed 34, 7Letras
17h - Mesa 15: Desterrando o susto
Nastassja Martin (França) - Ed. 34, Dantes
Tamara Klink (RJ) - Peirópolis
19h - Mesa 16: Entrar no bosque de luz
Saidiya Hartman (EUA) - Fósforo, Bazar do Tempo.
Rita Segato (Argentina/Brasil) - Bazar do Tempo
Domingo (27)
10h30 - Mesa 17: Encruzilhadas do Brasil
Cidinha da Silva (BH) - Autêntica, Malê, Mazza, Kuanza, Oficina Raquel
Cristhiano Aguiar (PB) - Companhia/Alfaguara