Maria Firmina dos Reis é a autora homenageada da Flip 2022
PublishNews, Talita Facchini, 13/09/2022
Além de homenagear pela primeira vez uma autora negra, festa literária foca na participação de autores brasileiros e de diversos cantos do país

Retrato fictício de Maria Firmina dos Reis de autoria do artista João Gabriel dos Santos Araújo, o vencedor de um concurso realizado pela Flup | © Divulgação
Retrato fictício de Maria Firmina dos Reis de autoria do artista João Gabriel dos Santos Araújo, o vencedor de um concurso realizado pela Flup | © Divulgação
A Flip 2022, marcada excepcionalmente para novembro, de 23 a 17, escolheu a autora Maria Firmina dos Reis como a homenageada da sua 20ª edição.

Considerada a primeira romancista negra do Brasil, a escolha de Maria Firmina faz parte do tema central da festa literária deste ano, que procurará “ver o invisível” e dar voz ao que está nas margens. A ideia do trio curador – formado por Milena Britto, Fernanda Bastos e Pedro Meira Monteiro – é justamente trazer autores de diferentes lugares e gêneros para expandir as vozes e os temas abordados no evento. “Pensamos em dar o recado do que essa Flip quer representar, já a partir da homenagem, e trazer para o centro uma autora que foi ignorada por muito tempo e que tem sido trazida à tona e trabalhada, sobretudo, por pesquisadoras mulheres”, explicou Fernanda durante a coletiva de imprensa realizada na manhã desta terça.

“Era muito importante para nós que essa fosse uma Flip que falasse sobre arte, de literatura e do presente, mas que também trouxesse uma reflexão sobre o passado”, acrescentou Milena, justificando também a escolha de Maria Firmina. “Trazemos uma autora que enfrentou os absurdos da sua época acionando todos os lugares e potências da literatura e trazendo a proposta de fazer entender que existe uma sociedade se formando e que é preciso também, de alguma forma, distorcer o nosso olhar”.

A programação, com 17 mesas divulgadas até agora e participação de nomes importantes como a francesa Annie Ernaux, o chileno Benjamín Labatut, a cubana Teresa Cárdenas, Ana Flávia Magalhães Pinto, Fernanda Miranda, Lilia Schwarcz, Lenora de Barros, Ricardo Aleixo, Patricia Lino, Amara Moira, Ricardo Lísias, Veronica Stigger, entre outros, foi pensada com o objetivo de conversar com tudo o que Maria Firmina representa. “A ausência e invisibilidade dela é muito gritante e devolve um espelho retorcido para o Brasil. É com essa distorção que quisemos mexer quando montamos a programação dessa edição”, explicou Pedro Maia.

Pela primeira vez, a Flip também irá celebrar um artista em destaque, e a escolhida foi a fotógrafa e ativista suíça Claudia Andujar. “O trabalho da Claudia é um tributo à sensibilidade diante daqueles que estão à margem. A arte fotográfica dela é também muito narrativa e fala sobre a construção do outro. A fotografia dela é o próprio exercício de ensinar a ver o invisível”, contou Pedro. A homenagem à fotógrafa está marcada para o dia 25 de novembro, às 20h30.

Educativo Flip

Educativo Flip | © Sara de Santis
Educativo Flip | © Sara de Santis
Ao falar sobre o Educativo Flip, Belita Cermelli, diretora de Cultura e Educação da festa literária, destacou a importância da participação comunitária e envolvendo os atores locais. Tendo isso em mente, a Flipinha irá homenagear dois escritores paritienses - Zezito Freire e Irma Zambrotti. Já a programação ainda não foi divulgada justamente pelo caráter colaborativo da ação. Em breve, os livros sugeridos pelas editoras serão levados aos educadores de Paraty para que eles possam escolher os atores que participarão da programação infantil.

Além disso, a Flip realiza em breve uma nova edição do Percurso Formativo Sementes, focado na formação de quem forma leitores. A novidade é que a organização da Flip irá contratar pessoas que participarem desse percurso para se justar à equipe do evento.

Orçamento e ingressos

Mesa de abertura Flip 2018 | © Zedu Moreau
Mesa de abertura Flip 2018 | © Zedu Moreau
A 20ª edição da Flip foi orçada em R$ 6 milhões e ainda está em fase de captação de recursos. Mauro Munhoz, diretor geral do evento, destacou a dificuldade de conseguir os recursos necessários para viabilizar a realização completa da festa literária. "Vamos construindo a programação, de acordo com orçamento que conseguimos. O show de abertura, por exemplo, vai acontecer se atingirmos determinada meta, caso contrário, não terá show, mas a Flip será igualmente incrível", compartilhou.

Mauro lembrou também que o próprio Educativo Flip ainda está pendente de apoios e patrocínios. "A grande questão é que o Educativo não acontece somente nos cinco dias de evento, são ações permanentes e grandes que precisam de apoio e incentivo o ano inteiro".

Os ingressos desta edição de 2022 serão vendidos a R$ 120 (R$ 60 meia entrada). Munhoz destacou que, apesar dos ingressos representarem de 5% a 6% para a realização da Flip, em um momento que a captação de recursos está ainda mais complicada, ela se torna mais importante. "Ao longo dos anos, fomos criando a experiência de que quem quer estar no Auditório sabe que, quando esta comprando o ingresso, está fazendo uma doação, e passa a ser um colaborador do evento", frisou.

Casas parceiras

Sem divulgar nomes ou números, a organização do evento garantiu que a Flip deste ano terá, novamente, diversas casas parceiras para complementar a experiência do visitante. A expectativa é que mais perto do evento a lista com as casas parceiras seja divulgada.

Sobre Maria Firmina dos Reis

Embora não haja certeza sobre a data, o mais provável é que Maria Firmina dos Reis tenha nascido em 1822. Escritora e educadora, em 1859 lançou Úrsula, romance que inaugura, no Brasil, com genialidade, a linhagem da literatura abolicionista e que, após anos de apagamento, vem paulatinamente ganhando mais atenção, dentro e fora do Brasil. O ineditismo e a valentia do texto de Maria Firmina dos Reis são significativos para entender como ela ao mesmo tempo leu o seu momento histórico e soube fabular a partir dele.

Professora de primeiras letras em Guimarães, no Maranhão, sua obra prolífica se construiu praticamente em paralelo à literatura majoritariamente masculina e branca dos círculos literários brasileiros. Somente na década de 1970 Maria Firmina emerge como voz dissonante, resultado de leituras contra-hegemônicas de pesquisadores e pesquisadoras. A homenagem a ela se dá tanto pela qualidade de sua produção em diversos gêneros, como pelo fato de que por bastante tempo ela ficou à margem da história canônica da literatura brasileira.

Confira a programação divulgada até agora

Quarta-feira (23)

19h - Mesa 1: Pátrios lares
Homenagem: Maria Firmina dos Reis
Ana Flávia Magalhães Pinto (DF) - Unicamp, Selo Negro Edições,
Fernanda Miranda (BA) - Malê
Midria (SP) - Jandaíra

Quinta-feira (24)

10h30 - Mesa 2: Minha liberdade
Homenagem + Independência (Maria Firmina dos Reis)
Lilia Schwarcz (SP) - Companhia das Letras, Cobogó
Eduardo de Assis Duarte (MG) - Editora Malê, Pallas, UFMG

12h - Mesa 3: O brando leque do gentil palmar
Teresa Cárdenas (Cuba) - Pallas, Figura de Linguagem
Cida Pedrosa (PE) - CEPE, Companhia das Letras

19h - Mesa 4: O corpo de imagens
Lenora de Barros (SP) - Cobogó, Automática
Ricardo Aleixo (MG) - Todavia, Impressões de Minas, Peirópolis
Patricia Lino (Portugal) - Macondo, Relicário, Gralha Edições

20h30 - Mesa 5: A festa das irmãs perigosas
Camila Sosa Villada (Argentina) - Planeta
Luciany Aparecida (BA) - Fósforo/Luna Park, Paralelo13s

Sexta-feira (25)

10h30 - Mesa 6: Ainda longos combates
Allan da Rosa (SP) - Nós, Global, Veneta
Eduardo Sterzi (RS) - 7Letras, Lumme, Todavia

12h - Mesa 7: Risco e transformação
Cecilia Pavón (Argentina) - Jabuticaba
Fabiane Langona (RS) - Mórula, UgraPress, Folha de S.Paulo

15h30 - Mesa 8: O que deixaram para adiante
Ladee Hubbard (EUA) - Paralelo13s
Geovani Martins (RJ) - Companhia das Letras

17h - Mesa 9: E se eu fosse
Amara Moira (SP) - Hoo, Editora Incompleta
Ricardo Lísias (SP) - Companhia/Alfaguara, Lote 42, Record, E-galáxia

19h - Mesa 10: Do mal que tu me deste...
Benjamin Labatut (Chile) - Todavia
Luiz Mauricio Azevedo (RS) - Figura de Linguagem, Sulina

20h30 - Mesa 11 Livre e infinito
Mesa com Artista em Destaque: Claudia Andujar

Neste ano particular, o coletivo curatorial e a direção artística da Flip trazem também uma inovação: a celebração da trajetória artística de uma personalidade viva. A obra de Claudia Andujar ecoa um gesto central da literatura: abrir uma entrada sensível ao lugar e ao olhar do outro, sem jamais substituí-los ou rasurá-los. Sua fotografia é uma narrativa do encontro, porque reorganiza a forma de acercar-se, deixando que um poder invisível se manifeste na existência mútua de quem observa e quem é observado.
Nay Jinknss (PA)

Sábado (26)

10h30 - Mesa 12: Mesa Zé Kleber
[tbc]

12h - Mesa 13: A literatura em que habito
Bessora (Bélgica) - Relicário
Carol Bensimon (RS) - Companhia, Dublinense
Prisca Augustoni (MG) - Nankin, Quelônio, Mazza, Luna Park/fósforo

15h30 - Mesa 14: Diamante Rubro
Annie Ernaux (França) - Fósforo
Veronica Stigger (RS) - Todavia, Cultura e Barbárie, Ed 34, 7Letras

17h - Mesa 15: Desterrando o susto
Nastassja Martin (França) - Ed. 34, Dantes
Tamara Klink (RJ) - Peirópolis

19h - Mesa 16: Entrar no bosque de luz
Saidiya Hartman (EUA) - Fósforo, Bazar do Tempo.
Rita Segato (Argentina/Brasil) - Bazar do Tempo

Domingo (27)

10h30 - Mesa 17: Encruzilhadas do Brasil
Cidinha da Silva (BH) - Autêntica, Malê, Mazza, Kuanza, Oficina Raquel
Cristhiano Aguiar (PB) - Companhia/Alfaguara

Tags: Flip 2022
[13/09/2022 12:00:00]