
O Globo também trouxe entrevista com o designer Patrick Cassimiro. Em Fabulosas histórias de um Brasil LGBTQIAP+ (Paralela), ele usa um formato de almanaque para reunir histórias de personalidades importantes da sigla no país, dos tempos da colônia até a atualidade. Como, por exemplo a costureira portuguesa radicada no Brasil Filipa de Souza, que foi considerada no século 16 “a primeira mulher que beijava mulheres” no Brasil, e foi castigada severamente por causa disso. Os relatos chegam até 2020, ano com o maior número de pessoas LGBTQIAP+ eleitas para cargos políticos. O livro traz ilustrações feitas pelo próprio autor.
O Valor publicou crítica de Sra. Hemingway (Bertrand Brasil), da britânica Naomi Wood, no qual ela conta parte da vida de Ernest Hemingway (1899-1961) pesquisando sobre as quatro mulheres que se casaram com o escritor, além de uma enxurrada de casos paralelos. Há revelações que podem surpreender até mesmo quem já mergulhou na vida do romancista. Mais do que um mulherengo sem remédio, coisa que ele também era, o que aparece é um Hemingway em eterna luta contra a solidão e contra as dúvidas que o atormentavam dia e noite. A maneira como ele buscava a aventura e o perigo fazem parte de uma personalidade ampla e complexa.
Na Folha, o caderno Ilustríssima trouxe duas entrevistas com arqueólogos. O britânico David Wengrow comentou seu livro O despertar de tudo (Companhia das Letras), tratado iconoclasta que refuta as visões consagradas sobre a história da humanidade. Segundo o autor, sociedades pré-históricas e povos indígenas desenvolveram formas de organização social e política tão ou mais avançadas que os europeus em aspectos como a democracia e a liberdade, mas tiveram suas contribuições descartadas pelo cânone ocidental eurocêntrico forjado a partir do Iluminismo. Já o brasileiro Eduardo Góes Neves apresenta no livro Sob os tempos do equinócio (Ubu Editora) uma trajetória mais nuançada e complexa na história de mais de 10 mil anos dos povos amazônicos, afastando o modelo mecanicista e linear que associa à evolução à formação do Estado, o que abre novas possibilidades de compreensão das sociedades.
A Folha trouxe também crítica de Sul e Oeste (HarperCollins), livro de ensaios da americana Joan Didion (1934-2021) que se divide em duas partes. A primeira reúne notas e gravações da perambulação da autora pelo sul dos EUA no verão de 1970. Na parte complementar, anotações feitas em 1976, quando ela foi a San Francisco com intuito de cobrir o julgamento da herdeira milionária Patty Hearst para a revista Rolling Stone. Nenhuma das reportagens chegou a ser escrita. O livro, lançado em 2017 nos EUA, reúne as anotações brutas de uma das maiores ensaístas do século XX.
O Estadão publicou reportagem sobre o livro Arte do Centenário e outros escritos (Editora Unesp), de Oswaldo de Andrade, no qual o autor dispara críticas contra colegas e os artistas que ele considerava “passadistas”. Em 1920, então com 30 anos, Oswald tinha como alvos o parnasianismo, o simbolismo e o regionalismo que ainda vigoravam na literatura da época. Ele fazia defesa de uma nova estética, que se consolidaria na Semana de Arte Moderna, dois anos depois. A professora universitária, pesquisadora e tradutora Gênese Andrade organizou a obra, uma coletânea de 18 textos publicados na imprensa entre 1920 e 1922, que estavam inéditos em livro. Oswald é particularmente crítico ao compositor Carlos Gomes, autor da ópera O guarani, considerado um dos ícones da música clássica brasileira. “Carlos Gomes é horrível”, afirma o modernista.
Na coluna Babel, também no Estadão, Maria Fernanda Rodrigues falou de Gerúndio a dois, uma coletânea de contos que Alexandre Staut organizou e que está no prelo da Folhas de Relva Edições. A ideia foi convidar escritores brasileiros a homenagear outros autores criando textos em que eles aparecessem juntos, fazendo alguma coisa. São 28 textos no total, um conjunto que inclui Andréa del Fuego consultando Ivana Arruda Leite, Ana Elisa Ribeiro rindo de certos pesadelos com Clarice Lispector e Mailson Furtado seguindo um cortejo com o Manuel Bandeira, entre outros pares.