Observações sobre a realidade brasileira
PublishNews, Redação, 10/08/2022
Nuno Ramos reflete a respeito da experiência brasileira em uma espécie de 'confessionário ensaístico'

Em abril de 2016, quando montava uma instalação em Belo Horizonte, Nuno Ramos começou a escrever os fragmentos de Fooquedeu (Um diário) (Todavia, 208 pp, R$ 69,90), que se fez meio ao acaso, sem projeto ou intenção deliberada. Este “diário” — que se caracteriza mais pela interiorização do tempo histórico do que pela sucessão de acontecimentos — foi gestado entre a véspera do impeachment de Dilma Rousseff e algum momento logo após a eleição de Jair Bolsonaro. O achado do título — Fooquedeu — é uma versão compactada da frase que Nuno ouviu de Mira Schendel, ao visitá-la pouco antes de sua morte. Depois de discorrer sobre a originalidade e a importância de seu trabalho, o jovem recebeu um cortante “Foi o que deu” como resposta. Três décadas depois, prensando a frase numa espécie de torniquete, Nuno acrescenta uma camada estranha ao sentido original — “Fooquedeu” é também um amálgama de fuck com “fodeu”. Nuno reflete a respeito de tudo em seu “confessionário ensaístico”. Produz iluminações ao tratar de filmes como O som ao redor e Boi Neon, da pedra no caminho deixada por Drummond ou dos diários do remoto escritor polonês Witold Gombrowicz. Esses “rascunhos”, como o autor os chama, gravitam em torno da experiência brasileira.

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[10/08/2022 07:00:00]