Ilko Minev foi o centro das atenções do Sabatina PublishNews transmitido ao vivo na última quarta-feira (15). Demonstrou tremenda simpatia e foi contundente ao criticar as infrutíferas tentativas de programas governamentais para preservar a Amazônia. Apontou também as condições bem longe das ideais que ele vê no mercado livreiro no Brasil, que, segundo ele, tem muito a crescer. Disse que escreve pela motivação de mostrar aos brasileiros a diversidade da região e a maneira como é realmente a vida dos moradores do interior amazônico.
Participaram como entrevistadores no Sabatina o livreiro Adauto Leva, dono da Cabeceira, em São Paulo; o jornalista Thales de Menezes, editor-chefe do PublishNews; e o autor e editor Anderson Cavalcante, dono da Buzz, que lançou os quatro livros de Minev: Onde estão as flores?, A filha dos rios, Na sombra do mundo perdido e Nas pegadas da alemão. O programa foi mediado por Talita Facchini, repórter do PublishNews.
O autor começou a entrevista contando como saiu da Bulgária (“No começo dos anos 1970 um país atrás da Cortina de Ferro”) e chegou ao Brasil. “Tive que escolher entre ser preso ou fugir”, contou, numa travessia por terra em direção à Iugoslávia, com medo de tomar um tiro pelas costas na fronteira bem vigiada pelos búlgaros.
Depois de dois anos exilado na Bélgica, ele conseguiu uma oferta de trabalho no Brasil. Comentou a dificuldade da barreira da língua – ele tinha apenas algumas noções de espanhol. Durante toda a vida profissional, Minev trabalhou como administrador de empresas. Primeiro em São Paulo, por curto período, e depois em Manaus, onde ele acredita ter crescido junto com a expansão da Zona Franca de comércio. Ao se aposentar, Minev quis dar vazão a seu sonho de ser escritor, alimentado dedes jovem na Bulgária. Mas se deparou com a dificuldade de nunca ter estudado português formalmente, em uma escola.
Ao responder a uma pergunta sobre o panorama das livrarias em Manaus, Minev destacou apenas duas, Saraiva e Leitura, com as quais mantém contato próximo. “Existem outras, mas meio improvisadas.” O escritor expandiu a resposta para todo o setor livreiro no Brasil, que não considera um panorama “bonito”. Ele acredita que tem muito a crescer. “O mercado livreiro do Brasil é apenas um pouco maior do que o de Portugal, e isso já fala muito mal a respeito disso. Tem alguma coisa errada.”
Minev afirma que realmente o que o encantou na Amazônia foi a exuberância da natureza, e que sempre se dedicou a viajar para lugares distantes das cidades. Ele revelou que pretendia fazer uma incursão a um lugar bem selvagem neste fim de semana, mas, no mesmo dia em que participou do Sabatina, horas antes soube de seu diagnóstico de Covid-19, sendo obrigado a iniciar um período de isolamento.
Ele afirma que os brasileiros conhecem pouco a região. “Sempre que se fala em Amazónia, o pensamento é sobre as florestas. Claro, a floresta domina, mas aqui você tem estepes, você tem montanhas, um pouco de tudo. E os rios, olha, nenhum deles é igual ao outro!”. Para ele, essa diversidade explica a razão de as políticas públicas renderem poucos resultados na preservação, porque o governo não conhece a Amazônia.
Todos os livros de Minev se baseiam em fatos reais. Quando pensou em começar o projeto de escritor, ele queria um nicho para ocupar. Como muitos livros que lia sobre a Amazônia “davam sono”, pensou em romancear o que poderia ser contado sobre a região, para atingir um público maior. “Não tem coisa mais fantástica do que a história real”, diz.
Surpreendido pelo sucesso enorme de Nas pegadas da alemão, brincou dizendo que às vezes precisa se beliscar para ter certeza de que as coisas estão realmente acontecendo. Contou que a demanda que veio com as vendas do livro, cerca de 60 mil exemplares, estão impedindo o avanço de qualquer projeto futuro, mas revelou que talvez ele trabalhe com histórias mais curtas, talvez contos.