A sede de poder, no deserto
PublishNews, Redação, 16/05/2022
Livro publicado pela Editora Tabla mergulha no interior de uma sociedade desértica e apresenta uma trama repleta de mistério e fantasia

Imagine acordar um dia e perceber que sua roupa está grudada na sua pele? Imagine que essa roupa – na verdade, uma túnica mágica –, aos poucos, se mistura com seu corpo, virando parte indivisível dele? É este o ponto de partida do romance O tumor (Tabla, 192 pp, R$ 61 - Trad.: Mamede Jarouche), do premiado escritor líbio Ibrahim Al-Koni. O romance conta a história de um líder que ninguém jamais viu, mas que nomeia, por meio de seu mensageiro, um lugar-tenente para representá-lo em certo oásis do vasto deserto saariano. Os critérios para essa escolha não são claros. O ritual de unção do eleito, diga-se assim, envolve o uso de uma túnica que logo se revela um instrumento a um só tempo sutil e monstruoso de controle e dominação desse lugar-tenente. O enredo todo, com suas idas e vindas, é um grande pretexto para a discussão que de fato interessa ao autor: os processos de corrosão e devastação desencadeados pela sede de poder e pelas ambições desmedidas que a acompanham. Mais do que uma alegoria sobre o poder, a novela O tumor é uma fantasia distópica sobre o poder. A trama se desenvolve no seio de uma sociedade desértica, num oásis, e, para além das soberbas descrições de costumes e do meio – Al-Koni é membro dessa etnia –, evidencia que a organização social do deserto, por mais rústica e distante que possa parecer à primeira vista, está mais próxima das sociedades modernas do que se pensa.

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[16/05/2022 07:00:00]