Nesta quarta (23), durante uma coletiva de imprensa na Feira do Livro Infantil de Bolonha, o historiador Yuval Noah Harari, autor do best-seller Sapiens, anunciou o seu novo projeto, uma série infantojuvenil.

Divididos em quatro volumes, os livros são fruto de uma parceria entre Yuval, o ilustrador espanhol Ricard Zaplana Ruiz e a Sapienship Storytelling e serão publicados um a cada ano.

O primeiro deles, intitulado Implacáveis - Como nós conquistamos o mundo (Unstopplable us), terá seu lançamento mundial no outono de 2022, sendo publicado por aqui pela Companhia das Letrinhas, no dia 15 de setembro, com tradução de Laura Teixeira Motta. A obra consiste em uma narrativa de não ficção e tem como objetivo tornar a história relevante para o dia a dia das crianças, além de provocar questionamentos consistentes. "Ao invés de ensiná-las sobre as guerras e questões mundiais, acredito que o mais importante é deixá-las curiosas para que façam as perguntas que os adultos esqueceram de perguntar", disse durante a conferência.

Assim, o livro apresenta às crianças a história dos humanos desde os tempos em que éramos primatas até os dias de hoje e propõe responder às perguntas que todos nós já fizemos alguma vez na vida: Quem somos nós? e Como chegamos aqui?

Como o próprio título sugere, o foco do livro é mostrar como a espécie humana se valeu de sua inexorável potência de continuidade para perpetuar sua vida no planeta.

Para ele, o melhor jeito de fazer a história ser interessante para as crianças - e até para os adultos - é usando os problemas que enfrentamos hoje. "Por exemplo, podemos pegar algo que aconteceu durante as férias das crianças, o tema do bullying talvez, e isso pode ser o início para ensinar a elas como surgem os ditadores, de onde eles vem e como lutar contra a ditadura", explicou.

Em Implacáveis, ele traz para o universo infantil, questionamentos profundos e explica, por exemplo, que os seres humanos foram feitos todos da mesma forma e retoma sua ideia de que a história deve ser ensinada se desprendendo do passado. Um dos exemplos dados na obra é o medo que muitas crianças têm de monstros durante a noite. Para Yuval, esse medo não vem de nenhuma religião ou nação em particular e sim do nosso passado em comum. "Isso porque há milhões de anos, havia sim monstros durante a noite. Nós estamos aqui porque um ancestral acordou com algum animal no meio da noite, fugiu e conseguiu sobreviver e alertar os outros. Então esse é o tipo de história que tenta conectar as crianças e que fazem parte do nosso legado", contou.

Inspiração para o livro

O historiador israelense disse que para escrever o livro, trouxe à tona o seu eu de dez anos e buscou trazer um novo olhar para sua escrita. "É um livro que gostaria de ter lido quando tinha dez anos e, se eu tivesse lido, teria me salvado de muitos problemas, noções e ideias equivocadas que eu tinha e que levaram anos para me livrar", contou.

Conselhos de um best-seller

Quando perguntado sobre que conselho daria para os professores de história, Yuval frisou que o importante é manter as crianças encorajadas e acrescentou: "Não ensine história como algo que pertence ao passado, ensine como algo que pertence ao presente e ao futuro".

Ele disse ainda que o livro pode ter qualquer formato e que "enquanto houver humanos, o poder da história ainda vai existir". Para ele, os adultos deveriam fazer o esforço de trazer grandes narrativas para as crianças. "Parte da responsabilidade do adulto é continuar contando histórias, e, se elas forem boas, muita gente vai sentar numa roda para parar e ouvir", aconselhou.