Entre memórias e mortes
PublishNews, Redação, 16/09/2021
'É sempre a hora da nossa morte amém', publicado pela Nós, discorre sobre finitude, memórias e afetos

É sempre a hora de nossa morte amém (Nós, 240 pp, R$ 48), romance de Mariana Salomão Carrara, conta a história da septuagenária Aurora, encontrada desmemoriada e descalça na beira da estrada e procurando por uma certa Camila. Para uma amnésica, Aurora recorda-se de muito: da mãe que escovava seus cabelos até parecerem “uma peruca eletrizada”; do seu ato falho trágico religioso, de quando rezava na infância e dizia “agora é a hora da nossa morte amém”; dos anos em que deu aula de português em uma escola de riquinhos; da sua covardia perante a ditadura militar; de um carnaval em que tentou perder a virgindade com um jovem brocha vestido de bebê e, sobretudo, das muitas mortes de Camila. Afinal, seria ela a sua filha (que morreu de suicídio, de picada de escorpião, de acidente na estrada, de atropelamento de boi, de comida muito quente na cabeça, de fungo de pombo, de queda de coco, de cambalhota ou pirueta entre duas camas) ou sua bela amiga? E ainda: seriam essas lembranças reais ou ela decorou dos muitos livros que leu, protegida, dentro de casa, dos infinitos perigos que existem lá fora? Assim, o leitor é sugado pelas confusões de memórias de Aurora e embarca na mesma angústia que acompanha a narradora protagonista e a assistente social Rosa. Nesta obra, a morte é temida, repetida, imaginada, exagerada, esmiuçada e listada de tantas formas que é quase possível rir dela ou vencê-la. A orelha do livro é assinada por Tati Bernardi.

[16/09/2021 07:00:00]