Depois do bookstagram, chegou a hora do booktok
PublishNews, Maju Alves*, 07/04/2021
Em novo artigo, Maju Alves fala sobre o lado literário do TikTok, como a plataforma entrega conteúdo e como as editoras podem tirar proveito disso

O TikTok foi o aplicativo que mais cresceu durante a pandemia. O app que já era usado pela geração Z, cresceu e virou queridinho entre os millennials também. Além disso, é cada vez mais comum ver marcas postando ou apostando em ações com os influenciadores da plataforma. Mas o poder do booktok (como é chamado o lado literário do TikTok) ainda passa batido para o mercado editorial brasileiro.

Nos 100 livros mais vendidos da Amazon, é possível notar a presença de vários dos títulos queridinhos do booktok. Na lista de março do PublishNews também podemos ver vários desses títulos em Ficção e Infantojuvenil (é praticamente impossível passar pelo TikTok sem ver alguém falando dos livros da Sarah J. Maas, Holly Black e Kiera Cass). Outro exemplo é Bridgerton, série de livros da Julia Quinn que foi adaptada pela Netflix, e que tem até seu próprio lado do TikTok. São vídeos falando sobre o livro, a série e até a criação de um musical de teatro completo sobre a história, com trilha sonora, coreografias e mais, tudo criado pelos tiktokers.

Recentemente O Globo fez uma matéria apontando um crescimento de 61% nos livros de fantasia desde o começo da pandemia e cita como exemplos vários desses títulos que são a “base” do booktok: assim que você começa a receber vídeos sobre livros no app, pode ter certeza que no começo todas as suas indicações irão mencionar Corte de Espinhos e Rosas, a série do Percy Jackson, O povo do ar e outras séries de fantasia YA. E eles são tão mencionados que mesmo dentro de casa comecei a ver a influência do booktok. Tenho uma irmã que faz parte da Gen Z e vários desses livros fazem parte da minha estante. Foi quando ela começou a ver as indicações no booktok que demonstrou um interesse maior pela leitura e começou a pedir os livros emprestados para ela e as amigas.

Foi pensando nesse crescimento que, em outubro do ano passado, resolvi criar conteúdo literário na plataforma, para entender quem são os leitores que estão no booktok, como funciona o app e qual a potência dele. E em seis meses (dentre eles, um mês tive de deixar a plataforma de lado) e pouco mais de 100 posts depois, o perfil (majualves) cresceu de 30 seguidores para 13.500 e 253 mil curtidas e me trouxe muitos insights.

Como o TikTok entrega conteúdo?

Imagine uma eterna página de explorar do Instagram, que te mostra conteúdo de diversos criadores (muitos que você não segue) baseado nos seus interesses. Essa é a for you page (ou FY, como chamam os usuários), a principal página do TikTok. O app abre nesta página (diferente de outras redes sociais, que abrem no seu feed somente com o conteúdo daquelas pessoas que você já segue). Isso torna seu alcance bem mais abrangente e o crescimento é constante: seus vídeos aparecem para vários não-seguidores, que interagem com o conteúdo e passam a te seguir com um click na lateral, e quanto mais interação, mais ele entrega esse conteúdo para outras pessoas. E o algoritmo é muito cirúrgico com as suas entregas: 15 minutos rolando a FY e o TikTok já sabe exatamente qual conteúdo te interessa (e aí fica muito difícil você parar de rolar a página).

A entrega do seu conteúdo também não para: ainda hoje vejo likes e comentários chegando em posts de outubro do ano passado. Por conta disso também, às vezes quando você realiza um post e ele não desempenha tão bem quanto o esperado, é só dar tempo. Mais de uma vez, posts que na primeira semana depois de postados juntaram pouco mais de mil visualizações, repentinamente, por um compartilhamento, ou crescimento do áudio, aumentou para mais de 10 mil, 50 mil, 200 mil.

E quais as boas práticas de criação de conteúdo no app?

O app tem vários áudios que viralizam, então encontrar esses áudios e saber como aplicá-los ao seu nicho é essencial. Mas nem só com eles cresce o perfil: o conteúdo original é pulo do gato. Com eles, os seguidores passam a interagir mais com você, fazer perguntas e pedir a criação de conteúdos específicos.

Usar os efeitos de edição que o app disponibiliza também é bom. Além de ajudarem a deixar o vídeo mais completo, o TikTok costuma entregar para mais pessoas, pois influencia outros a usarem o mesmo efeito.

E sem esquecer de usar as ferramentas para criadores e acompanhar as métricas da sua conta e melhores horários para postar!

Tá, e o booktok?

Atualmente no booktok livros como romance, fantasia e young adult são os que mais fazem sucesso nas indicações, mas a ficção no geral aparece bastante no app. Clássicos são muito citados (ainda mais em edições elaboradas, que são o sonho de consumo de vários leitores no app), e indicações de autores nacionais são sempre bem-vindas. Além das indicações, o booktok é cheio de análises de livros, teorias, resenhas, fan art e comunidades muito unidas.

Nos EUA o potencial do booktok já é visto: em uma matéria do New York Times editoras trouxeram exemplos de livros que voltaram para a lista de mais vendidos após serem mencionados no booktok, e como livrarias como a Barnes & Noble já estão criando mesas de exposição baseadas no booktok.

Por aqui, esse potencial ainda passa, em sua maioria, batido para o mercado. Mas o TikTok já provou que não é um app que vai desaparecer tão cedo (já é o mais baixado de 2021) e que ações na plataforma são sim bem-vindas e, mais cedo ou mais tarde, inevitáveis.


* Maju Alves é formada em Marketing e é pole dancer nas horas vagas. É também responsável pelos projetos especiais do PublishNews desde 2017.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do PublishNews.

[07/04/2021 09:00:00]