Contém ironia: Esses comunistas têm mais é que pagar imposto sobre o livro!
PublishNews, Tomaz Adour*, 08/04/2021
Em novo artigo escrito para o PN, Tomaz Adour, presidente da Libre, traz exemplo de países que taxaram e dos que não taxaram seus livros

Essa semana voltou à tona a proposta do ministro Paulo Guedes de taxar os livros em 12%. Afinal, só rico lê no Brasil, segundo ele. Mas ele não era liberal? Vai taxar os ricos? Tem alguma coisa errada. Desde que assumiu, a economia do Brasil vai às mil maravilhas, o PIB "só" caiu 4% durante a pandemia. Distribuíram bilhões para salvar os pobres. O orçamento está sob controle. Que ministro incrível!

A economia não caiu tanto, é verdade, mas precisa de recursos para se reerguer. Para não prejudicar o povo, que este governo parece amar tanto, taxemos os ricos. Esses leitores de livros precisam pagar impostos. E esses editores comunistas, que só devem comer caviar, já estão ricos demais. Podiam taxar os bancos com seus juros de agiotagem, mas não, eles estão salvando a economia. Só dois terços dos brasileiros estão devendo suas vidas para os bancos. Livro é o caminho. Ler não serve para nada. A economia do livro gira em torno de R$ 5,7 bilhões por ano. Com um PIB de 7,4 trilhões em 2021, o livro representa 0,07% do PIB. Se taxarmos isso em 12%, salvaremos a economia, o PIB vai crescer em 0,008%. Problema resolvido!

Para que serve ler? Ninguém cresce se estudar e ler muito. O ministro quase não leu para chegar até o seu doutorado. Fez doutorado por diletantismo? Podiam ter dobrado o preço dos livros que não teria feito diferença, né, seu ministro? Afinal, parte dos seus estudos foi bancado pelo CNPQ, essa instituição atrasada que só forma comunistas. Brasil precisa de pesquisa para quê?

Então, taxemos os livros! Que economia cresceu investindo em leitura? Japão, depois da Segunda Guerra Mundial? Coreia do Sul? São dois países atrasados, correto? Investiram 30 anos em educação e chegaram aonde? O Japão é a terceira maior economia do mundo. E a Coreia? Acabou de passar o Brasil, se tornando a 10ª. maior economia do mundo. Mas o Brasil sempre será uma das maiores economias do mundo. Somos grandes, acreditamos no nosso potencial. Epa, o governo Bolsonaro começou com o Brasil sendo a 9ª maior economia do mundo. E como só caiu 4,1% durante a pandemia, continuamos fortes. Só que não. O Brasil é agora a 12ª economia do mundo. Canadá, Coreia do Sul e Rússia passaram o Brasil. E nesse ano, com sorte, apenas Espanha e Austrália nos ultrapassarão. Sem sorte, a Indonésia também. Será mais um feito histórico desse governo. Começaram como a 9ª economia do mundo e podemos acabar como a 15ª. Genial!

Paremos de falar mal do governo. Afinal de contas, os países europeus sofreram muito mais, tiveram quedas mais expressivas nas suas economias. Morreu muito mais gente de covid por milhão lá. Até agora. Mas o Brasil está lutando para ultrapassá-los nisso também. Com sorte, chegamos a meio milhão de mortos até o meio do ano. E a classe média que pague pelas suas vacinas. É assim no mundo inteiro. Se pagarem pelas vacinas, param de gastar dinheiro com esses livros inúteis.

Mas esse artigo era para falar de impostos sobre os livros. O ministro propõe apenas 12% de IVA. Não vai afetar o mercado. Países desenvolvidos cobram imposto sobre livros. E por isso se desenvolveram. Não é verdade. Eles passaram a cobrar impostos depois de se desenvolverem. A Coreia do Sul até hoje não cobra imposto sobre livros, nem sobre e-books. Na Europa, das economias que fazem parte das 10 maiores, ninguém cobra 12% de impostos sobre livros. O Japão também não. Mas esse é um caso à parte.

Vamos para o nosso umbigo. Na América Latina, o Chile cobra 19% de imposto sobre os livros! Essa economia pujante que o ministro Paulo Guedes admira desde os tempos em que trabalhou com Pinochet. A economia que ele quer seguir de modelo, que implementou a capitalização das aposentadorias e vê hoje velhos morrendo de fome, sem dinheiro para comprar remédios. Realmente, não poderíamos ter melhor ministro da economia. Com letra minúscula mesmo.

Vamos a dois exemplos apenas de países que mudaram a taxação dos livros. O Quênia, na África, continente que não deveria cobrar impostos sobre os livros, taxou os livros em 16%. Como resultado, os preços dos livros subiram, as vendas caíram 40%, a pirataria aumentou. Que bela decisão. Em contrapartida, a Suécia reduziu o imposto sobre os livros. Hoje é de 6%. O resultado imediato foi a redução do preço dos livros em 12%. E aumento nas vendas em 16%. Esse é um círculo virtuoso.

Já vimos isso no Brasil. Quando pararam de cobrar PIS e Cofins, os preços dos livros caíram e as vendas aumentaram. Mais editoras surgiram. E aumentou a nossa bibliodiversidade. Vamos manter esse círculo virtuoso aqui. Ainda estamos longe de ser uma economia desenvolvida. Não podemos dar um tiro no pé da indústria que mais faz a diferença para diminuirmos as desigualdades do país.


* Tomaz Adour é editor da Vermelho Marinho e presidente da LIBRE – Liga Brasileira de Editoras, que congrega mais de 150 editoras

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do PublishNews

[08/04/2021 09:29:09]