Como será a indústria do livro em 2025?
PublishNews, Leonardo Neto, 19/03/2019
Na Feira de Londres, Margot Atwell (Kickstarter) apresentou cinco previsões para a indústria do livro: diversidade, descentralização, aproximação com leitores e uso de dados estão entre as tendências

Margot Atwell durante o painel 'The future of publishing: five predictions for 2025' que encerrou a programação da Feira do Livro de Londres, na última quinta-feira (14)
Margot Atwell durante o painel 'The future of publishing: five predictions for 2025' que encerrou a programação da Feira do Livro de Londres, na última quinta-feira (14)
A indústria do livro mudou mais na última década do que nos 100 anos anteriores e esse processo só é um prenúncio das muitas mudanças que estão por vir. Foi a partir dessa premissa que a norte-americana Margot Atwell conduziu, durante a Feira do Livro de Londres, um painel em que apresentou cinco previsões para 2025. Ela é diretora de publicações da startup Kickstarter, plataforma global de financiamento coletivo que no momento do fechamento dessa matéria estava com mais de 45 mil projetos ativos na área de publicações.

Ela defende que nos próximos cinco anos, a indústria do livro deverá se tornar mais diversa tanto nas suas publicações quanto na sua força de trabalho. O editor de 2025, na avaliação de Margot, deverá correr riscos ao publicar livros que representam pessoas marginalizadas. “Com tantos livros sendo publicados, é desejável que todos sejam representados”, disse apresentando dados de uma pesquisa que revelou que apenas 4% dos personagens dos livros publicados no Reino Unido são negros, asiáticos ou de minorias étnicas. A representação, segundo ela, é importante não só porque é a coisa certa a se fazer, mas porque, com ela, os editores vão alcançar novos leitores quando esses se virem representamos nos livros.

A segunda previsão de Margot é que a indústria editorial se tornará mais difusa e cada vez mais virtual. Ela defendeu que há uma tendência de as editoras fugirem dos grandes centros urbanos por uma questão financeira e que novos polos literários surgirão em cidades mais baratas. “Você não precisa estar numa grande capital para fazer livros de qualidade. Isso nos remete novamente à diversidade: se você não está espalhado por todo o país, não está em contato com o humor do país, você está em uma bolha. Bolhas criativas não produzem arte inovadora”, argumentou. Neste sentido o trabalho remoto deve ganhar força, na avaliação da editora.

Margot avalia que o editor deverá se voltar ainda mais para o consumidor final. “Editores de sucesso serão orientados pelas comunidades e encontrarão maneiras de se conectar com os leitores além das páginas dos livros”, apresentou citando o sucesso de booktubers, bookstagramers e os poetas que surgiram pelas redes sociais, com destaque especial a Rupi Kaur. Ela falou também na necessidade de editores criarem eventos pensados nos leitores, como encontros com autores e participação em eventos como Comic Con. “Os editores têm que investir nisso se quiserem se manter relevantes”, concluiu o assunto.

Ela seguiu dizendo que o editor de 2025 deverá dar conta de entender e aproveitar os dados oferecidos por seus clientes. Ela prevê que até 2025, dois terços dos livros sejam vendidos por meio da Amazon e prevê ainda um crescimento exponencial do Kindle Unlimited, o serviço de subscrição de e-books da gigante de Seattle. No entanto, ela alertou que a Amazon não compartilha seus dados com os editores e autores independentes do KDP. “Hoje, ninguém no mundo conhece tão bem o leitor quanto a Amazon. Eles coletam uma tonelada de dados deles, mas não compartilham com os editores. É por isso é que eles estão ganhando o jogo”, disse.

Finalizando as suas previsões, Margot defendeu que os editores de sucesso em 2025 publicarão em diversos formatos e diversificarão suas receitas. “Nunca antes na história o consumidor esteve tão disposto a pagar por conteúdos digitais. O editor precisa tirar vantagem disso”, conclamou. Ela citou o sucesso de plataformas como Netflix e Spotify. A música e o cinema já deram esse salto e ela se questionou quando é que o livro finalmente os seguirá. Neste sentido, Margot apontou para um possível crescimento do consumo de contos pelos canais digitais. A atenção do leitor, segundo a sua avaliação, será cada vez mais curta, por isso, textos menores poderão ser consumidos com mais facilidade. Para finalizar, ela puxou sardinha para a própria brasa ao lembrar que o editor deve levar em conta a possibilidade de diversificar suas receitas por meio do financiamento coletivo e de pré-vendas não só nessas plataformas, mas também em livrarias.

[19/03/2019 10:20:00]