On the same page. On the same stage.
PublishNews, Leonardo Neto e Talita Facchini, 10/10/2018
Identidade, diversidade e respeito aos Direitos Humanos dão o tom da abertura da Feira do Livro de Frankfurt

Federica Mogherini durante seu discurso na cerimônia de abertura da Feira do Livro de Frankfurt | Leonardo Neto
Federica Mogherini durante seu discurso na cerimônia de abertura da Feira do Livro de Frankfurt | Leonardo Neto

As aberturas da Feira do Livro de Frankfurt são, historicamente, carregadas de teor político. No ano em que a Feira e a Declaração dos Direitos Humanos completam seu 70º aniversário, isso obviamente não seria diferente. Sob o lema On the same page, mesmo mote usado como campanha que quer mobilizar editores e livreiros de todo o mundo na defesa do documento, a cerimônia contou com a presença de autoridades como o primeiro-ministro da Geórgia, país homenageado de 2018, e Federica Mogherini, alta representante da União Europeia para Política Externa e Segurança. No pano de fundo, a defesa dos Direitos Humanos, da diversidade e da preservação da identidade.

Juergen Boos, diretor geral da Feira, lembrou que a Declaração dos Direitos Humanos foi assinada “em um dos piores momentos da história, ainda sobre as cinzas de duas guerras”. No mesmo ano – e no mesmo espírito – renascia a Feira do Livro de Frankfurt. A rigor, a feira é tão antiga quanto o livro. Já que a sua primeira edição foi realizada em 1454. Mas foi depois do fim da II Guerra Mundial, que a Feira começou a ter a estrutura e o conceito que a fizeram ser a maior e mais importante feira de negócios do livro no mundo.

Em seu discurso, Heinrich Riethmüller, presidente da Associação Alemã de Editores e de Livreiros, fez um apelo especial para Recep Tayyip Erdoğan, líder político da Turquia: “Por favor, pare de perseguir jornalistas, escritores e editores”. E estendeu o recado a todos os presidentes de outros países que ameaçam – de alguma forma – a vigência da Declaração dos Direitos Humanos. Segundo estimativas apresentadas por Riethmüller, há hoje três milhões de turcos morando na Alemanha.

O ponto alto da noite foi o discurso da alta comissão da União Europeia para Política Externa e Segurança. “A catástrofe dos regimes totalitários do século XX começaram sempre pela queima de livros”, alertou os presentes. Ela defendeu a Cultura e a Identidade como a mais poderosa arma da Europa para garantir o seu softpower nas relações exteriores. E os livros, defendeu ela, têm papel fundamental nisso. “Sem uma identidade, nenhuma política faz sentido e os livros são uma maneira de construir nossa identidade como europeus”, disse. Identidade, a propósito, foi a palavra-chave do seu discurso. Ela pediu uma Europa de “muitas identidades”. “Eu, por exemplo, sou uma italiana orgulhosa. Tenho orgulho de ser romana e tenho orgulho de fazer parte de um bairro na minha cidade. Apesar disso, não há nenhuma contradição em dizer que sou orgulhosamente europeia, porque identidades estão em camadas”, disse. “A diversidade é parte de nós”, completou.

Além do caráter político, a cerimônia serviu também como um apelo a editores e livreiros para “trazer o livro de volta para o povo”, como defendeu Riethmüller. O mercado alemão tem apresentado queda importante nas vendas de livros. Nos nove primeiros meses de 2018, a indústria do livro alemã registrou queda de 1,1% nas suas vendas. No ano passado, essa queda foi de 1,6%, fechando o ano passado com 9,13 bilhões de euros. “Os leitores apreciam o livro e anseiam por ele. No entanto, na vida cotidiana, cada vez mais agitada, estressada pelas mídias sociais, eles estão dispersos em outras formas de entretenimento e ficaram menos propensos a ler”, comentou.

Na comparação com o ano passado, a Feira cresceu 3% no número de expositores. Esse ano, a Feira recebe 7,5 mil expositores de 110 países.

Confira abaixo a íntegra do inspirador discurso de Federica Mogherini

[10/10/2018 07:18:26]