“Fernando Sabino e Rubem Braga autografaram a minha primeira carteira de trabalho”, conta orgulhoso Paulo Rocco numa animada conversa que teve com o PublishNews poucos dias depois de saber que ganhará, nesta quarta-feira (29), o Prêmio Especial Avena PublishNews de Contribuição ao Mercado Editorial. A assinatura foi dada em 1967, quando Rocco foi contratado pela dupla para integrar o time da editora Sabiá da qual Sabino e Braga eram sócios. “Eu tinha feito um concurso público, mas desisti para trabalhar com o livro”, relembra o editor que se formou em economia. “Eu cheguei na entrevista, disse que era um grande leitor da obra dos dois, que tinha lido todos os livros da Sabiá. Eles me responderam: ‘mas, Paulo, precisamos de um gerente. Leitores já temos’”, conta.
Rocco ficou na Sabiá até 1975, quando decidiu partir para carreira solo e formar a sua própria editora. Nesses 50 anos, o editor não só testemunhou, como protagonizou muitas transformações no mercado editorial brasileiro. Apesar de todos os avanços tecnológicos, Rocco observa que uma mudança foi a mais importante. “A relação mais pessoal foi se perdendo. A gente tinha muito mais disponibilidade na época, a gente se visitava muito. Na época da Sabiá, Drummond, João Cabral de Mello Neto e outros tantos sempre nos visitavam. Esse contato pessoal ficou menos comum hoje. Nessa época, época de grandes editores como Ênio Silveira e José Olympio, havia um contato muito mais estreito entre as pessoas do meio editorial”, relembra.
Nessas cinco décadas, o editor viu também o nome do Brasil ganhar notoriedade no mercado internacional. “Isso começou com Alfredo Machado e Sérgio Lacerda. Hoje, os editores brasileiros são muito credenciados internacionalmente”, comentou. Rocco lamenta que essa memória vem se perdendo com o tempo. “Não existe uma grande pesquisa sobre o passado editorial brasileiro. Marcos e Tomás [Pereira, da Sextante] fizeram uma biografia do [avô] José Olympio, mas não tem uma sobre o Geraldo [Jordão Pereira, filho de José Olympio e pai dos irmãos Pereira]. As novas gerações precisavam saber como o mercado evoluiu desde Monteiro Lobato”, disse.
Recado às novas gerações de editores para que eles tenham uma carreira tão longeva quanto a de Rocco? “Primeiro precisam viver”, disse o editor antes de cair na gargalhada. “Mas acima de tudo é ser sério no que você faz, ter compromisso com aquilo que se propõe a fazer. Ser editor ou trabalhar em uma editora, ou numa livraria, é buscar ser o melhor. O melhor não significa fazer best-sellers. Isso é paralelo e vai ocorrendo no decorrer do trabalho. É preciso ser correto com os autores e com o público. Eu, por exemplo, se perder esse emprego aqui na Rocco, estou ferrado. Não sei fazer outra coisa. Vou me agarrar nesse emprego porque se o patrão não me quiser mais...”. Novamente uma sonora gargalhada.
A sorte [e a intuição] de Rocco
O nome de Paulo Rocco estará sempre associado à palavra “sorte”. Não só porque os dois primeiros títulos publicados pela Rocco -- Teje preso, de Chico Anysio, e Casos de amor, de Marisa Raja Gabaglia – alcançaram as listas dos mais vendidos da época publicadas pelo Jornal do Brasil e pel´O Globo, mas também por ter revelado Paulo Coelho como escritor, por ter fechado contrato com J.K. Rowling para publicar no Brasil a saga do bruxinho Harry Potter, ou por ter assinado contrato com um certo Robert Galbraith, mesmo sem saber que se tratava de J.K. Rowling. “Não tem sorte. Tem intuição. Isso faz parte do nosso trabalho”, rebate. “As pessoas falam que eu descobri Paulo Coelho. Nada! Paulo Coelho me descobriu. Me chamam de midas, mas isso não é bem verdade. É resultado de um esforço. Sempre fui uma pessoa esforçada”, decreta.
Rocco aproveita que falava de sorte para falar sobre o papel do editor. “Ao longo do tempo, percebi que há uma coisa muito importante, que é o papel social do editor. Ele é uma pessoa que seleciona o que o público vai ler. É um filtro. Ele tem uma importância na sociedade. Ele pode barrar determinadas coisas, mas um bom livro sempre vai encontrar um bom editor”, comenta. E a autopublicação? “Só ajuda o trabalho do editor. No final, o que o autor autopublicado mais quer é ser publicado por uma editora. Nem tudo o que é autopublicado é bom e nem tudo o que é publicado pelo processo tradicional é bom. O leitor é o juiz”, observa.
O editor segue otimista com o futuro do livro. “O que vai mudar no livro é a tecnologia. Diferentes meios de publicação e circulação, mas o livro, como cultura de saber e de diversão, vai sempre existir. Só não sei por qual meio isso vai acontecer”, conjecturou.
Além da homenagem ao editor, a Rocco levará o troféu Avena PublishNews pelo segundo lugar da lista anual Infantojuvenil, ocupado por Harry Potter e a criança amaldiçoada. “Esse é resultado de um trabalho de equipe. Equipe é fundamental. Tenho muito orgulho de ter pessoas que estão comigo há muitos e muitos anos. Não falo só da gente do editorial, mas de todas as áreas. Se você tem uma equipe que te abraça é muito bom. Você se sente recompensado. Quando uma pessoa diz que se sente feliz trabalhando na Rocco, para mim, é uma homenagem”, concluiu.
E este é o espírito do Prêmio Avena PublishNews: dar reconhecimento às equipes que estão por trás dos sucessos das prateleiras. Logo depois de um happy hour, Brian Murray, CEO da HarperCollins Publishers, que está em visita ao Brasil, fará uma breve fala que será sucedida por uma mesa de debates com profissionais de vendas e de marketing. Na sequência, serão entregues 15 troféus aos três primeiros colocados em cada uma das cinco categorias da Lista dos Mais Vendidos do PublishNews em 2016 e quatro prêmios especiais: para o livro mais vendido do ano, para a editora que mais emplacou títulos na Lista; para um dos cinco finalistas do Prêmio Profissionais de Marketing e Vendas do Ano e o prêmio especial a Paulo Rocco, pela sua contribuição ao mercado editorial.
O prêmio é correalizado pelo PublishNews e pela International Paper, fabricante dos papéis Chambril Avena e Chambril Avena + para o segmento editorial.