Sancionada em 1991, a Lei Rouanet foi criada com a finalidade de captar e canalizar recursos privados, via renúncia fiscal, para projetos culturais. É pela lei que são viabilizados não só eventos como as Bienais ou a Flip, mas também a publicação de livros. Na última terça-feira (21), o ministro Roberto Freire, da Cultura, anunciou mudanças na lei, por meio de uma Instrução Normativa publicada no Diário Oficial desta quarta-feira (22). Com as mudanças, o Ministério da Cultura (MinC) quer descentralizar os projetos. Segundo levantamento do órgão, 80% das propostas aprovadas são realizadas na região Sudeste e 11% no Sul. Restando muito pouco para o Nordeste (5,5%), Centro-Oeste (2,6%) e Norte (0,8%).
Além disso, o MinC estabelece na Instrução Normativa a criação de ferramentas tecnológicas para aumentar o controle, a fiscalização e a transparência dos projetos, que passarão a ter prestação de contas em tempo real. O MinC estima que 18 mil projetos estão com prestação de contas pendente. "Tivemos como principal preocupação a transparência dos processos. No Brasil de hoje, o acompanhamento da prestação de contas em tempo real é um avanço muito importante que será trazido à Lei Rouanet com a vinculação da conta única do Banco do Brasil e a publicação da movimentação dos recursos públicos no Portal da Transparência. Isso proporcionará que o passivo pendente de análise existente em cerca de 18 mil projetos seja desbastado", destacou o ministro durante o evento.
"O sistema já estava preparado para a prestação de contas via internet, mas o processo tinha que seguir em papel. Há muito tempo, a gente ansiava para que isso de fato funcionasse. Estamos torcendo para que esse processo fique cada vez mais desburocratizado, transparente e on-line", comemora Amanda Mendes, diretora da empresa ApontoAr especializada em elaboração, acompanhamento e prestação de contas de projetos em leis de incentivo.
Entre as principais mudanças que poderiam afetar a realidade sobretudo de eventos literários está o teto de até R$ 10 milhões por projeto (podendo este limite ser ampliado em até 50% para projetos realizados nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste). Para as bienais (tanto de São Paulo quanto a do Rio), essa mudança não deverá ter efeito imediato. “Historicamente, a captação fica abaixo desse teto. Ele está, portanto, de acordo com o nosso porte”, apontou Fernanda Gomes Garcia, diretora executiva da Câmara Brasileira do Livro (CBL), entidade que realiza a Bienal de São Paulo. Na última edição, realizada em 2016, a CBL foi autorizada a captar R$ 9,3 milhões via Rouanet. Desse total, no entanto, a Bienal captou R$ 3,9 milhões, que representou 30% do orçamento global do evento.
Para a próxima edição da Bienal do Rio, marcada para acontecer entre agosto e setembro deste ano, o MinC autorizou a captação de cerca de R$ 5 milhões. Tatiana Zaccaro, diretora do Núcleo de Cultura da Fagga, que organiza a Bienal do Rio em nome do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), aponta, portanto, que o teto não afetará a realização da Bienal. “A parte burocrática, de prestação de contas, é a única coisa que efetivamente muda para a Bienal, mas a gente enxerga que isso vai ajudar a democratizar o processo”, comentou.