2016 e o desafio de manter eventos literários de pé
PublishNews, Leonardo Neto, 21/12/2016
No balanço do ano, eventos literários tiveram dificuldades, mas se mantiveram em pé. Editoras estimam vender US$ 1,4 milhão em livros e em direitos autorais depois de participação em feiras internacio

Bienal Internacional do Livro de São Paulo levou ao Anhembi quase 700 mil pessoas, mas não passou ilesa pelo ano de crise | © Divulgação
Bienal Internacional do Livro de São Paulo levou ao Anhembi quase 700 mil pessoas, mas não passou ilesa pelo ano de crise | © Divulgação

Em 2015, o mundo dos livros – e da educação – ficou surpreso e triste com o anúncio da suspensão da Jornada Literária de Passo Fundo, que confirmou mais recentemente nova edição para 2017. Em 2016, não houve nenhum episódio semelhante, não pelo menos, com a mesma repercussão. Mas isso não quer dizer que tenha sido fácil. Longe disso, aliás. Curadores e organizadores ouvidos pelo PublishNews durante o ano, foram unânimes ao dizer que foi muito difícil manter de pé os eventos literários.

A Bienal Internacional do Livro de São Paulo, talvez o maior evento do ano, levou ao Anhembi 680 mil pessoas, mas não passou ilesa pelo ano de crise. "Tivemos uma queda de público [na edição anterior, em 2014, a Bienal apurou 700 mil visitantes], que é muito explicada pela crise. Nesse ano, tivemos pouquíssimo apoio do governo do Estado. Em versões passadas, o governo cedia o transporte, o que foi cortado nesse ano. Tivemos que colocar esse custo no nosso orçamento, mas foi muito importante", ressaltou Luis Antonio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), que realiza o evento. Torelli observa que teve queda ainda no número de expositores. "Renegociamos todos os contratos de fornecedores para que a gente pudesse oferecer um espaço que ficasse abaixo da inflação -- entre 2014 e 2016, tivemos um reajuste de 6% no metro quadrado. Mas, mesmo assim, tivemos uma redução no número de expositores e alguns reduziram seus espaços. Apesar disso tudo, foi uma Bienal muito elogiada. Conseguimos ampliar os corredores, o que gerou mais conforto aos visitantes. Foi um exemplo pra gente nunca mais esquecer", enalteceu.

A Flip também se fez mais enxuta em 2016. Com orçamento de R$ 6,8 milhões, o menor nos últimos seis anos, o evento que chegou a sua 14ª edição viu a programação paralela, feita pelas casas de editoras e empresas do setor, ganhar importância.

Milagre foi a palavra usada por Gisele Corrêa, curadora do Flipoços, para descrever a edição de 2016 do evento realizado na cidade mineira de Poços de Caldas. “O Flipoços hoje é um festival que já é muito importante no cenário literário nacional, mas, mesmo tendo essa notoriedade conquistada com muito trabalho, o festival continua tendo uma deficiência de recursos muito grande. Em 2015, milagrosamente conseguimos realizá-lo. Arrecadamos muito pouco perto do que realizamos. Não sei se em 2017 será diferente”, disse a curadora ao PublishNews antevendo que o cenário do ano que está para começar não estará dos mais bonitos.

Guiomar de Grammont, que toca o Fórum das Letras de Ouro Preto, disse a mesma coisa para a PublishNews TV, que cobriu o evento em 2016. “Se, como Jesus no Horto das Oliveiras, eu tivesse tido a visão de todos os sofrimentos que eu iriar passar para colocar o Fórum das Letras de 2016 de pé, eu teria desistido antes de começar”, disse à época.

Mas teve coisas boas também. No Rio, aconteceu a primeira edição da Ler – Salão Carioca do Livro. Feito em tempo recorde e com orçamento apertado, o evento fez bonito, levando milhares de pessoas ao revitalizado Pier Mauá, no centro do Rio de Janeiro. “Considerando o tempo exíguo tempo de preparação do Salão e as limitações orçamentárias, os organizadores estão de parabéns”, testemunhou Carlo Carrenho em sua coluna no PublishNews.

Matchmaking entre editores brasileiros e editores da América Latina lotou o estande brasileiro em Frankfurt | © Divulgação / CBL
Matchmaking entre editores brasileiros e editores da América Latina lotou o estande brasileiro em Frankfurt | © Divulgação / CBL
Eventos internacionais

Em abril, o projeto Brazilian Publishers (BP), realizado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), levou 15 editoras para a Feira Internacional do Livro Infantil de Bolonha, que, juntas, obtiveram um resultado de US$ 470 mil na venda de direitos e na exportação de livros físicos. Em Frankfurt, o BP estimou que as editoras presentes no evento realizarão, nos doze meses subsequentes ao evento realizado em outubro, negócios na ordem de US$ 620 mil em vendas de direitos autorais e exportação de livros físicos. Na Feira do Livro de Guadalajara, realizada em novembro passado, o BP contabilizou 375 reuniões entre editores brasileiros e internacionais o que poderão redundar em US$ 300 mil em negócios nos doze meses subsequentes ao evento.

No outro lado do mundo, na China, a literatura infantil brasileira deu um passo importante no sentido de conquistar a Ásia, ao realizar, junto com a Feira do Livro Infantojuvenil de Xangai, o Seminário Internacional de Literatura Infantil Brasileira, com presença de azes da literatura para crianças como Marina Colasanti e Roger Mello.

[21/12/2016 10:27:00]