A corrida do Marketplace no livro
PublishNews, Eduardo Cunha*, 12/07/2016
Em artigo especialmente escrito para o PN, Eduardo Cunha esmiúça o modelo de varejo de Marketplace

O Marketplace nada mais é do que o shopping center do mundo online. O conceito não é novo, por exemplo, o Mercado Livre já trabalha com esta modalidade há um bom tempo, mas existe uma grande diferença nessa analogia que muitas vezes não é percebida pelos entusiastas de Marketplace. Em um shopping center, as pessoas vão para comprar em lojas físicas de diversas marcas e os dados dos clientes ficam nessas lojas, já no Marketplace a lógica é outra, o shopping é quem vende, então esse cliente não é seu, ele é do shopping.

O mecanismo é relativamente simples, mas precisa de tecnologia e processos para funcionar bem, ainda mais em um universo com muitos títulos. Através de uma plataforma que funciona como um hub de produtos e pedidos, você sobe seus produtos para B2W, Cnova, Walmart, entre outros, eles anunciam seus produtos para seus milhões de visitantes e cobram uma comissão por isso, que pode chegar a 20% do valor da venda – já incluso nessa comissão o custo de captação do cliente “para ele”, taxas de cartões e sistemas antifraudes.

Eu não acredito que o consumidor dê muita atenção a quem seja o fornecedor ou fabricante e respectiva loja que entregará o produto. Praticamente ninguém lê "vendido e entregue por fulano de tal", ou seja, se ele não repara no nome do fornecedor, muito provavelmente, não irá procurar o site do mesmo diretamente e fazer uma segunda compra, fidelizando-se a ele. Já fiz alguns testes com publicidade no pedido, ou cupons de descontos, sempre os resultados dessas ações foram pouco expressivos para não dizer "zero".

Repetindo: O cliente é do Shopping e não seu!

Mas até que ponto isso é ruim? Na minha visão, se você tem uma marca forte, você está ajudando o grandão ficar maior ainda. Dá para imaginar a Livraria Cultura vendendo dentro do Submarino? Ou o Submarino vendendo dentro da Saraiva? É claro que não! Por essa razão tenho dificuldade de entender a estratégia das livrarias Curitiba em vender no Marketplace da B2W. O maior patrimônio, esse e-consumidor ou e-cliente vai sempre estar no shopping, não na loja.

Considero que faria todo sentido a Saraiva, a Livraria Cultura ou qualquer outra livraria online grande abrir seus próprios marketplaces para editores e distribuidores controlarem o preço e, principalmente, o catálogo disponível, direto aos seus consumidores, aumentando assim a oferta e diminuindo gaps de atendimento – fica a dica! A Amazon já fez isso lá fora e há informações de que fará em breve por aqui. A Saraiva já se permite fazer em outras categorias, então, por que não em livros?

Pesquisa recente da PowerReview mostra que 38% dos consumidores nos EUA iniciam a busca por produtos online na Amazon.com, contra 35% dos que usam Google. Em boa parte, esse efeito só foi possível, devido aos diversos vendedores dentro do Marketplace e o conceito "loja de tudo", mesmo em uma categoria que ela não atue diretamente.

Para concluir, só faz sentido sua editora estar presente em marketplaces diretamente se sua logística é eficiente e preparada para o atendimento do cliente final, o que significa tratar vários pedidos picadinhos; se seu SAC estiver em tamanho adequado ao seu volume de solicitações, lembrando que seu SLA passará a ser de horas; sem falar, é claro, no investimento em plataforma de e-commerce robusta, capaz de integrações quase que em real time de estoque e pedidos.

Então, escolha direito seu parceiro para esse novo negócio e não coloque em todos distribuidores que dizem atender Marketplace, dê preferência aos seus bons parceiros, para evitar mais uma guerra de preço na web e a destruição desse bom canal vendas!


* Eduardo Cunha é graduado em Marketing e Administração; MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Atua há 16 anos no mercado editorial, tendo bastante experiência em toda a cadeia do livro, principalmente em sua área comercial. Iniciou na Revista dos Tribunais, passou a gerir a Vértice Books e, através de ambas, tornou-se co-fundador do Grupo BOOKPartners. Atualmente é executivo no Grupo Printlaser, na criação da divisão de livros sob demanda e, também é advisor da startup mercadoeditorial.org, além de prestar consultoria em outros players do mercado.

[12/07/2016 09:16:00]