Tusquets leva Cuenca para América Latina
PublishNews, Carlo Carrenho, 21/06/2016
Todas as filiais latino-americanas da Planeta publicarão 'Descobri que estava morto' do autor carioca

J.P. Cuenta, aposta do selo Tusquets, será lançado pela Planeta em todos os mercados da América Latina | © Divulgação / Jorge Bispo
J.P. Cuenta, aposta do selo Tusquets, será lançado pela Planeta em todos os mercados da América Latina | © Divulgação / Jorge Bispo

O mercado de livros vem se globalizando cada vez mais. Nos últimos anos, por exemplo, dois momentos decisivos foram a fusão da Penguin com a Random House e a aquisição da rede global da Harlequin pela HarperCollins. Enquanto isso, no mercado em língua espanhola, empresas como Santillana e Planeta sempre atuaram de maneira global dada a peculiaridade da fragmentação do mercado entre vários países. Nestes processos de consolidação, surge sempre o argumento de que eles podem ser benéficos para os autores ao permitir um intercâmbio mais fácil entre as filiais dos grandes grupos, favorecendo seu trânsito internacional. Mas, na prática, isto costuma funcionar bem para os escritores norte-americanos e europeus, especialmente de língua inglesa, e muito pouco para os autores de mercados menores como o Brasil. De certa forma, replica-se o imperialismo.

Neste contexto, a Tusquets Editores, selo recém-lançado no Brasil pela Planeta, mal começou e já mostra que quer mudar este quadro e usar a estrutura global da Planeta para levar a literatura brasileira para o mundo. O livro Descobri que estava morto (240 pp., R$ 39,90), do carioca J.P. Cuenca acaba de ter seus direitos negociados dentro do grupo Planeta para ser publicado em todo o continente americano.

A Planeta possui, na América Latina, quatro grandes filiais: Brasil, Cone Sul (com sede na Argentina, mas que também abrange Chile, Uruguai e Paraguai), Andina (com sede na Colombia, mas que inclui Peru, Equador e Venezuela), e América Central (que também engloba México, Caribe e Estados Unidos em espanhol). ”Depois de ter apresentado Descobri Que Estava Morto, do Cuenca, para os diretores editoriais dessas três filiais, todos se interessaram em publicar o livro pelo selo Tusquets de suas regiões”, explica Cassiano Elek Machado, diretor editorial da Planeta no Brasil. Os contratos já foram fechados e o livro de Cuenca será publicado em no máximo 12 meses, segundo o executivo. A seguir, Cassiano Elek Machado conta em uma pequena entrevista como o processo aconteceu:

PublishNews: O que foi crucial para que a Descobri Que Estava Morto gerasse interesse em todas as filiais da Planeta?

Cassiano Elek Machado: O livro teve muito appeal para os outros editores por várias razões. Em primeiro lugar, pela originalidade da trama. Os diretores editoriais da Planeta do México, Colômbia e Argentina gostaram do enredo, que parte da investigação de um fato concreto, real, que é a descoberta pelo autor de que, segundo o Estado, ele estava oficialmente morto. A cidade do Rio de Janeiro, e mais do que isso, as reformas relacionadas aos Jogos Olímpicos que levaram à destruição de partes tradicionais da cidade e ao afastamento de populações de baixa renda do centro para as periferias, também joga um papel importante no livro, um tema que também interessa a editores de outros países. O estilo de narrativa de Cuenca, que mescla a crítica social com a incursão pelo universo festivo da elite, também foi elogiado.


PN: A reação da crítica ajudou?

CEM: Sim, pois gostaram da recepção que o livro teve em Portugal, onde já foi publicado e foi muito elogiado, e também dos textos elogiosos que constam da nossa edição, como a orelha feita por Sérgio Sant'Anna e comentários positivos do espanhol Enrique Vila-Matas, do português Gonçalo M. Tavares e do brasileiro Silviano Santiago.

PN: O currículo de J.P. Cuenca como escritor fez diferença?

CEM: Sem dúvida, pois os editores também se interessaram pelo perfil do autor. Foi importante o fato de ele ter tido reconhecimentos importantes fora do país, como ter sido escolhido pela revista Granta com um dos melhores autores brasileiros abaixo dos 40 anos, ter participado de inúmeros festivais e conferências em vários países, ter sido editado em diversos idiomas etc.

PN: Este será um caminho natural para outros autores brasileiros publicados pela Tusquets?

CEM: Há um grande interesse das outras filiais da Planeta na América Latina pelo trabalho que estamos desenvolvendo por aqui. É um vínculo importante, pois a Planeta é a líder mundial em língua espanhola e domina em especial mercados muito interessantes como Argentina, México e Colômbia. Não conseguiremos sempre, mas já criamos o caminho das pedras.

PN: E a Planeta Espanha? Alguma chance de Cuenca e outros autores chegarem no Velho Continente via Tisquets Brasil?

CEM: Este seria o próximo passo. A Planeta Espanha também está analisando nossos lançamentos.

PN: A divulgação e publicação de boa literatura brasileira no exterior é um desafio pessoal para você?

CEM: A divulgação e publicação da literatura brasileira no exterior é realmente importante, mas para mim o fundamental é conseguir abrir aqui no Brasil mais espaço para a ficção de qualidade, seja aquela tradicionalmente chamada de literária ou para a que o mercado qualifica como upmarket, que é uma ficção com alguma entrada comercial, mas com qualidades narrativas. Apostar no trânsito internacional dos bons autores brasileiros é investir na melhoria do que se publica aqui, o que algumas agências literárias e editoras já perceberam e vem realizando. Para citar uma, é o caso da Companhia das Letras, que faz um trabalho consistente nisso há tempos.

PN: E o seu entusiasmo pela Tusquets, de onde vem?

CEM: O caso da Tusquets, o selo literário que a Planeta está lançando no Brasil, é interessante. Foi uma brasileira, Beatriz de Moura, quem criou na Espanha, nos anos 1960, esta editora, que veio a se converter em um ícone do mercado editorial em língua espanhola, com repercussão em toda a Europa. É, portanto, muito interessante trazermos ao Brasil o selo que esta brasileira criou no exterior, e exportarmos para o selo dela em língua espanhola um autor brasileiro publicado por nós.

[21/06/2016 11:00:00]