Privação de sono, caminhadas diárias de mais de dez quilômetros, horário rigorosamente cronometrado. Parece a descrição de algum programa tipo Survivor, mas foi a edição 2015 do Frankfurt Fellowship Programme. Visitamos 11 editoras em três cidades e tivemos mais jantares do que consigo me lembrar. E, em cada evento, pude acrescentar à minha vida relatos incríveis e apaixonados de profissionais do mercado editorial.
Quando li a notícia do a notícia do PublishNews de que as inscrições para 2016 estão abertas de que as inscrições para 2016 estão abertas [até o dia 30 de abril], revisitei as fotos daqueles dias e pensei, com saudosismo, em quanto aprendi com a experiência. Por isso, não pude evitar escrever este texto, contando um pouquinho do que vivi.
O programa começa meses antes, na corrida pelas cartas de recomendação. No ano passado, EUA e Brasil foram os países com maior número de inscritos. Tenho certeza de que as palavras de Roberto Feith, que me deu todo o apoio, e das queridíssimas Meire Dias (Bookcase), Raquel de la Concha (RDC) e Sandra Bruna foram cruciais para mostrar que, dentre tanta gente qualificada, eu merecia a vaga. E, ainda antes do embarque, os candidatos precisam também montar uma palestra sobre o mercado editorial de seu país. Ismael Borges (Nielsen) foi de imensa ajuda ao fornecer dados sobre o cenário brasileiro.

Já na Alemanha, o programa começa com uma apresentação dos "fellows" e, em seguida, um jantar tipicamente alemão com alguns funcionários da Feira de Frankfurt. Ali eu já imaginei que aquela semana seria a melhor da minha vida profissional — e não me enganei. Nosso grupo tinha uma sintonia incrível, e em que outra oportunidade eu poderia discutir com pessoas de dezesseis países sobre como funcionam as engrenagens, sob diferentes perspectivas culturais, desse mundo de escolher, produzir e vender livros?
Entre os fellows de 2015 havia editores, editores de aquisição, gerentes de direito autoral e uma agente literária, alguns voltados para o mercado infantojuvenil, outros para o literário, e ainda os que, como eu, estavam em busca do próximo best-seller. Toda essa variedade de backgrounds nos proporcionou uma visão ainda mais rica de todo o processo. Pudemos discutir sobre a lei do preço fixo (um tema tão atual para a gente aqui no Brasil e que funciona de modos tão distintos no México, na Itália e na Noruega, por exemplo), a influência do governo (que compra maciçamente na Indonésia e na Colômbia, ou que na China exige que as editoras privadas publiquem em coedição com as casas estatais), a importância (ou não) da Amazon em alguns mercados, entre outros muitos e variados assuntos.
De todas as lições que aprendi naquelas duas semanas de outubro, a principal foi: "Não se trata apenas de achar o livro certo, mas de convencer o público de que seu livro é o certo." Para mim, entrar em uma editora e reconhecer o livro de um autor querido, pegar nas mãos a edição alemã e discutir escolha de capa, estratégias de vendas e mídias sociais, lá e em outros países, valeu cada centavo de euro gasto, cada minuto passado no frio quase polar (estava bem frio para uma carioca de Bangu!).
Ainda hoje nosso grupo se fala por WhatsApp e acompanha pelo Facebook os livros que os outros estão editando e lançando. Alguns inclusive já reencontraram no Salon du Livre ou em outros eventos. A experiência não acabou no dia do embarque de volta para casa — ela vai ficar para a vida inteira.
[Nota do editor: Candidatos ao fellowship precisam ter experiência no mercado editorial, bom nível de inglês, e é desejável que tenha conhecimentos básicos da língua alemã. As inscrições podem ser feitas acessando a página do programa na internet.]
