Publicidade
Publicidade
O que é bom para as livrarias é bom para as editoras
PublishNews, Rui Campos, 03/02/2016
Para Rui Campos, o mercado editorial tem três inimigos: o curtíssimo prazo, os monopólios e os aventureiros

O desafio comum de todos que se preocupam com o futuro do Brasil é a melhoria do nosso projeto educacional: melhores escolas, mais professores melhor qualificados e remunerados, mais e melhores leitores.

Isso está diretamente ligado por uma via de mão dupla com a nossa capacidade de escrever, publicar e tornar acessível o livro. Ou seja, o ”mercado do livro”.

Pensando esse mercado vejo três inimigos: o curtíssimo prazo, os monopólios e os aventureiros.

Em tese, o que é bom para as livrarias é bom para as editoras... e vice-versa. Assim sendo, será bom também para autores e leitores. Portanto, nossos inimigos, nossos problemas, são comuns. Uma corrente possui a força do seu elo mais fraco.

O “curtíssimo prazo” seria a emergência das editoras em fazer caixa, sobreviver no dia a dia. Isso as leva a uma busca aflita por receitas rápidas: vendas direto ao governo, venda direto às escolas, vendas com preço “de custo” em feiras patrocinadas e muitas vezes bancadas com recursos públicos. (Primavera dos Livros, Feira da USP, entre outras. )

O ruim dessas emergências é desestabilizar e enfraquecer o que a médio e longo prazo deveria ser o grande sustentáculo do mercado: uma forte, ampla e diversificada rede de livrarias, com as quais as editoras poderiam contar ao longo de todo o ano.

Livrarias pagam aluguel, IPTU, impostos e muita coisa mais. Certamente poderiam ser bem mais generosas com seus clientes caso também tivessem seus custos bancados por terceiros, o que não é o caso!

No mesmo sentido, consideremos se toda a compra de livros feita hoje pelo governo às editoras, passasse a ser feita diretamente nas livrarias. Quantas centenas delas não se viabilizariam nas pequenas e médias cidades do interior do Brasil afora? E qual não seria o resultado benéfico para todos? Centenas de livrarias criando demanda por livros, criando o hábito de leitura, estimulando o encontro entre leitor e o livro.

Também precisamos nos preocupar com os monopólios. O mundo do livro, das ideias e da cultura combina com diversidade, variedade e inclusão. Nunca com “exclusividade” ou monopólio!

Agentes que anunciam a intenção de ser “a única loja de tudo“ e eliminar (como se isso fosse possível!) toda a rica e diversificada rede de livrarias com suas particularidades, visão e propostas peculiares, vai contra tudo que defendemos.

Queremos e precisamos escolher o que e onde comprar e não que um único agente faça isso por nós, de acordo com suas estratégias comerciais.

E temos os aventureiros. Mesmo considerando que todo empreendimento é uma “aventura”, entendemos como problema agentes que entram no mercado livreiro com propostas desprovidas dos requisitos básicos de sustentabilidade.

Nessa categoria temos: os aspirantes a “visionários”, que pensam obstinadamente em reinventar a roda e reformar a natureza. Claro que a humanidade conhece alguns muito bem-sucedidos. Mas são raros, muito raros. (Galileu, Leonardo, Turing, Jobs, Gates). No futuro, talvez, cada pessoa será visionária por 15 segundos?

Para esses, parece que o nosso querido e funcional livro impresso, em torno do qual a humanidade cresceu, aprendeu e evoluiu, tornou-se um estorvo!

Outros enxergam no livro apenas um atrativo para capturar um público altamente qualificado e como desprezam a remuneração com a venda de livros, o fazem sem nenhum critério mercadológico.

Isso nos faz pensar no “livro grátis”. Fornecer livros e material didático para alunos carentes é importante. Mas como uma exceção!

Assim como tudo que necessitamos para nossa subsistência: arroz, feijão, inovação tecnológica etc., também o livro, deveria ser grátis ou muito barato. Porém não existe almoço ou livro grátis!

Precisamos remunerar os produtores, senão logo nos depararíamos com a redução drástica tanto de textos, livros, autores, editores, tradutores, designers quanto de arroz, feijão, inovação tecnológica.... .

Transformar o livro em produto e distribuí-lo no mercado é a forma mais eficiente de democratiza-lo. (Ou a pior, com exceção de todas as outras...)

Já se disse que a mais importante invenção da nossa civilização não foi a roda. Foi a patente.

O que move o mundo é a necessidade. O que sustenta o mundo se movendo é o mercado.

“...Toda a inspiração que jamais precisei foi o telefonema de um produtor a pedir uma canção", disse Cole Porter.

Cada livro precisa ter seu preço, determinado pelo equilíbrio entre oferta x demanda, preço x custo. Um preço justo. No Brasil, editoras ficaram quase sem reajustes nos últimos anos e o livro está barato. Livro é um barato.

Rui Campos | © Daniel MelloO mineiro Rui Campos é dono da rede Livraria da Travessa. Sua primeira aventura no mundo do livro foi em 1975, quando inaugurou a Livraria Muro, em Ipanema, que logo firmou-se como um lugar de encontro, discussão e resistência ao regime militar. Em meados dos anos 1990, Rui inaugurou a Livraria da Travessa, na Travessa do Ouvidor, no Centro do Rio. Hoje a Travessa conta com sete lojas no Rio e uma em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Nesse espaço, Rui discute os temas relacionados ao mercado livreiro e o seus impactos na sociedade.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

Publicidade

A Alta Novel é um selo novo que transita entre vários segmentos e busca unir diferentes gêneros com publicações que inspirem leitores de diferentes idades, mostrando um compromisso com qualidade e diversidade. Conheça nossos livros clicando aqui!

Leia também
Rui Campos, finalmente, já está 'à vontade para comemorar a certeza do fim do fim do livro'
Em sua coluna de estreia no PublishNews, Rui Campos, da Livraria da Travessa, responde a Henrique Farinha, colunista que estreou no começo da semana
Publicidade

Mais de 13 mil pessoas recebem todos os dias a newsletter do PublishNews em suas caixas postais. Desta forma, elas estão sempre atualizadas com as últimas notícias do mercado editorial. Disparamos o informativo sempre antes do meio-dia e, graças ao nosso trabalho de edição e curadoria, você não precisa mais do que 10 minutos para ficar por dentro das novidades. E o melhor: É gratuito! Não perca tempo, clique aqui e assine agora mesmo a newsletter do PublishNews.

Outras colunas
Seção publieditorial do PublishNews traz obras lançadas pela Ases da Literatura e seus selos
Em 'A cartinha de Deus', a autora leva os leitores em uma jornada íntima e inspiradora, mostrando como aprendeu a lidar com os desafios impostos pela distonia
Em 'Alena Existe', publicada pela Ases da Literatura, o autor Roger Dörl desvenda os segredos do universo numa trama repleta de ficção científica, aventura e mistério
Conheça a jornada de Nick, o gatinho amoroso que ensina sobre presença e ausência no livro da autora Maurilene Bacelar, lançamento da Editora Asinha
No episódio, nossa equipe conversou com pesquisador do mercado editorial sobre o segmento da autopublicação, seu histórico, crescimento, nuances e importância; além de saber mais sobre a própria carreira de Müller
Não quero escrever o que acho que vai vender. Quero escrever o que quero tirar para fora.
Frei Betto
Escritor brasileiro
Publicidade

Você está buscando um emprego no mercado editorial? O PublishNews oferece um banco de vagas abertas em diversas empresas da cadeia do livro. E se você quiser anunciar uma vaga em sua empresa, entre em contato.

Procurar

Precisando de um capista, de um diagramador ou de uma gráfica? Ou de um conversor de e-books? Seja o que for, você poderá encontrar no nosso Guia de Fornecedores. E para anunciar sua empresa, entre em contato.

Procurar

O PublishNews nasceu como uma newsletter. E esta continua sendo nossa principal ferramenta de comunicação. Quer receber diariamente todas as notícias do mundo do livro resumidas em um parágrafo?

Assinar