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Viva a diferença. Viva a bibliodiversidade!
PublishNews, Rui Campos, 13/08/2015
Em sua coluna de estreia no PublishNews, Rui Campos, da Livraria da Travessa, responde a Henrique Farinha, colunista que estreou no começo da semana

Na sua coluna de estreia no PublishNews, Henrique Farinha nos informa sobre a missão que lhe foi pedida de comentar temas polêmicos. E se mostra bastante alinhado com a política da casa, como no caso desse texto intitulado Preço fixo, ou como buscar solução sem avaliar os problemas publicado no último dia 11. Considero que Henrique parte de uma premissa equivocada. A de que a lei existiria para "proteger um setor" e de que o consumidor iria pagar mais caro por isso.

A partir daí, seguem-se argumentos baseados em problemas atuais do mercado livreiro e editorial, porém alheios ao assunto "Lei do Preço Único" além de interpretações equivocadas sobre os efeitos atuais da lei no mercado francês e algumas comparações desconectadas (Uber, farmácias, quitandas...).

Na verdade, os reais objetivos da Lei do Preço Único ou Lei do Preço Justo, como preferimos, são: menores preços e maior oferta. Isso é a essência dessa ideia e só assim se justifica. Esse é grande objetivo. (Informações disponíveis e muito bem apresentadas nos dois recentes seminários promovidos pelo SNEL relataram considerável sucesso nos países que adotaram modalidades dessa lei).

O que sustenta o mercado do livro funcionando é a venda de best-sellers, sucesso comercial que, com sua boa ou ótima performance, financia e viabiliza todo o mercado editorial e livreiro. Sem as vendas desses best-sellers nossa bibliodiversidade não se sustenta. E é sobre o preço desses nossos sucessos que essa lei procura atuar.

O editor calcula o preço de venda (assim como acontece com o preço do jornal e das revistas, por exemplo) considerando a remuneração para cada uma das partes envolvidas na produção do livro. Digamos A + B + C + D + E...= X, sendo "X" o preço de venda (ou preço de capa do livro) e "E" a livraria ou varejista.

O Editor vende a "E" por "X" (preço de capa) menos um desconto acordado (entre 40 e 50%) num mercado saudável.

Quando "E", (principalmente empresas de e-commerce, supermercados e grandes magazines) detém forte poder de barganha e força um aumento nesse desconto, também força o editor a elevar consideravelmente "X". Repassando esse falso desconto, falso porque "X" ficou mais caro para atender a essa imposição, "E" atrai clientes e elimina a concorrência. No caso, uma diversificada e diferenciada rede de livrarias, cada uma com sua curadoria e proposta, aspectos essenciais quando se trata do universo cultural.

A preservação de "pequenas livrarias" é apenas um dos benéficos efeitos colaterais! Mas que benefício!

Sabemos da importância do livro como plataforma de transmissão da herança cultural de um povo. Assim sendo, é fundamental que a produção, distribuição e divulgação dessas manifestações estejam sempre a salvo de monopólios e que exista lugar e oportunidade para as mais diversas publicações. Inclusive textos complexos e sofisticados que não alcançam vendas expressivas.

O ponto de encontro do leitor com o texto é a livraria, física ou virtual. Cada uma com sua proposta. Pois o livreiro é, antes de tudo, um curador, um propositor. Quando um leitor vier à Travessa estará sujeito a encontros muito diferentes, mas igualmente ricos, do que os que ele terá quando for Livraria Folha Seca ou a Blooks, por exemplo!

Viva a diferença. Viva a bibliodiversidade!

Preservar esse tesouro cultural, longe de ser uma tolice de saudosistas, é defender nossa identidade cultural. É preservar e ampliar as possibilidades de escolha do leitor e evitar que ele se sujeite às políticas e estratégias de um único e enorme varejista, suas estratégias e imperativos comerciais. É proporcionar ao leitor a possibilidade de comprar o seu livro na livraria de sua escolha, por um preço que não sofreu os danos de ações especulativas e, portanto justo e equilibrado.

E isso não é utopia, obtiveram-se esses resultados nas experiências europeias.

Fazer apologia de grandes corporações monopolistas, que se gabam de eliminar a concorrência para se tornarem a única "loja de tudo", para que serve? Para parecer moderno e visionário? Visionários existem, são geniais, raros e fundamentais (Monteiro Lobato, Alan Turing, Steve Jobs etc.). Mas conservar também é fundamental e pode ser genial.

Não conheço nada mais interessante em uma cidade do que o seu comércio. Suas quitandas, mercearias e botecos. Tudo que dê vida longa a esses tesouros urbanos deveria ser tentado. Mais ainda nossas livrarias, pois não existe nenhuma igual à outra e é lá que estão armazenados os registros do nosso conhecimento e nossas visões do mundo.

Mais aspectos envolvem a proposta da "Lei do Preço Justo". É sempre importante o debate, mas claro, sem mitificar nem mistificar.

Rui Campos | © Daniel MelloO mineiro Rui Campos é dono da rede Livraria da Travessa. Sua primeira aventura no mundo do livro foi em 1975, quando inaugurou a Livraria Muro, em Ipanema, que logo firmou-se como um lugar de encontro, discussão e resistência ao regime militar. Em meados dos anos 1990, Rui inaugurou a Livraria da Travessa, na Travessa do Ouvidor, no Centro do Rio. Hoje a Travessa conta com sete lojas no Rio e uma em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Nesse espaço, Rui discute os temas relacionados ao mercado livreiro e o seus impactos na sociedade.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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Alexandre Martins Fontes
Dono da Livraria Martins Fontes Paulista
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