É Nós em Paris
PublishNews, Leonardo Neto, 24/03/2015
Editora brasileira celebra literatura marginal e faz seu primeiro lançamento em Paris

A homenagem à literatura brasileira não ficou restrita aos pavilhões do Salão do Livro de Paris e nem acabou com o evento que fechou as suas portas na última segunda. Os periféricos Ferréz e Rodrigo Ciríaco, por exemplo, foram para as periferias da capital francesas em busca de novos leitores e, sobretudo, de novos compradores para seus livros que viajaram em suas malas pessoais até Paris, como contou o jornal O Globo. Mas os representantes da literatura marginal – como ficou conhecido esse movimento literário nascido nas periferias das grandes cidades brasileiras – não visitaram apenas o afastado bairro de Saint-Denis. Eles participaram também do lançamento da versão em português do livro Je suis favela, no descoladíssimo bairro do Marais. Eu sou favela, que em francês foi editado pela Anacaona, marca o nascimento da Editora Nós. “A minha sensação é como se estivesse começando a se configurar aqui algo parecido com o que aconteceu na Flip, como se uma determinada literatura brasileira estivesse se instalando numa ‘terceira margem’, pra usar a expressão do Guimarães Rosa. E para mim, como editora, a escolha já está feita: é nesta terceira margem que eu quero atuar, editando, fazendo o que o pessoal tem chamado de literatura de guerrilha, conquistando territórios aos poucos, mas com muita luta”, define Simone Paulino, diretora editorial da Nós. Eu sou favela reúne contos de Alessandro Buzo, Ferréz, João Anzanello Carrascoza, Marçal Aquino, Marcelino Freire, Rodrigo Ciríaco, Ronaldo Bressane, Sacolinha e Victoria Saramago organizados pela editora francesa Paula Anacaona.

“Nascer na primavera, em Paris, é sensacional”, disse a editora. “Acho que eu sempre tive uma espécie de premonição de que algo magnífico me aconteceria em Paris, mesmo sendo meio inverossímil em se tratando de alguém que veio da periferia do mundo. No ano passado, conheci o Leonardo Tonus [um dos curadores da programação brasileira no Salão do Livro de Paris] na Feira do Livro de Frankfurt. Naquele dia, ele me convidou para fazer uma palestra na Sorbonne, o convite mais extraordinário que recebi na vida! Quando, em janeiro, tomei a decisão de fechar um ciclo e abrir outro [Simone deixou a direção editorial da Editora DSOP para abrir a Nós], contei para o Leonardo os meus planos e ele me fez outro convite, mais inacreditável ainda: lançar a Editora Nós também na Primavera Literária Brasileira!”, relembra entusiasmada.

Para Simone, que ainda está em Paris e de lá segue para a Feira de Bolonha, que começa no próximo dia 30, as homenagens ao Brasil devem se prolongar. “O Salão foi muito além do que acontece dentro do salão especificamente”, observou. Na noite de hoje, por exemplo, a Librairie Portugaise & Brésilienne, uma das livrarias parisienses especializadas na literatura lusófona, recebe Fernando Morais e Luiz Ruffato para discutirem a literatura brasileira no século XXI. Amanhã (25), começa a Printemps Littéraire Brésilien, evento organizado pela Universidade de Sorbonne, também com curadoria de Leonardo Tonus. Para Tonus, a homenagem que o Brasil está recebendo na França já é motivo de comemoração, antes mesmo do fechamento dos balanços oficiais do Salão. “Já podemos falar de sucesso. Estou satisfeitíssimo com essa participação do Brasil tanto em termos de frequentação do público francês, como também, do ponto de vista dos autores convidados. Eles também ficaram muito felizes com os debates, com os encontros. Praticamente todos os estandes estavam lotados. As pessoas queriam realmente conversar”, disse à RFI, rádio pública francesa. O desafio agora, aponta o curador, é manter a visibilidade da literatura brasileira durante o resto do ano. “Os diversos programas de apoio à tradução existentes atualmente vão permitir ao menos, durante esse ano, essa visibilidade. Um exemplo é o programa do Centre National du Livre, um dos parceiros do Salão”, avalia Tonus.

[24/03/2015 00:00:00]